CONSIDERAÇÕES
NECESSÁRIAS SOBRE O “APELO” PARA CONVERSÕES – PARTE II
Atos 2.37-41
Pr. Gilson Soares dos Santos
INTRODUÇÃO
Já vimos, na lição anterior, que, segundo
a história, a prática do “apelo” para decisões não é tão antiga assim, datando
do ano de 1820. Também vimos como aconteciam as decisões encontradas nas
Escrituras.
Agora, em nossa lição, iremos tecer
algumas considerações necessárias sobre este recurso de “apelar” por decisões.
I_ CONSIDERAÇÕES NECESSÁRIAS SOBRE O “APELO”
1.1_ Não é errado fazer convite para
arrependimento
Há muitos que recriminam os pregadores que
fazem o convite para as pessoas vierem à frente tomando decisão. Essa prática,
em si, não é errada.
Mark Dever e Paul Alexander, no Livro Deliberadamente Igreja, especialmente
no Capítulo Evangelização com
Responsabilidade escrevem:
Sempre que apresentamos o evangelho, quer num
culto público aos domingos, quer numa conversa pessoal durante a semana,
precisamos convidar as pessoas a que se arrependam e creiam no evangelho para
que nossa apresentação das boas novas seja completa. Quão boas são as boas
novas, se nunca digo às pessoas como elas podem responder ao evangelho e o que
precisam fazer em relação a ele? Precisamos convidar as pessoas a se
arrependerem e crerem.(1) – Mark Dever
Convidar pessoas para que se arrependam dos seus pecados,
e confessem a Cristo como Senhor publicamente, não é um recurso pecaminoso.
1.2_ O apelo para decisão precisa ser feito
com sabedoria
Vejamos algumas orientações que Mark Dever
e Paul Alexander nos traz no livro já citado:
a)_ Fazer o ouvinte repetir uma oração de
conversão nem sempre faz dele um convertido
Muitas vezes os cristãos compartilham o
evangelho com alguém e o estimulam a fazer uma oração previamente escrita. (As
pessoas podem realmente se arrepender e crer dessa maneira). Em seguida, o
evangelista bem intencionado encoraja o “novo crente”, dizendo: Se você fez
essa oração com sinceridade, como que expressando seus próprios sentimentos,
parabéns! Agora, você é um filho de Deus”. No entanto, fazer uma oração nem a
sinceridade nunca são apresentados nas Escrituras como um alicerce para a
segurança da salvação. Jesus nos ensina a não tomarmos a oração e a sinceridade
como segurança da salvação, e sim as ações – o fruto de nossas vidas (Mt
7.15-27; Jo 15.8; II Pe 1.5-12). O Novo Testamento nos ensina a considerarmos a
santidade de conduta, o amor pelos outros e a pureza de doutrina como os
indicadores de nossa segurança de salvação (I Ts 3.12-13; I Jo 4.8; Gl 1.6-9;
Gl 5.22-25; I Tm 6.3-5). 2) – Mark Dever
b)_ Alguém que vem a frente depois de uma
pregação nem sempre pode ser considerado convertido
Isso também se aplica àquele que vem à frente
depois de uma pregação na igreja. Muitas vezes, pessoas vêm à frente depois de
um sermão, indicando assim uma “decisão por Cristo”; e tais pessoas são logo
recebidas como membros da igreja! Não se pode discernir nessas pessoas nenhum
fruto de salvação, embora se admita (erroneamente) que ela se arrependeu e creu
verdadeiramente, porque expressou abundância de emoções , veio à frente e fez
uma oração sincera.(3) – Mark Dever
Precisamos compreender que as pessoas podem
fazer orações sinceras e vir à frente, depois do sermão, sem arrependerem-se a
crerem em Jesus. Isso tem sido feito durante dois mil anos. O escritor da
Epístola aos Hebreus nos adverte que muitas pessoas tinham desfrutado de
experiências espirituais genuínas e que tais experiências não eram coisas
“pertencentes à salvação” (Hb 6.4-9; cf. II Pe 1.6-10). Ele também nos instrui
que a fé, a esperança e o amor são critérios mais confiáveis (Hb 6.9-12). O
fruto de obediência é a única evidência externa que a Bíblia nos recomenda usar
para discernirmos se uma pessoa é ou não convertida. (Tg 2.14-26; I Jo 2.3).(4) – Mark Dever
c)_ Aumentar nosso rol de membros não
significa que houve acréscimo no número de salvos
Seremos mais sábios se acabarmos com práticas
evangelísticas ambíguas do que se continuarmos a confundir as pessoas quanto à
natureza da resposta salvadora. É certo que permitir a ambiguidade pode
aumentar o nosso rol de membros. Mas isso engana as pessoas não salvas,
levando-as a pensar que são salvas – esse é o mais cruel de todos os embustes.
Também enfraquece a pureza de nossas igrejas e de seu testemunho corporativo,
permitindo a aceitação de membros que são cristãos professos, mas que, mais
tarde, revelam não serem cristãos, porque retornam a estilos de vida que não
podem caracterizar um cristão verdadeiro convertido.(5) – Mark Dever
1.3_ Pregadores que não usam esse recurso não
estão pecando
Conquanto seja lícito fazer apelo, com
sabedoria, é claro, os pregadores que não usam deste recurso não estão pecando.
Existem algumas razões para se pensar assim:
a)_ Às vezes acabamos constrangendo as
pessoas a uma decisão que não provém do novo nascimento
Sem dúvida, é um erro exercer pressão direta
sobre a vontade. Desejo esclarecer o que digo. O homem constitui-se de mente,
afetos e vontade; e meu argumento é que ninguém deve fazer pressão direta sobre
a vontade. Sempre deveríamos avizinhar-nos da vontade por intermédio da mente,
do intelecto, e então, através das afeições. A ação da vontade deveria ser
determinada por essas influências. A minha base bíblica para assim asseverar é
a epístola de Paulo aos Romanos 6:17, onde o apóstolo declara: “Mas graças a
Deus porque, outrora escravos do pecado, contudo viestes a obedecer de coração
à forma de doutrina a que fostes entregues”.(6) – Lloyd-Jones
Ao conferirmos o texto de Rm 6.17, o
apóstolo diz que as pessoas obedecerem de
coração à doutrina.
b) Às vezes o apelo insistente exerce pressão
e a pessoa vem à frente para livrar-se do constrangimento
Pressão demasiada sobre a vontade —
inevitavelmente há algum deste elemento em toda a pregação, mas refiro-me aqui
à pressão em excesso — ou pressão por demais direta, é algo perigoso,
porquanto, no fim, poderá produzir uma condição na qual aquilo que determinou a
reação favorável de um indivíduo que “veio à frente”, não foi tanto a própria
Verdade, mas, talvez, a personalidade do evangelista, ou então algum vago temor
geral, ou alguma outra forma de influência psicológica qualquer.(7) – Lloyd-Jones
c)_ Ás vezes o apelo faz pessoas virem à
frente, após uma pregação ilegítima
O pregador não pregou a Palavra. Não houve
pregação do Evangelho, apenas distorções e uma pregação sem base nas
Escrituras. Na hora do “apelo” as pessoas veem à frente, porém, se a salvação é
por meio do Evangelho genuíno, o fato das pessoas aceitarem o convite não as
torna salvas. Por quê? Porque ninguém será salvo por meio de um falso
evangelho.
d)_ Muitos pregadores que foram instrumentos
de Deus na pregação do Evangelho não usaram deste recurso
Há um número muito grande de pregadores
cujos testemunhos demonstram compromisso com a Palavra e que pregaram o
evangelho com sinceridade, porém não usaram desta prática, a exemplo de John
Wesley, George Whitefield. D. M. Lloyd-Jones, João Calvino, Martinho Lutero, D.
L. Moody e outros na atualidade.
e)_ Os que forem realmente vivificados pela
ação do Espírito Santo, através da pregação, tomarão a iniciativa
É melhor que, movidos pelo Espírito Santo,
as pessoas tomem a iniciativa de confessarem perante outros sua decisão por
Cristo, do que serem forçadas psicologicamente, emocionalmente a isto. Pois
aqueles que vêm movidos pela emoção, sem um regenerar do Espírito, não
permanecerão.
CONCLUSÃO
Nossa conclusão é: se alguém quer fazer
apelo, faça-o com sabedoria, sabendo que, muitas das vezes, os que vêem a
frente podem não ser verdadeiramente convertidos. Os que usam desta prática não
podem condenar os que a evitam. Por outro lado, se alguém apresenta suas razões
para não fazer apelo diretamente, mas descansa na soberania de Deus, que assim
o faça. Porém não recrimine aqueles que recorrem a este expediente e o usam com
sabedoria.
BIBLIOGRAFIA
(1)_ DEVER,
Mark. ALEXANDER, Paul. Deliberadamente
igreja. Edificando seu ministério sobre o evangelho. São José dos Campos:
Fiel. 2008. P64.
(2)_(3)_ Idem.
P65.
(4)_(5)_
Idem. P66.
(6)_(7)_
LLOYD-JONES, David Martin. Pregação e
Pregadores. São José dos Campos: Fiel. 1998. P115.