O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

14 de maio de 2020

Considerações necessárias sobre o "apelo" para conversões


CONSIDERAÇÕES NECESSÁRIAS SOBRE O “APELO” PARA CONVERSÕES – PARTE I
Atos 2.37-41

Pr. Gilson Soares dos Santos

INTRODUÇÃO

     É comum, na maioria das igrejas evangélicas, a prática de convidar as pessoas para virem à frente comprovando que estão tomando uma decisão por Cristo Jesus, após ouvirem a pregação da Palavra. Essa prática é comumente chamada de apelo.
     Várias expressões são utilizadas nessa convocação: “vir à frente”, “vir ao altar”, “momento de conversão”, “entregar a vida a Jesus”, etc.
     Este é um assunto que tem ganhado proeminência porque pregadores que não fazem “apelo” têm sido censurados pelas pessoas. Por outro lado, pregadores que fazem “apelo” são acusados de estar “forçando a barra”.
     Sobre isto trataremos neste estudo.

I_ APELO PARA DECISÕES: AS ORIGENS DESSA PRÁTICA

     Comecemos analisando, historicamente, quando começou a prática de convidar pessoas à frente para aceitarem a Cristo como Salvador.

1.1_ Charles Finney e o assento dos ansiosos

     A prática de convocar as pessoas para virem à frente aceitando a Cristo tem seu início com Charles Finney. Ele achava de grande importância que as pessoas tomassem uma posição perante Deus, após ouvirem a pregação do Evangelho.
     Quem nos ajudará a compreender a origem dessa prática em Charles Finney, é o pastor congregacional D. M. Lloyd-Jones, no seu livro Pregação e Pregadores, na parte que trata sobre apelando por decisões. Leiamos o que ele escreve:

Esse costume foi introduzido bastante cedo no século passado, mais cedo que outras coisas que tenho mencionado. Realmente foi introduzido por Charles G. Finney na década de 1820. Foi ele quem deu início ao chamado “assento dos ansiosos”, aquela “nova medida” através da qual se apelava às pessoas que se decidissem no mesmo instante. Tudo fazia parte essencial de seu método, abordagem e maneira de pensar; e naqueles dias a questão provocou muitas controvérsias. (1). – Lloyd-Jones

     Ainda podemos encontrar na Teologia Sistemática de Franklin Ferreira e Allan Myatt um pouco dessa história.

Reagindo contra o calvinismo, que predominava na teologia americana nos séculos XVII e XVIII, Charles Finney mudou a ênfase da pregação doutrinária para uma ênfase em fazer com que as pessoas “tomassem uma decisão”, ou que fizessem uma escolha de seguir a Cristo. (2). – Franklin Ferreira

1.2_ Uma prática que virou regra

     Com o passar do tempo, a prática de convidar pessoas para virem à frente, entregando a vida a Jesus, virou regra.
     O uso desse auxílio para aumentar o número de conversos foi propagado e tornou-se obrigatório, pois muitos ministérios bem sucedidos (em números) a utilizaram, a exemplo do Ministério de Billy Graham.
     Muitos pregadores são cobrados quando não usam desse recurso. Um pregador que manifesta seu descontentamento com as cobranças que lhe foram feitas é o pregador David Martin Lloyd-Jones:

Algumas pessoas, em diversas ocasiões, ao encerrar-se alguma reunião, têm-se aproximado de mim a fim de me chamarem a atenção, passando-me às vezes uma verdadeira reprimenda, porque eu não fizera um apelo imediato para que as pessoas se decidissem. Algumas dessas pessoas chegam mesmo ao extremo de afirmar que com isso eu cometo um pecado, que fora criada uma oportunidade excelente pela minha própria pregação, mas eu não me aproveitara da mesma. E então costumam dizer: “Tenho certeza de que se o senhor ao menos tivesse feito um apelo, teria conseguido um grande número de decisões” — ou algo similar a esse argumento. (3). – Lloyd-Jones

     Ele comenta que outros pastores haviam sofrido a mesma reprimenda:

Em adição a isso, certo número de ministros me tem dito, nos últimos dez anos mais ou menos, que no fim do culto certas pessoas vêm dizer-lhes que eles não pregaram o Evangelho, simplesmente por não terem feito um apelo. Isso lhes havia acontecido tanto em cultos matinais como em cultos noturnos. E já havia sucedido não somente durante cultos de evangelização, mas igualmente em outras reuniões, cujo intuito não é primariamente evangelístico. Não obstante, por não ter havido qualquer “apelo”, haviam sido acusados de não terem pregado o Evangelho. De certa feita conheci três homens, três pastores, que virtualmente já tinham sido contratados para pastorear em determinadas Igrejas, e que estavam a ponto de serem aceitos quando alguém, de repente, lhes fizera a pergunta: Eles costumavam fazer um “apelo” no fim de cada sermão? E posto que aqueles três homens em particular haviam respondido na negativa, não foram aceitos, afinal, ficando cancelada a decisão daquelas Igrejas. (4). – Lloyd-Jones

II_ AS DECISÕES NAS ESCRITURAS

     É bom recorrermos às Escrituras, principalmente no Novo Testamento, para contemplarmos como as decisões aconteciam.

2.1_ Zaqueu levantou-se e tomou a iniciativa (Lc 19.1-10)

Versículos destacados: “8 Entrementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais. 9 Então, Jesus lhe disse: Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão.” (Lc 19.8,9).

     Zaqueu não se tornou salvo porque resolveu restituir a quem tinha defraudado, tampouco tornou-se salvo por haver decidido dar metade da sua riqueza aos pobres. Ele tomou essas decisões porque dentro dele foi gerada a salvação. Obras de natureza prática seguiram-se à alegria da salvação.
    Veja que a iniciativa partiu de Zaqueu, após ter surgido nele a nova vida. Jesus não o forçou a tomar decisão, porque isso tem que nascer de dentro para fora.

2.2_ O ladrão na cruz, arrependido, tomou a iniciativa (Lc 23.39-43)

Versículos destacados: 42 E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. 43 Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.” (Lc 23.42,43). (ARA).

     O ladrão arrependido toma a iniciativa de fazer um pedido a Jesus. Sua atitude revela que algo já havia acontecido dentro dele. Não foi uma imposição de fora para dentro, mas uma decisão de dentro para fora.
     Sua fé era tanta que acreditou num rei moribundo, que estava morrendo da mesma forma que ele. Porém o novo nascimento faz a pessoa crer mesmo quando tudo em volta parece perdido.
     Quando isto acontece, a pessoa toma a iniciativa e confessa a sua crença, pois o Evangelho é o poder de Deus.

2.3_ Em Atos 2, após a pregação de Pedro, as pessoas tomaram a iniciativa (At 2.37-41)

Versículos destacados: “37 Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? 38 Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.” (At 2.37,38). (ARA).

Os ouvintes de Pedro tomaram estas palavras como referência pessoal a eles. Muitos deles, talvez, tinham tacitamente concordado com o ato dos seus líderes ao matarem a Jesus. A revelação que Pedro lhes fizera da posição e da dignidade de Jesus chegou a eles como choque drástico, e compungiu-se-lhes o coração com aquilo que se lhes dissera.(5)

     Veja que, tocados pela Palavra, entendendo a condição de pecadores na qual se encontravam os ouvintes tomam a iniciativa e pergunta que faremos irmãos?

2.4_ O carcereiro tomou a iniciativa por meio de uma pergunta (At 16.29-32)

Versículos destacados: “30 Depois, trazendo-os para fora, disse: Senhores, que devo fazer para que seja salvo? 31 Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.” (At 16.30,31). (ARA)


2.5_ Quando Paulo pregou no Areópago, não fica especificado como as pessoas se agregaram (At 17.32-34

Versículo destacado: 34 Houve, porém, alguns homens que se agregaram a ele e creram; entre eles estava Dionísio, o areopagita, uma mulher chamada Dâmaris e, com eles, outros mais.” (At 17.34). (ARA)

CONCLUSÃO

     Nessa primeira parte de nosso estudo sobre a prática do apelo, aprendemos a origem dessa prática, vimos o quanto ela tornou-se quase uma obrigação após a pregação, e ainda vimos como as conversões aconteciam nos tempos do Novo Testamento.

BIBLIOGRAFIA

(1)_(3)_(4)_ LLOYD-JONES, David Martin. Pregação e Pregadores. São José dos Campos: Fiel. 1998. P114.

(2)_ FERREIRA, Franklin. MYATT, Alan. Teologia Sistemática. Uma Análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova. 2007. P782.

(5)_ MARSHALL, I. Howard. Atos: Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida Nova. 1982. P80.