O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

15 de junho de 2020

Considerações necessárias sobre o "apelo" para conversões - Parte II


CONSIDERAÇÕES NECESSÁRIAS SOBRE O “APELO” PARA CONVERSÕES – PARTE II
Atos 2.37-41

Pr. Gilson Soares dos Santos

INTRODUÇÃO

     Já vimos, na lição anterior, que, segundo a história, a prática do “apelo” para decisões não é tão antiga assim, datando do ano de 1820. Também vimos como aconteciam as decisões encontradas nas Escrituras.
     Agora, em nossa lição, iremos tecer algumas considerações necessárias sobre este recurso de “apelar” por decisões.

I_ CONSIDERAÇÕES NECESSÁRIAS SOBRE O “APELO”

1.1_ Não é errado fazer convite para arrependimento

     Há muitos que recriminam os pregadores que fazem o convite para as pessoas vierem à frente tomando decisão. Essa prática, em si, não é errada.
     Mark Dever e Paul Alexander, no Livro Deliberadamente Igreja, especialmente no Capítulo Evangelização com Responsabilidade escrevem:

Sempre que apresentamos o evangelho, quer num culto público aos domingos, quer numa conversa pessoal durante a semana, precisamos convidar as pessoas a que se arrependam e creiam no evangelho para que nossa apresentação das boas novas seja completa. Quão boas são as boas novas, se nunca digo às pessoas como elas podem responder ao evangelho e o que precisam fazer em relação a ele? Precisamos convidar as pessoas a se arrependerem e crerem.(1) – Mark Dever

     Convidar pessoas para que se arrependam dos seus pecados, e confessem a Cristo como Senhor publicamente, não é um recurso pecaminoso.

1.2_ O apelo para decisão precisa ser feito com sabedoria

     Vejamos algumas orientações que Mark Dever e Paul Alexander nos traz no livro já citado:

a)_ Fazer o ouvinte repetir uma oração de conversão nem sempre faz dele um convertido

Muitas vezes os cristãos compartilham o evangelho com alguém e o estimulam a fazer uma oração previamente escrita. (As pessoas podem realmente se arrepender e crer dessa maneira). Em seguida, o evangelista bem intencionado encoraja o “novo crente”, dizendo: Se você fez essa oração com sinceridade, como que expressando seus próprios sentimentos, parabéns! Agora, você é um filho de Deus”. No entanto, fazer uma oração nem a sinceridade nunca são apresentados nas Escrituras como um alicerce para a segurança da salvação. Jesus nos ensina a não tomarmos a oração e a sinceridade como segurança da salvação, e sim as ações – o fruto de nossas vidas (Mt 7.15-27; Jo 15.8; II Pe 1.5-12). O Novo Testamento nos ensina a considerarmos a santidade de conduta, o amor pelos outros e a pureza de doutrina como os indicadores de nossa segurança de salvação (I Ts 3.12-13; I Jo 4.8; Gl 1.6-9; Gl 5.22-25; I Tm 6.3-5). 2) – Mark Dever

b)_ Alguém que vem a frente depois de uma pregação nem sempre pode ser considerado convertido

Isso também se aplica àquele que vem à frente depois de uma pregação na igreja. Muitas vezes, pessoas vêm à frente depois de um sermão, indicando assim uma “decisão por Cristo”; e tais pessoas são logo recebidas como membros da igreja! Não se pode discernir nessas pessoas nenhum fruto de salvação, embora se admita (erroneamente) que ela se arrependeu e creu verdadeiramente, porque expressou abundância de emoções , veio à frente e fez uma oração sincera.(3) – Mark Dever

Precisamos compreender que as pessoas podem fazer orações sinceras e vir à frente, depois do sermão, sem arrependerem-se a crerem em Jesus. Isso tem sido feito durante dois mil anos. O escritor da Epístola aos Hebreus nos adverte que muitas pessoas tinham desfrutado de experiências espirituais genuínas e que tais experiências não eram coisas “pertencentes à salvação” (Hb 6.4-9; cf. II Pe 1.6-10). Ele também nos instrui que a fé, a esperança e o amor são critérios mais confiáveis (Hb 6.9-12). O fruto de obediência é a única evidência externa que a Bíblia nos recomenda usar para discernirmos se uma pessoa é ou não convertida. (Tg 2.14-26; I Jo 2.3).(4) – Mark Dever

c)_ Aumentar nosso rol de membros não significa que houve acréscimo no número de salvos

Seremos mais sábios se acabarmos com práticas evangelísticas ambíguas do que se continuarmos a confundir as pessoas quanto à natureza da resposta salvadora. É certo que permitir a ambiguidade pode aumentar o nosso rol de membros. Mas isso engana as pessoas não salvas, levando-as a pensar que são salvas – esse é o mais cruel de todos os embustes. Também enfraquece a pureza de nossas igrejas e de seu testemunho corporativo, permitindo a aceitação de membros que são cristãos professos, mas que, mais tarde, revelam não serem cristãos, porque retornam a estilos de vida que não podem caracterizar um cristão verdadeiro convertido.(5) – Mark Dever

1.3_ Pregadores que não usam esse recurso não estão pecando

     Conquanto seja lícito fazer apelo, com sabedoria, é claro, os pregadores que não usam deste recurso não estão pecando. Existem algumas razões para se pensar assim:

a)_ Às vezes acabamos constrangendo as pessoas a uma decisão que não provém do novo nascimento

Sem dúvida, é um erro exercer pressão direta sobre a vontade. Desejo esclarecer o que digo. O homem constitui-se de mente, afetos e vontade; e meu argumento é que ninguém deve fazer pressão direta sobre a vontade. Sempre deveríamos avizinhar-nos da vontade por intermédio da mente, do intelecto, e então, através das afeições. A ação da vontade deveria ser determinada por essas influências. A minha base bíblica para assim asseverar é a epístola de Paulo aos Romanos 6:17, onde o apóstolo declara: “Mas graças a Deus porque, outrora escravos do pecado, contudo viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues”.(6) – Lloyd-Jones

     Ao conferirmos o texto de Rm 6.17, o apóstolo diz que as pessoas obedecerem de coração à doutrina.

b) Às vezes o apelo insistente exerce pressão e a pessoa vem à frente para livrar-se do constrangimento

Pressão demasiada sobre a vontade — inevitavelmente há algum deste elemento em toda a pregação, mas refiro-me aqui à pressão em excesso — ou pressão por demais direta, é algo perigoso, porquanto, no fim, poderá produzir uma condição na qual aquilo que determinou a reação favorável de um indivíduo que “veio à frente”, não foi tanto a própria Verdade, mas, talvez, a personalidade do evangelista, ou então algum vago temor geral, ou alguma outra forma de influência psicológica qualquer.(7) – Lloyd-Jones

c)_ Ás vezes o apelo faz pessoas virem à frente, após uma pregação ilegítima

     O pregador não pregou a Palavra. Não houve pregação do Evangelho, apenas distorções e uma pregação sem base nas Escrituras. Na hora do “apelo” as pessoas veem à frente, porém, se a salvação é por meio do Evangelho genuíno, o fato das pessoas aceitarem o convite não as torna salvas. Por quê? Porque ninguém será salvo por meio de um falso evangelho.

d)_ Muitos pregadores que foram instrumentos de Deus na pregação do Evangelho não usaram deste recurso

     Há um número muito grande de pregadores cujos testemunhos demonstram compromisso com a Palavra e que pregaram o evangelho com sinceridade, porém não usaram desta prática, a exemplo de John Wesley, George Whitefield. D. M. Lloyd-Jones, João Calvino, Martinho Lutero, D. L. Moody e outros na atualidade.

e)_ Os que forem realmente vivificados pela ação do Espírito Santo, através da pregação, tomarão a iniciativa

     É melhor que, movidos pelo Espírito Santo, as pessoas tomem a iniciativa de confessarem perante outros sua decisão por Cristo, do que serem forçadas psicologicamente, emocionalmente a isto. Pois aqueles que vêm movidos pela emoção, sem um regenerar do Espírito, não permanecerão.

CONCLUSÃO

     Nossa conclusão é: se alguém quer fazer apelo, faça-o com sabedoria, sabendo que, muitas das vezes, os que vêem a frente podem não ser verdadeiramente convertidos. Os que usam desta prática não podem condenar os que a evitam. Por outro lado, se alguém apresenta suas razões para não fazer apelo diretamente, mas descansa na soberania de Deus, que assim o faça. Porém não recrimine aqueles que recorrem a este expediente e o usam com sabedoria.

BIBLIOGRAFIA

(1)_ DEVER, Mark. ALEXANDER, Paul. Deliberadamente igreja. Edificando seu ministério sobre o evangelho. São José dos Campos: Fiel. 2008. P64.

(2)_(3)_ Idem. P65.

(4)_(5)_ Idem. P66.

(6)_(7)_ LLOYD-JONES, David Martin. Pregação e Pregadores. São José dos Campos: Fiel. 1998. P115.