O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

15 de junho de 2017

Salmos e Hinos: O Pioneiro Esquecido


SALMOS E HINOS: O PIONEIRO ESQUECIDO

Luciana Barbosa*

Às vezes questiono acerca da história do Salmos e Hinos no contexto que me encontro desde criança até os dias de hoje, onde esse belíssimo hinário é, e sempre foi esquecido e desvalorizado pelos cristãos, principalmente os que fazem parte das Igrejas Congregacionais do Brasil em suas diversas denominações. Acredito que isto aconteça por desconhecimento de sua história e origem. E para começar esse artigo gostaria de contar uma história sobre este hinário e os hinos que compõem essa coletânea tem contribuído para levar almas aos pés de Cristo.

Conta-se que certo missionário Evangélico quando se encontrava em Sião conheceu um descendente de certa tribo habitando nas montanhas, na maior selvageria e sem qualquer conhecimento da religião cristã. Sentiu desejo de ir até lá e ensinar-lhes o amor de Deus. Seus amigos tentaram dissuadi-lo da ideia. De joelhos, ele procurou a resposta e a obteve, ouvindo uma voz, como vinda do céu, que dizia: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura." Entendeu ser essa a vontade de Deus. Durante a viagem, sentiu-se encorajado com as palavras que ouvia em seu coração: "Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos." Depois de longa viagem, chegou ao lugar desejado. Viu-se cercado de uma multidão de selvagens aguerridos, ameaçadores, armados de flechas e lanças. O missionário não temeu. Tomando seu violino, afinou-o e começou a tocar e a cantar o belo hino que assim começa "Saudai o nome de Jesus!" número 231 do Salmos e Hinos. Enquanto cantava e tocava, mantinha-se de olhos cerrados. Ao chegar na última quadra do hino que diz: "Ó raças, tribos e nações, ao Rei divino honrai", abriu os olhos e viu, com grande alegria, que os selvagens haviam depositado suas armas no chão e permaneciam extasiados, comovidos com a música que ouviam. Fazendo-se entender, pediram ao missionário que permanecesse com eles, o que ele aceitou. Aprendeu-lhes a língua e começou a ensinar-lhes a Salvação em Jesus Cristo. E muitas vezes cantaram com profunda gratidão: Saudai o nome de Jesus!

Quando falamos do Salmos e Hinos somos levados automaticamente a associa-lo a figura de Robert Kalley e sua leal esposa Sarah Kalley os fundadores da primeira igreja evangélica em língua portuguesa fundada no Brasil no ano de 1855 na cidade do Rio de Janeiro, a igreja Fluminense que encontra-se lá até os dias de hoje. No inicio eram 50 salmos e hinos que foram usados pela primeira vez em 17 de novembro de 1861, seis dias após sua chegada ao Brasil. Desta maneira, "Salmos e Hinos" transformou-se na gênese de uma espécie de "teologia comum" às diversas denominações, servindo por décadas como único instrumento litúrgico em igrejas e congregações muitas vezes dirigidas dos diversos tipos de governo eclesiástico, bem como posições teológicas conflitantes (formas de batismo; predestinação x livre arbítrio; ceia memorialista x ceia com presença real;etc). Aqui abro um parênteses, onde destaco a IPB e Batistas, quando observamos a história do hinário das igrejas Presbiterianas (Novo cântico) e o das igrejas Batistas (Cantor Cristão) concluímos que estes hinários tiveram como base o Salmos e hinos.

A história do novo cântico nos conta que o hinário usado pela Igreja Presbiteriana do Brasil era o “Salmos e hinos”. Mas, por julgarem-no passível de correções, no aspecto linguístico e doutrinário o concilio determinou a criação de um hinário que melhor servisse a IPB e outras igrejas de denominações irmãs. Foi criado um hinário provisório com hinos do reverendo Jerônimo Gueiros, Antônio Almeida e de outros autores, sendo utilizado nas igrejas do Norte e Nordeste. A preocupação e o zelo pela Escritura levaram estes reverendos a cristalizar no coração da IPB, uma de suas maiores necessidades, isto é, cantar com mais convicção e fidelidade às doutrinas bíblicas. Hoje a IPB tem seu hinário próprio, porém até esse dia chegar utilizava-se o Salmos e hinos. 

Já o cantor cristão não é muito diferente, foi o segundo hinário dos evangélicos brasileiros. Foi publicado em 1891 e sua primeira versão continha apenas 16 hinos; já em 1921 saiu a 17° edição com 571 hinos e nos diz a história dos batistas que esse valor, naturalmente deve ser dado também aos “Salmos e hinos”, pois, beberam dessa fonte durante anos.

Infelizmente hoje não é isso que acontece, a preferência é pelo que é dos outros e muitas vezes tais músicas professam aquilo que não professamos como nossa confissão de fé. Hoje mais de 150 anos, e com mais de 500 hinos próprios, um mais belo que o outro são negligenciados, busca-se outras fontes que muitas vezes derramam águas sujas. Até quando isso irá acontecer? Até quando o pioneiro ficará no esquecimento? E para concluir da melhor forma possível, deixo o hino que foi citado no inicio, que conduziu o povo ao arrependimento e a busca de Deus.

COROAI 231

1. Saudai o nome de Jesus! 
Arcanjos, adorai! 
Ao Filho do bendito Deus, 
Com glória coroai! 
2. Ó redimida geração 
Do bom e eterno Pai, 
Ao grande Autor da salvação 
Com glória coroai! 
3. Ó perdoados cujo amor 
Bem triunfante vai, 
Ao Deus varão, Conquistador, 
Com glória coroai! 
4. Ó raças, tribos e nações, 
Ao Rei divino honrai! 
A Quem quebrou os vis grilhões 
Com glória!

Salve o nosso Salmos e Hinos!


5 de junho de 2017

Algo sobre o Pietismo


ALGO SOBRE O PIETISMO

Pr. Gilson Soares dos Santos

     Atendendo a pedidos, estamos postando hoje sobre o Pietismo. Veremos o que é, onde começou, com quem começou, quais os principais ensinos e representantes.

1_ O que é o Pietismo

     “O Pietismo alemão denota um movimento surgido na Igreja Luterana, na segunda metade do século 17, o qual teve como uma de suas características mais evidentes, a reação contra um cristianismo que sob muitos aspectos se tornara vazio, tendo uma prática dissociada da genuína doutrina bíblica.”[1].

     O Pietismo também pode ser considerado “Uma tendência que volta a ocorrer dentro da história da Cristandade para enfatizar mais as praticalidades da vida cristã e menos as estruturas da teologia ou da ordem eclesiástica.”[2].

     “O pietismo era o movimento de renovação que pretendia completar a Reforma protestante iniciada por Martinho Lutero. Seus principais pensadores e líderes eram clérigos luteranos que sinceramente admitiam os princípios protestantes fundamentais sola Scriptura, sola gratia et ftdes e o sacerdócio de todos os crentes.”[3]

     “A Igreja Luterana Alemã labutava, no fim do século XVII, sob dificuldades de muitos tipos. Sua obra era rigorosamente confinada pelos príncipes dos muitos Estados soberanos que havia na Alemanha. Muitos dos seus ministros pareciam interessar-se mais por disputas filosóficas e ostentação retórica do que pelo encorajamento das suas congregações. A Guerra dos Trinta Anos (1618-48), travada ostensivelmente por motivos religiosos, tinha criado uma desconfiança generalizada com relação à vida eclesiástica em geral.”[4].

     Portanto, o surgimento do Pietismo foi na Igreja Luterana Alemã.

2_ Com quem teve início o Pietismo

     “O mais notável teólogo do pietismo, e seu fundador dentro do luteranismo, foi Filipe Jacó Spener (1635-1705, a partir de 1691 decano em Berlim). Transmitiu o ponto de vista do pietismo de forma moderada. Procurou reter a base doutrinária ortodoxa sem alterações. Mas as questões de que tratava, e notadamente seu método de apresentação, manifestavam novo espírito teológico e nova maneira de pensar.”[5].

     “Philipp Jakob Spener, que nasceu em 1635, na Alsácia perto do rio Reno que separa a Alemanha da França. Quando menino, teve como madrinha uma mulher rica, poderosa e profundamente religiosa chamada condessa Ágata von Rappoltstein, que morava em um castelo perto da casa dele. Lá, o jovem leu e discutiu o Cristianismo verdadeiro e foi educado por sua mentora espiritual no tipo de cristianismo do coração. A condessa ajudou a conseguir e a pagar a educação teológica de Spener em Estrasburgo e Basiléia. Ele também passou algum tempo em Genebra onde foi influenciado pelo pregador reformado místico chamado João de Labadie (1610-1674), que exortava seus seguidores confiar na experiência interior mais do que nos sacramentos para garantir a salvação. Quando recebeu o primeiro pastorado em Frankfurt, na Alemanha, Spener já era um “cristão do coração” convicto, que acreditava piamente que a vida eclesiástica e a teologia de seu país precisavam de reforma.”[6]

     A obra que marcou o nascimento do Pietismo foi um livro de Spener, Pia Desideria. Em seu livro Pia desideria (1675) propôs várias recomendações para reformas destinadas a curar o estado de decadência em que a igreja se encontrava.

     “O pietismo luterano surgiu, em primeiro lugar, como movimento de reforma com finalidades práticas, mas, gradualmente, começou a ter efeito transformador na atividade teológica bem como na perspectiva geral. Spener publicou sua posição teológica especialmente na grande coleção intitulada Theologische Bedenken, l-IV (1700 e anos seguintes) em Die evangelische Glaubenslehre in einem Jahrgang der Predigten (1688).”[7].

3_ Quais os Principais Ensinos do Pietismo

     “Analisando a Pia Desideria de Spener - obra que marca “o nascimento do pietismo” - podemos destacar quatro características principais do Pietismo, a saber:

     1_ A Experiência Religiosa: A experiência religiosa assume um caráter preponderante na vida do crente;
     2_ Biblicismo: Seus padrões doutrinários emanam da Bíblia. Ainda que o Catecismo (Catecismo Menor de Lutero, 1529) deva ser ensinado às  crianças e aos adultos.
     3_ Perfeccionismo: Preocupação com o seu desenvolvimento espiritual, bem como na proclamação do Evangelho e na prática social de socorro aos necessitados.
    4_ Reforma na Igreja: Desejo de reformar a Igreja, combatendo a sua letargia espiritual, bem como as suas práticas consideradas mundanas. Esse programa pode ser assim dividido:

     a)_ Maior uso das Escrituras;
     b)_ Diligente exercício do sacerdócio espiritual;
     c)_ Ensinar que o saber não é suficiente; ele deve se manifestar em obediência a Deus;
     d)_ Espírito de amor cordial na controvérsia;
     e)_ Alimento devocional e preparação pastoral dos estudantes de teologia.”[8]

     Também podemos caracterizar o Pietismo da seguinte forma:

     “(1) seu caráter experiencial - os pietistas são pessoas em cujo coração 0 viver cristão é a preocupação fundamental; (2) seu enfoque bíblico — os pietistas são, parafraseando João Wesley, “0 povo de um só Livro” que tiram seus padrões e seus alvos das páginas das Escrituras; (3) sua inclinação perfeccionista — os pietistas são sérios com relação ao viver santo e dedicam 0 máximo esforço para seguir a lei de Deus, divulgar o evangelho e ajudar os necessitados; (4) seu interesse reformador - os pietistas usualmente se opõem àquilo que consideram frieza e esterilidade nas formas e práticas estabelecidas nas igrejas.”[9]

4_ Principais Teólogos do Pietismo

     O primeiro e principal nome foi o de Philipp Jakob Spener. Não trataremos sobre Spener aqui, pois já falamos sobre ele.

     “Johann Arndt. (1555-1621), figura pouco conhecida que escreveu um livro de grande influência que muitos historiadores consideram a “Bíblia” do pietismo: Quatro livros sobre o cristianismo verdadeiro (1610). Pouco se sabe da vida de Arndt, a não ser que foi ministro luterano muito respeitado mas um pouco controvertido , que tinha tendências místicas e que pastoreou igrejas em Eisleben (cidade natal de Lutero) e Celle na Alemanha. Entre 1606 e 1609, escreveu um livro devocional, que se tornou conhecido na Alemanha simplesmente com o Cristianismo verdadeiro.”[10].

     “Auguste Hennann Francke. Se Spener foi o patriarca do pietism o, Auguste Hermann Francke foi seu gênio organizador. Francke nasceu em 1663 na cidade universitária de Lübeck, em um lar profundamente influenciado pelo pietismo de Spener. Sua família também tinha fortes tradições intelectuais e vínculos com a ortodoxia luterana. Em 1684, começou seus estudos teológicos na Universidade de Leipzig, “o universalmente reconhecido baluarte da ortodoxia luterana”. Não demorou a assumir a posição de liderança no movimento pietista local chamado collegium philobiblicum ou “grupo de amantes da Bíblia”.”[11].

     “Nikolaus Ludwig von Zinzendorf. Uma das personagens mais incomparáveis de toda a história da teologia cristã é Nikolaus Ludwig von Zinzendorf ou conde Zinzendorf. Nasceu em 1700 em Dresden, onde a influência de Spener ainda era forte. Se Spener foi o patriarca do pietismo e Francke o gênio organizador, Zinzendorf foi o profeta excêntrico. Zinzendorf foi um garoto notável, criado pela avó pietista Henrietta von Gerstorff, que era profundamente envolvida no movimento pietista de Spener e Francke na Saxônia. Spener tornou-se padrinho de Zinzendorf. Desde pequeno, o conde assimilou a rica vida devocional da avó e teve suas próprias experiências espirituais profundas.



[1]  COSTA, Hermistein Maia Pereira da. Raízes da Teologia Contemporânea. São Paulo: Cultura Cristã. 2004. P.261.
[2]  ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova 2009. P.149.
[3]  OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora vida. 2001. P.485.
[4]  ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova. 2009. P.150.
[5]  HAGGLUND, Bengt. História da Teologia. 7Ed. Porto Alegre: Concórdia. 2003.  P. 281
[6]  OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora vida. 2001. P.490-491.
[7]  HAGGLUND, Bengt. História da Teologia. 7Ed. Porto Alegre: Concórdia. 2003.  P. 282.
[8]  COSTA, Hermistein Maia Pereira da. Raízes da Teologia Contemporânea. São Paulo: Cultura Cristã. 2004. P.262.
[9]  ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova. 2009. P.150-152.
[10]  OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora vida. 2001. P.490-491.
[11]  OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora vida. 2001. P.493.