O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

20 de março de 2013

Um pequeno estudo sobre o "Quietismo"


UM PEQUENO ESTUDO SOBRE “O QUIETISMO”

Pr. Gilson Soares dos Santos

O Quietismo é uma doutrina que se originou na Espanha, em 1675, com a publicação do Guia Espiritual, de Miguel Molinos. Consiste em uma passividade absoluta diante de Deus. A fim de conhecer melhor esta doutrina faz-se necessário buscar suas origens, o que ela ensina, sua disseminação e como é vista por teólogos e estudiosos.

Origem do Quietismo

Como foi dito, o Quietismo teve início com a publicação do Guia Espiritual de Miguel Molinos, nascido em Zaragoza (Saragoça), na Espanha, que obteve o título de Doutor em Teologia na Universidade de Coimbra. Seus seguidores o chamavam de “santo”, pois aparentava uma autoridade em sua própria pessoa. Já seus opositores o chamavam de “charlatão”.

O Guia Espiritual e o Tratado da comunhão cotidiana, este escrito posteriormente, eram considerados escritos heréticos por alguns, porém, por outros, eram considerados a mais elevada doutrina espiritual cristã.

O que ensina o Quietismo

O Quietismo consistia em uma passividade absoluta diante de Deus. O crente deve desaparecer, deixar morrer seu próprio “eu” e se perder em Deus. Nenhum ativismo, seja do corpo ou do espírito, é admitido. Toda contemplação deve ser espiritual e todos os meios físicos e visíveis são rejeitados. O crente deve ficar quieto, nada fazer pela sua santidade cristã porque Deus fará tudo. É um estado de perfeita quietude no qual a alma se perde em Deus.

Sua disseminação

As principais pessoas engajadas em disseminar esse movimento religioso foram: Miguel Molinos, Madame Guyon e o arcebispo Fénélon. O Quietismo foi disseminado e aceito por muitos. Molinos teve muitos seguidores que o defendiam, mesmo contrariando o próprio ensino de “quietude”. Até a inquisição espanhola chegou a ver com bons olhos o molinismo. Quando os perseguidores de Molinos o acusaram perante a inquisição espanhola, eles, os acusadores, é que foram condenados. Essa tendência mística e espiritual passou por sobre a maior parte da Europa, sendo mais forte na Itália e Espanha. Molinos, por apresentar piedade e mansidão, desfrutou da amizade das mais altas autoridades da igreja e do papa Inocêncio XI. Porem, este mesmo papa o condenou à prisão.

Assim Justo L. González descreve a prisão e condenação de Molinos:

“Molinos foi preso por ordem papal em 1685. Vários de seus discípulos o seguiram às prisões da Inquisição. Quando o processo se iniciou, ele se negou a defender-se e aceitou até as mais ridículas acusações. Seus seguidores diziam que isso se devia ao fato de realmente praticar o quietismo que ensinava. Seus inimigos o tinham como culpado. Quando ordenaram que se retratasse, o fez com tanta humildade que essa mesma retratação podia se interpretar como uma afirmação de suas doutrinas”.

Molino morreu na prisão. Gonzáles diz que “Molinos passou os onze anos restantes de sua vida encarcerado, sempre dando mostras de continuar na contemplação que antes propusera”.

Como ela foi vista por teólogos e estudiosos

São fortes as controvérsias apontadas para essa doutrina. Uns diziam que tal doutrina parecia-se mais com o misticismo muçulmano, outros viam nela um privatismo, fazendo que a igreja perdesse importância e autoridade. Porque, a partir do momento que o crente entra numa inércia, esperando que Deus faça tudo, ele abre mão de sua participação em qualquer atividade, seja religiosa, política ou social. Os que combatiam os ensinos de Molinos afirmavam que o Quietismo levava a uma frouxidão moral.

Charles Hodge escreve o seguinte sobre o Quietismo:

Tal estado deve ser alcançado pela forma prescrita pelos místicos mais antigos; primeiro pela negação ou abstração; isto é, a abstração da alma de tudo o que está fora de Deus, da criatura, de todo interesse, preocupação ou impressão dos objetos sensíveis. Daí a conexão entre o misticismo, nessa forma, e o ascetismo. Não só deve a alma tornar-se assim abstraída da criatura, mas deve estar morta para si mesma. Deve perder todo e qualquer respeito pelo ego. Não pode haver nenhuma oração, pois a oração é a busca de algo para o ego; nenhuma ação de graça, pois a ação de graça implica gratidão pelo bem feito ao ego.”.

Hodge apresenta em sua Teologia Sistemática que o Quietismo abrigava graves erros.

John Macarthur define o Quietismo como uma oposição ao Pietismo. Assim afirma Macarthur:

“O quietismo afirma que o cristão deve ser passivo no crescimento espiritual. Devemos deixar que Deus faça tudo, pois nosso frágil esforço só faz atrapalhar a ação de Deus. Devemos apenas “render-nos” ao Espírito Santo, e Ele nos dará a vitória... O oposto do quietismo é o “pietismo”, que ensina que os crentes devem trabalhar muito e praticar uma autodisciplina extrema para conseguirem piedade pessoal. Devemos fazer estudos bíblicos enérgicos, ser auto-disciplinados, obedientes, diligentes para conseguirmos vidas santas. Mas não pára aí; adota padrões legalistas no seu modo de vestir, de comer, no seu estilo de vida, etc.”.

Para Macarthur, tanto o Quietismo quanto o Pietismo são posições extremadas. É preciso o equilíbrio adequado. Ele conclui:

“Muitos quietistas e pietistas concordam em que a salvação é pela graça, por meio da fé, mas a discordância deles é na área da santificação. Os quietistas desprezam o esforço do crente e arriscam-se a promover a irresponsabilidade, a apatia espiritual. Os pietistas exageram o esforço humano e tendem a provocar o orgulho e a cair no legalismo.”.


Uma busca mais aprofundada faz-se necessária, pois o Quietismo, naquela época, foi confundido com reavivamento religioso, à semelhança do Misticismo, do Pietismo, do Quacrerismo, do Jansenismo, e outros.




BIBLIOGRAFIA

GONZÁLES, Justo L. História Ilustrada do Cristianismo. Vol 2. São Paulo: Vida Nova. 2011. p. 304-307.

HODGE, Charles. Teologia sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 63-66.

Qual o papel do crente na santificação? Artigo de John Macarthur: encontrado em http://www.monergismo.com/textos/santificacao/santificacao_mac.htm acesso em 19/03/2013.