O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

10 de janeiro de 2017

Uma pequena aula sobre a razão


UMA PEQUENA AULA SOBRE A RAZÃO

Gilson Soares dos Santos

     Prá começo de conversa, considere as seguintes frases:

“Eu estou com a razão”;

“Vamos dar razão a quem tem razão”;

“Fulano perdeu a razão”;

“Eles se divorciaram e com razão”

“Me dê uma razão para lhe deixar”

“Qual a razão disso?”

     A palavra “razão”, do latim “ratio”, é um termo muito usado, porém pouco entendido. Pode ser definida como a capacidade que a mente humana tem de chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas. Veremos um pouco sobre o que é razão.

1_ Definição do termo e conceituação

     “A palavra razão origina-se de duas fontes: a palavra latina ratio e a palavra grega logos. Essas duas palavras são substantivos derivados de dois verbos que tem um sentido muito parecido em latim e em grego”.[1] (Grifo nosso)

     De maneira mais específica, vejamos o significado do termo razão como ratio e logos:

Por isso, logos, ratio, razão significam pensar e falar ordenadamente, com medida e proporção, com clareza e de modo compreensível para outros. Assim, na origem, razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e claramente, para pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é uma maneira de organizar a realidade pela qual esta se torna compreensível..[2] (grifo nosso)

     Nicola Abbagnano traz vários significados fundamentais para razão, dentre eles os seguintes:

Referencial de orientação do homem em todos os campos em que seja possível a indagação ou a investigação. Nesse sentido, dizemos que a Razão é uma "faculdade" própria do homem, que o distingue dos animais.[3]
A Razão é a força que liberta dos preconceitos, do mito, das opiniões enraizadas, mas falsas e das aparências, permitindo estabelecer um critério universal ou comum para a conduta do homem em todos os campos.[4].

2_ O que não é razão

     Marilena Chauí apresenta quatro tipos de atitudes mentais que não podem ser consideradas razão:

a)_ O conhecimento ilusório

O conhecimento ilusório, isto é, o conhecimento da mera aparência das coisas que não alcança a realidade ou a verdade delas; para a razão, a ilusão provem de nossos costumes, de nossos preconceitos, da aceitação imediata das coisas tais como aparecem e tais como parecem ser. As ilusões criam as opiniões que variam de pessoa para pessoa e de sociedade para sociedade..[5]

b)_ A passividade emocional

As emoções, sentimentos e paixões, que são cegas, caóticas, desordenadas, contrárias umas às outras, ora dizendo “sim” a alguma coisa, ora dizendo “não” a esta mesma coisa. [...] A razão é vista como atividade ou ação (intelectual e da vontade) oposta à paixão ou à passividade emocional.[6].

c)_ A crença religiosa

Nesta, a verdade nos é dada pela fé numa revelação divina, não dependendo do trabalho de conhecimento realizado pela nossa inteligência ou pelo nosso intelecto. [...] Os filósofos cristãos distinguem a luz natural – a razão – da luz sobrenatural – a revelação.[7].

d)_ O êxtase místico

No qual o espírito mergulha na profundeza do divino e participa dele, sem qualquer intervenção do intelecto ou da inteligência, nem da vontade. Pelo contrário, o êxtase místico exige um estado de abandono, de rompimento com a atividade intelectual e com a vontade, um rompimento com o estado consciente, para entregar-se à fruição do abismo infinito. A razão ou consciência se opõe à inconsciência do êxtase.[8].

3_ Os princípios racionais

     A filosofia nos ensina que a razão opera seguindo certos princípios que ela própria estabelece, estando os mesmos de conformidade com a realidade. Vejamos estes princípios:

a)_ O princípio da identidade

     Foi formulado por Parmênides. Seu enunciado é: “A é A”; “B = B”. Também pode ser enunciado da seguinte maneira: “O que é, é”.

Uma coisa, seja ela qual for (um ser da Natureza, uma figura geométrica, um ser humano, uma obra de arte, uma ação), só pode ser conhecida e pensada se for percebida e conservada com sua identidade.[9].

     Por exemplo, um triângulo é igual a ele mesmo. Nenhuma outra figura, com outro número de lados, pode ser chamada de triângulo. Então, é o princípio da identidade que diferencia pessoas, animais, plantas e outros objetos uns dos outros.

b)_ O princípio da não-contradição

     É atribuído a Aristóteles. O enunciado deste princípio é o seguinte: “A é A. É impossível que A seja ‘A e Não A’ ao mesmo tempo”. Explicando melhor: duas afirmações contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, porque são mutuamente exclusivas.

Assim, é impossível que a árvore que está diante de mim seja e não seja uma mangueira; que o cachorrinho de dona Filomena seja e não seja branco; que o triângulo tenha e não tenha três lados e três ângulos.[10].

c)_ O princípio do terceiro excluído

     Esse princípio pode ser enunciado da seguinte maneira: “Ou A é X ou é Y e não há terceira possibilidade”. Em outras palavras, “ou isto ou aquilo”. Este princípio exclui uma terceira possibilidade. “Ou uma coisa está certa ou está errada”. “ou uma coisa é verdadeira ou é falsa”. Não existe um terceiro elemento.

d)_ O princípio da razão suficiente

     Este princípio pode ser enunciado da seguinte maneira: “Dado A, necessariamente se dará B”; “Dado B, necessariamente houve A”. Este princípio nos diz que “tudo o que existe e tudo o que acontece tem uma razão (causa ou motivo) para existir ou para acontecer que pode ser reconhecida pela nossa razão.” Esse princípio é conhecido também como princípio da causalidade. Então, podemos dizer que o princípio da causalidade nos diz que “para cada efeito existe uma causa”.

     Terminamos esta aula lembrando que tudo o que apresentamos aqui, no propósito de definir (conceituar) razão, é apenas um fragmento diante da complexidade do tema. Mas já pode ser considerado um bom começo. A partir do que aqui foi exposto, qualquer estudante que se interesse pelo assunto tem um ponto de partida confiável.


[1]  CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática. 1995. p.59.
[2]  CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática. 1995. p.59.
[3]  ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5 Ed. São Paulo: Martins Fontes. 2007. p.824.
[4]  ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5 Ed. São Paulo: Martins Fontes. 2007. p.824.
[5]  CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática. 1995. p.59.
[6]  CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática. 1995. p.59.
[7]  CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática. 1995. p.59-60.
[8]  CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática. 1995. p.60.
[9]  CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática. 1995. p.60.
[10]  CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática. 1995. p.60.