O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

28 de janeiro de 2017

É pecado o homem usar cabelos compridos? Eles respondem

É PECADO O HOMEM USAR CABELOS COMPRIDOS? ELES RESPONDEM

Pr. Gilson Soares dos Santos

Em I Coríntios 11.14 encontramos a seguinte pergunta retórica do apóstolo Paulo:

“Ou não vos ensina a própria natureza ser desonroso para o homem usar cabelo comprido?” (ARA)

“Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o varão ter cabelos crescidos?” (ARC)

“A própria natureza das coisas não lhes ensina que é uma desonra para o homem ter cabelo comprido?” (NVI)

“Pois a própria natureza ensina que o cabelo comprido é uma desonra para o homem” (NTLH).

Tal versículo suscita a pergunta: é pecado o homem usar cabelo comprido? Resolvi fazer essa pergunta a diversos teólogos e intérpretes dos textos bíblicos. Não os encontrei pessoalmente, é claro. A pergunta foi feita e as respostas são procedentes das obras publicadas por estes homens. No rodapé coloquei as referências a fim de que você também, querido (a) leitor (a), possa consultar.

Vamos aprender com as respostas deles.

I_ PERGUNTA FEITA A JOHN MACARTHUR JR.

Pr. Gilson Soares: Segundo o texto de I Coríntios 11.14, é pecado o homem usar cabelos compridos? Pois o apóstolo usa o termo “natureza”. O que isto quer dizer?

John MacArthur: O termo pode transmitir a ideia de uma consciência humana básica, isto é, de um senso inato daquilo que é normal e certo. O hormônio masculino, a testosterona, apressa a perda de cabelo nos homens. O estrogênio faz que o cabelo da mulher cresça mais e durante mais tempo. Raramente a mulher é calva, não importa qual seja sua idade. Isto se reflete psicologicamente, na maioria das culturas, no costume de cabelos mais longos para a mulher. Deus deu à mulher o cabelo como um véu para mostrar ternura, delicadeza e beleza.[1]

II_ PERGUNTA FEITA A LEON MORRIS

Pr. Gilson Soares: Segundo o texto de I Coríntios 11.14, é pecado o homem usar cabelos compridos? Pois o apóstolo usa o termo “natureza”. O que isto quer dizer?

Leon Morris: Cabelo comprido, arrazoa o apóstolo, é uma “vergonha” (AV) para o homem (ARA: é desonroso.). Esta situação não fora universal. Alguns entre os antigos gregos, notadamente os espartanos, e alguns filósofos, tinham tido cabelo comprido. Mas, falando em termos gerais, o que Paulo diz valia para a humanidade. As exceções eram locais e temporárias. Certamente se usava na Corinto do primeiro século e nos lugares conhecidos pelos homens que viviam lá, ou senão, Paulo jamais teria firmado desse modo o seu apelo. Em contraste, cabelo comprido é uma glória para a mulher. O comprimento preciso não é especificado, e não é importante. O cabelo da mulher é mais longo do que o do homem, e o é distintamente.[2].

III_ PERGUNTA FEITA A D. A. CARSON (e mais R. T. France, J. a. Motyer, G. J. Wenham)

Pr. Gilson Soares: Segundo o texto de I Coríntios 11.14, é pecado o homem usar cabelos compridos? Pois o apóstolo usa o termo “natureza”. O que isto quer dizer?

D. A. Carson: No século I acreditava-se que a natureza determinava as questões culturais. Sem dúvida Paulo também usa esse argumento no ensino do AT, em que se insistia na polarização dos sexos. Um homem de cabelos compridos era algo vergonhoso. Já se argumentou que há estátuas antigas de homens com cabelos longos, mas essa era a forma como os deuses eram representados, e não os homens.[3].

IV_ PERGUNTA FEITA A JOÃO CALVINO

Pr. Gilson Soares: Segundo o texto de I Coríntios 11.14, é pecado o homem usar cabelos compridos? Pois o apóstolo usa o termo “natureza”. O que isto quer dizer?

João Calvino: No tempo em que Paulo escrevia estas palavras, a pratica de cortar o cabelo não havia ainda sido adotada na Gália ou na Germânia. Sim, e mais que isso, certamente teria sido algo desastroso para os homens - tanto quanto para as mulheres - terem seus cabelos tosquiados ou cortados. Mas, visto que os gregos não consideravam ser muito viril ter cabelos longos, o que caracterizava os que eram tidos na conta de efeminados, ele considera como sendo conforme a natureza um costume que viera para ser confirmado.[4]

V_ PERGUNTA FEITA AOS COMENTADORES DO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON

Pr. Gilson Soares: Segundo o texto de I Coríntios 11.14, é pecado o homem usar cabelos compridos? Pois o apóstolo usa o termo “natureza”. O que isto quer dizer?

Editores do Beacon: Geralmente, ter cabelos longos era considerado inapropriado para um homem, Especialmente com a perversão sexual que havia em Corinto, “o cabelo longo faria um homem se parecer muito com uma mulher e traria, dessa forma, uma correspondente ‘desonra’ sobre ele”. A situação é exatamente oposta em relação à mulher: Ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu. Por natureza, a mulher recebeu uma cobertura que, na verdade, é um véu. Godet comenta que o cabelo longo e farto “é um símbolo natural da reserva e da modéstia, o mais belo ornamento da mulher”.[5].

VI_ PERGUNTA FEITA AOS EDITORES DO COMENTÁRIO BÍBLICO BROADMAN

Pr. Gilson Soares: Segundo o texto de I Coríntios 11.14, é pecado o homem usar cabelos compridos? Pois o apóstolo usa o termo “natureza”. O que isto quer dizer?

Editores do Broadman: Segue-se um apelo à natureza. Porque Paulo acha que a natureza ensina que é degradante para o homem usar cabelo longo não está claro. Nem está claro por que a natureza ensina que cabelo longo é a glória da mulher. Na natureza, a constituição da realidade, diz Paulo, o cabelo longo pertence à mulher, e não ao homem.[6].

VII_ PERGUNTA FEITA A RUSSEL N. CHAMPLIN

Pr. Gilson Soares: Segundo o texto de I Coríntios 11.14, é pecado o homem usar cabelos compridos? Pois o apóstolo usa o termo “natureza”. O que isto quer dizer?

Champlin: Naturalmente, Paulo poderia estar fazendo um apelo à naturezainteiramente à parte dos costumes sociais, o que, para ele, refletia necessariamente a maneira da natureza operar, e a sua afirmação seria então: Cabelos curtos para os homens; cabelos longos para as mulheres. Contudo, os versículos décimo terceiro e décimo quarto formam um par inseparável. O primeiro apela para o senso de propriedade, com base nos costumes sociais, e o segundo apela à natureza, presumivelmente confirmada pelos costumes sociais prevalentes. Seja como for, o argumento de Paulo, tanto no que tange a natureza como no que concerne aos costumes sociais, é sólido, ainda que não seja universalmente confirmado, e ainda que não seja perfeito em qualquer sentido, e nem totalmente convincente.

Pr. Gilson Soares: Explique melhor.

Champlin: Façamos aqui algumas considerações sobre a natureza. A lei e a luz da natureza se manifestam na razão e na intuição humanas, e isso é confirmado pela sociedade em sua conduta diária. Homens de várias nações, nos tempos de Paulo, usavam os cabelos compridos, como, por exemplo, os samaritanos e os lacedemônios (uma das divisões raciais da Grécia), sem falarmos nos outros gregos de épocas mais remotas, conforme a Ilíada de Homero o comprova, visto que ele chama certos homens de gregos de cabelos longos, Aqueanos de cabelos longos. A maioria dos comentadores concorda, entretanto, que ao tempo de Paulo os judeus, exceto aqueles que faziam o voto do nazireado, usavam os cabelos relativamente curtos. [...] Os gregos em geral usavam os cabelos curtos para os homens, e os hebreus seguiam a mesma norma; e isso deve ter sido suficiente para Paulo estabelecer esse ponto, embora não seja provável que ele tenha apelado para a natureza inteira, à parte das evidências dos costumes sociais vigentes. Os cabelos curtos para os homens certamente e um preceito calcado no pensamento de que os cabelos longos formam uma espécie de véu natural (ver o versículo seguinte). Por isso, um homem deve evitar usar cabelos longos, já.que não deve andar velado, pelas razoes dadas na exposição relativa ao quarto versículo deste capitulo.[7].

VIII_ PERGUNTA FEITA A PAUL W. MARSH

Pr. Gilson Soares: Segundo o texto de I Coríntios 11.14, é pecado o homem usar cabelos compridos? Pois o apóstolo usa o termo “natureza”. O que isto quer dizer?

Marsh: Um apelo final fundamentado no sentimento geral de decência da humanidade instilado pela ‘própria natureza, é apropriado'. i.é., adequado, natural, ‘é uma desonra para o homem ter cabelo comprido'. Paulo argumenta dentro dos limites de sua localização e tempo. Culturas diferentes têm conceitos diferentes acerca do que é conveniente, mas como generalização a afirmação ainda é verdadeira. A maioria dos homens, orientais ou ocidentais, usa o cabelo curto em contraste com o das mulheres.[8]

IX_ PERGUNTA FEITA AOS COMENTADORES DO COMENTÁRIO BÍBLICO AFRICANO (Adeyemo – Editor)

Pr. Gilson Soares: Segundo o texto de I Coríntios 11.14, é pecado o homem usar cabelos compridos? Pois o apóstolo usa o termo “natureza”. O que isto quer dizer? E como isto se aplicaria no contexto africano?

Adeyemo: Paulo apela para o julgamento deles sobre que comportamento seria considerado natural dentro do contexto geográfico e histórico em que ele está escrevendo. Os coríntios teriam considerado ofensivo o uso de cabelos compridos para um homem, mas o admirariam numa mulher. Isso ainda é, de modo geral, verdadeiro na cultura africana, e, nesse caso, o argumento tem relevância hoje.

Pr. Gilson Soares: Qual o comportamento da igreja africana sobre a questão de cabelos longos para os homens?

Adeymo: A igreja não deveria rotular tal comportamento como algo que assinale a salvação ou não de alguma pessoa. Os jovens cristãos devem ser encorajados a pensar se esse, assim como todos os outros aspectos de seu comportamento, contribui para a construção ou para a destruição do reino de Deus em seu próprio ambiente ou época. Os jovens não devem adotar costumes simplesmente porque foram expostos a eles, mas devem procurar glorificar a Deus permitindo que ele use seu exemplo para expandir sua lei na vida de outros. Para muitos, isso significa vestir-se de modo que não choque os outros, desviando-os de Cristo.[9]

X_ PERGUNTA FEITA A NORMAN GEISLER

Pr. Gilson Soares: Segundo o texto de I Coríntios 11.14, é pecado o homem usar cabelos compridos? Pois o apóstolo usa o termo “natureza”. O que isto quer dizer?

Norman Geisler: Essa é uma passagem difícil, e os comentaristas não concordam entre si quanto ao seu sentido. Mas há duas maneiras pelas quais podemos entendê-la.[10]

Pr. Gilson Soares: Quais são essas duas maneiras?

Norman Geisler: Entendendo a natureza subjetivamente e entendendo a natureza objetivamente.

·         Entendendo a natureza subjetivamente. Nesse sentido, "natureza" denota sentimentos instintivos ou um sentido intuitivo quanto ao que seja apropriado. Isso certamente pode ser afetado por hábitos e práticas culturais. Se esse é o sentido da passagem, então a afirmativa de Paulo significa mais ou menos o seguinte: "Os vossos próprios costumes não vos ensinam que o cabelo comprido é desonroso para o homem?" Essa interpretação é difícil de se justificar, em termos do significado normal da palavra "natureza" (pliusis), a qual no NT tem um sentido muito mais forte do que "costumes" (cf. Rm 1:16; 2:14).[11]

·         Entendendo a natureza objetivamente. Nesse sentido, "natureza" significa a ordem das leis naturais. Paulo fala do homossexualismo como sendo "contra a natureza" (Rm 1:26), e fala que os gentios têm conhecimento - do que é certo e do que é errado - "pela natureza", isto é, pela "lei escrita em seus corações" (Rm 2:15). Nesse sentido, ele está dizendo algo assim: "Até mesmo os pagãos, que não têm nenhuma revelação especial, ainda assim têm uma inclinação natural para distinguir os sexos por meio do comprimento do cabelo, as mulheres geralmente tendo um cabelo mais cheio e mais comprido".[12]

Pr. Gilson Soares: Continue...

Norman Geisler: Os seres humanos instintivamente distinguem os sexos de diversos modos, dos quais um é o comprimento do cabelo. Há exceções decorrentes da necessidade (saúde, segurança), da perversidade (homossexualismo) ou de uma prática de santidade (o voto de nazireu). Mas essas somente servem para provar a regra geral que se baseia na tendência natural de se diferenciar os sexos com base no comprimento do cabelo. Com certeza, nenhum padrão absoluto do que seja um cabelo "comprido" estaria na mente de Paulo. Isso variaria de acordo com a cultura. O ponto principal era permitir a distinção entre os sexos. Foi por essa razão que o AT também proibiu o homem de vestir-se como a mulher (Dt 22:5), uma prática que daria margem a toda sorte de impropriedades, tanto de ordem social como moral.[13]

Concluindo

Querido (a) leitor (a), ficam as respostas dadas por esses homens de Deus sobre o texto de I Coríntios 11.14. Cabe a você ler, examinar e reter o que é bíblico e coerente com o viver cristão nessa geração.



[1]  MACARTHUR, John. I Coríntios: A solução de Deus para os problemas da igreja. Série Estudos Bíblicos John MacArthur. Trad. Heloísa Cavallari. São  Paulo: Cultura Cristã. 2011. P.57-58.
[2]  MORRIS, Leon. I Coríntios: série introdução e comentário. Trad. Odayr Olivetti. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão. 1986. P.125
[3]  CARSON, D. A. et al. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova. 2009. P.1772.
[4]  CALVINO, João. I Coríntios. Trad. Valter Graciano Martins. São Bernardo do Campo: Edições Parakletos. 2003. P.339-340.
[5]  GREATHOUSE, William M. et al. Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro: CPAD. 2006. P.327
[6]  ELLEN, Clifton J. (Editor). Comentário Bíblico Broadman – Atos a I Coríntios. Vol. 10. Rio de Janeiro: JUERP. 1994. P.414
[7]  CHAMPLIN, Russel N. O Novo Testamento, interpretado versículo por versículo – Vol IV – I Coríntios a Éfeso. São Paulo: CANDEIA. 1995. P.175
[8]  BRUCE, F. F. (org.) Comentário Bíblico NVI – Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Vida. 2009. P.1903.
[9]  ADEYEMMO, Tokunboh (editor). Comentário Bíblico Africano. São Paulo: Mundo Cristão. 2010. P.1426.
[10]  GEISLER, Norman. HOWE, Thomas. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “contradições” da Bíblia.  São Paulo: Mundo Cristão. 2009. P.465
[11]  Idem. p.466.
[12]  Idem.
[13]  Idem.