O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

9 de abril de 2014

Origens da música Gospel

ORIGENS DA MÚSICA GOSPEL

Hoje em dia, é muito comum ouvirmos a palavra “Gospel”. É um tal de “caderno gospel”, “CD Gospel”, “Lanchonete Gospel” e até “brinquedo Gospel”! Todo mundo está usando a linguagem do “Gospel”! Mas o que será isso? De onde surgiu e o que significa?

1 – Explicando a Palavra “Gospel”

A utilização atual está tão diversificada, que pode criar uma certa dúvida a quem não conhece a origem da palavra. “Gospel” vem da língua inglesa e quer dizer “Evangelho”. Pode também ser traduzido como Credo e Evangelizar. É a junção de duas outras palavras: God (Deus) e Spell (palavra soletrada), com o sentido de “Palavra de Deus”.

A popularização deste termo, fez com que hoje ele estivesse relacionado a qualquer estilo musical, que tenha letras e compositores cristãos. Entretanto, o início da música Gospel foi desenvolvido por negros norte-americanos, a partir do séc. 17.

2 – Tudo Começou na América do Norte

Durante o século 16, os norte-americanos tentaram colocar os índios para trabalhar na lavoura como escravos. Não tiveram resultado positivo. Buscando solucionar este problema, no início do séc. 17 os americanos trouxeram negros da África e estes se adaptaram melhor ao trabalho das lavouras, mesmo sob condição de escravidão.

Os negros eram sequestrados de suas tribos na África, separados de suas famílias e trazidos em condições subumanas em navios negreiros, para a América. Os que sobreviviam à viagem eram vendidos como animais de carga para os donos das fazendas. Eram obrigados a trabalhar o dia todo, sendo chicoteados a todo o momento, tendo uma ração de água e comida limitada, apenas para que se mantivessem vivos.

Por causa da escravidão, os negros cantavam e dançavam nas poucas horas de descanso (as “Dance Songs”) ou cantavam uma música mais ritmada, para marcar a velocidade do trabalho que faziam na lavour (as “Work Songs” ou “Labor”). A princípio a música era cantada em dialeto africano. Depois com o ensino do inglês, muitas vezes feito por igrejas protestantes, para evangelizarem os negros, estes passaram a cantar também no idioma dos americanos.

Muitos desses escravos que foram evangelizados se converteram. Mas o fato de serem convertidos a Jesus, não lhes dava o direito de estarem libertos do trabalho escravo. Era estranho e incoerente, pois o cristianismo é contra a acepção de pessoas (At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; Tg 2.1,9; I Pe 1.17). A Bíblia é clara em dizer que, diante de Deus não pode haver “escravo ou livre, mas Cristo deve ser tudo em todos” (Cl 3.10,11). Continuaram sofrendo, sendo maltratados por seus patrões e, vários deles, só viam a possibilidade do fim deste sofrimento quando morressem e estivessem com Jesus.

Os negros convertidos compunham e cantavam músicas com teor bíblico, mostrando suas esperanças de uma vida melhor no céu. Expressavam suas angústias e o amargor da escravidão. Estes eram os “Spirituals Songs” ou “Negro Spiritual”.

New Orleans tornou-se o centro de importação de escravos e berço da música folclórica negra americana de 1600 a 1800. Em 1970, a Universidade Fisk levou os cantores negros do coral jubilee a fazer exibições por cidades dos EUA e da Europa. A partir de então, a música Gospel começou a se tornar popular.

3 – A Música Usada em Movimentos Evangelísticos (século 19)

Os brancos também dera a sua contribuição para a música Gospel naquela época. Em 1857, após um dos maiores pânicos econômicos dos EUA, com grandes quebras financeiras, aconteceu um fervor evangelístico, que se denominou O Grande Despertamento. Conferências em todo o país, realizadas pelo grande evangelista D. L. Moody e as composições de I. D. Sankey, divulgaram e fortaleceram as Gospel Songs.

Algumas características dessas músicas: eram músicas simples, para serem cantadas pelas massas, em Campanhas Evangelísticas; músicas fáceis de aprender, com refrão repetitivo; a linha melódica, apoiada por uma simples progressão harmônica, com o menor número possível de mudanças de acordes; textos leves e claros, sem muita profundidade doutrinária, atendendo-se à necessidade de comunicar a salvação em Cristo. Muitos dos hinos compostos para estes avivamentos, fazem parte dos hinários evangélicos de muitas denominações evangélicas, até hoje.

4 – Influência da Música Gospel

A musicalidade negra influenciou fortemente toda a música americana, seja ela cristã ou secular. Vários estilos musicais começaram a aparecer nos EUA a partir do século 19, dando origem ao que hoje conhecemos como “Música Pop” (popular): “Ragtime” (música fortemente sincopada), “Blues” (música triste e lenta), “Country and Western” (música caipira americana”, “Rhythm and Blues” (blues mais ritmado), “Soul Music” (música carregada de emoções), “Gospel e Spirituals” (adaptação mais ritmada de hinos tradicionais), “Jazz” (música cheia de improvisações) e outros ritmos.

No séc. 20, com o evento das gravações, do Rádio e posteriormente da TV, houve a multiplicação de ritmos e de intérpretes. A Igreja então, tornou-se o berço de grandes astros da música americana. Muitos tinha carreiras paralelas (secular e gospel) e outros optavam por uma das linhas. Tornaram-se sucessos reconhecidos, a partir de 1940: Mahalia Jackson, Bessie Smith, Aretha Franklin, Sam Cooke.

5 – Avivamento Entre os Hippies

O início do século 20 é marcado por duas Guerras Mundiais e vários outros conflitos, onde jovens são obrigados a ir lutar e morrer por seus países. A segunda metade do século, parece manter o mesmo quadro, quando os EUA envolvem-se na Guerra da Coreia e depois do Vietnã, a partir dos anos 60.

Jovens começam a se levantar, principalmente nos EUA e Europa, protestando contra as Guerras e pregando a não violência, através da “Paz e amor”. Foi o chamado “Movimento Hippie”. Para alcançar estas qualidades, revoltavam-se contra muitos dos valores usados até aquele momento, como a religião, os estilos musicais tradicionais, contra o capitalismo que visava o lucro e o acúmulo de bens, etc. E para fugir das dificuldades momentâneas, pregavam a liberação sexual e a utilização das drogas. O grito dos jovens dessa época foi: “Drogas, Sexo e Rock’n Roll”.

Em pouco tempo, alguns deles viram que “a vida continuava vazia”, mesmo com as drogas, com o sexo livre e o Rock. Deus foi levantando pastores e outros cristãos, que passaram a se aproximar desses hippies ao invés de criticá-los. Ao serem evangelizados demonstravam-se interessados, abertos à discussão e quando chegavam à conversão, logo tornavam-se “missionários” saindo a levar outros hippies a Cristo.

Resultado: houve um “Avivamento entre os Hippies”, chamado de “O Movimento de Jesus”, no início dos anos 70 nos EUA. Foi chamado pelos jornais e revistas da época (“Life”, “Newsweek” e “Look”), de “A revolução de Jesus, onde milhares de hippies convertidos eram batizados.

Os reflexos da conversão destes hippies, começou a acontecer nas igrejas americanas. Algumas denominações históricas, tornaram-se um pouco menos formais nos cultos. Surgiram novas igrejas e denominações com cultos mais descontraídos, bem ao gosto dos hippies convertidos, mas com grandes desejos de alcançar o mundo para Cristo. A musica usada nos cultos passou a ser composta com base nos estilos mais cantados por eles. Tinham um estilo jovem, popular, com letras claras e objetivas ao relatar a necessidade de conversão a Jesus.

Vários grupos americanos do “Movimento de Jesus” vieram ao Brasil para evangelizar nas ruas, praças e praias. Usavam a informalidade e a facilidade de adaptação própria dos “hippies” para falar de Cristo. No meio da rua, valia tudo: teatro, solos, conjuntos musicais, conversa pessoal, etc. É claro que isso nos lembra o que o apóstolo Paulo disse: “Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (I Co 9.19-23). Muitas das conversões daquela época foram assimiladas pelas Igrejas em todo o país. A música jovem, no Brasil dos anos 70 e 80, também foi influenciada pelas músicas trazidas por eles.

6 – A Música Gospel no Brasil

Sandro Baggio, em seu livro “Revolução na Música Gospel” (Ed. Exodus, p. 69), diz: “Apesar de não ser um resultado direto do “Movimento de Jesus”, os primeiros acordes contemporâneos (no estilo jovem) a serem ouvidos no Brasil transportando uma mensagem do Evangelho, surgiram naquela época. Desde a década de 1970 grupos musicais cristãos estão desafiando as regras do tradicionalismo rígido e trazendo estilos e melodias contemporâneas para dentro das igrejas brasileiras. Isso tudo muito antes do termo Gospel ter se adotado pelos evangélicos deste país.”

“Na verdade, esse termo Gospel, pelo qual tem sido denominada a Música Cristã Contemporânea (MCC), brasileira, faz parte de uma estratégia de marketing elaborada no início dos anos 90. O fato de que durante estes anos não havia no Brasil revistas especializadas em MCC, torna as informações sobre os grupos e artistas brasileiros pouco documentadas e raramente divulgadas. Isso contribui para que muitos dos que hoje estão na onda do gospel, desconheçam totalmente alguns dos precursores dessa revolução musical neste país”.

Veja alguns acontecimentos importantes (não há espaço para detalhar mais) na “Música Jovem Cristã” daquela época:

·         A música jovem, ensinada nos Acampamentos de Juventude (a partir de 1950): através de ministérios internacionais, voltados para este público, como Mocidade para Cristo, Palavra da Vida e outros nacionais como Jovens da Verdade, Jovens em Cristo.
·         Grupos de evangelização em ruas e Igrejas (a partir dos anos 60): usando estratégias ousadas e inovadoras, como música jovem, teatro, pintura de quadros, bonecos, etc.: Jovens da Verdade, Jovens em Cristo, Vencedores por Cristo.
·         Gravação de músicas jovens (a partir dos anos 70): as igrejas tinham grande resistência às músicas jovens, até que elas foram popularizadas em gravações. Quase não existiam livrarias e pontos de vendas cristãos. A divulgação e a comercialização eram feitas na visita dos grupos às igrejas. Mas como um “sopro do Espírito”, elas se espalhavam rapidamente por todo o país. Um dos grandes fenômenos em gravações foi Vencedores por Cristo que lançou o 1º disco com composições e ritmos brasileiros, sob o título “De Vento em Popa”, marco na história cristã de nosso país.
·         Peregrinações musicais (a partir dos anos 70): os Grupos muscais jovens que visavam evangelização desta faixa etária, saiam utilizando o período de suas férias, para esse fim. Faziam contato com Igrejas de diversos estados, que lhes davam uma base para os trabalhos e cuidavam dos novos convertidos. Principais grupos: Vencedores por Cristo, Elo, Logos, MIlad, Rebanhão, Mensagem, Semente, Expresso luz, Banda Azul, Águas, Comunidade s-8, Cântaro, Etc.

A partir de 1990 houve uma preocupação maior quanto a profissionalização dos grupos musicais e no envolvimento comercial destes com grandes gravadoras. O resultado técnico foi positivo, embora muitos pontos negativos devam ser fruto de avaliação permanente.

Houve uma tentativa de copiar os sucessos da “Indústria Musical Americana” (de música Gospel ou não), que tornou-se uma potência, vendendo milhões de cópias e fazendo das Igrejas “mercados consumidores de material musical”. Enriqueceram a muitos músicos e produtores, o que tirou a “espontaneidade e inocência”, que existiam no início da música Gospel.

CONCLUSÃO

Que impressionante perceber que o choro de alguns irmãos, foi levado diante de Deus e transformado em um estilo de louvor e uma linguagem de adoração. O Senhor os encheu da sua Graça, mesmo em meio a tanto sofrimento! Foi isso o que aconteceu com os negros americanos! Este mesmo Deus respondeu às inquietações de alguns hippies, mostrando-lhes que a vida vazia que levavam poderia ser preenchida totalmente com a pessoa de Jesus! Depois disto, dá-lhes o sopro de um desejo missionário, que se espalha por todo o mundo!.

Este é o nosso Deus! Que estas lembranças possam alegrar o seu coração, enchendo-o do desejo de compartilhar a experiência que você já tem com Cristo aos jovens da sua geração.

(LEOTO, Sérgio. MAGALI, Leoto. Revista Educação Cristã - Teen, Santa Bárbaro D’Oeste, Z3 Editora,  v. 5, 7ª Ed. p. 45-48, Junho 2013.)