O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

8 de outubro de 2013

O dízimo transformado em dividendos

O DÍZIMO TRANSFORMADO EM DIVIDENDOS
 
Pr. Gilson Soares dos Santos
 
A religião, para muitos, é uma verdadeira fonte de lucros. É um verdadeiro comércio. Descaradamente, homens e mulheres, em nome de Deus, sugam o dinheiro do povo, arrancam os minguados centavos do pobre, prometendo-lhe a graça de Deus, o milagre, a bênção do Altíssimo. A partir de um falso entendimento sobre os dízimos, ou melhor, a partir de uma deturpação, uma distorção do texto sagrado que fala sobre os dízimos, esses mercenários ludibriam o povo e aumentam seus impérios.
 
Hoje venho transcrever, na íntegra, o conteúdo da página 26, da Revista Ultimato, Número 295, Julho-Agosto de 2005, que trata sobre “O dízimo transformado em dividendos”.
 



 
 
 

O DÍZIMO TRANSFORMADO EM DIVIDENDOS
 
A ideia de que o dízimo ou outra contribuição abrem as comportas dos céus e deixam derramar tanta prosperidade que não se tem onde guardar está tão generalizada que parece não haver retorno.

Há empresários cristãos e recém-convertidos dando o dízimo com todo afoito, na esperança de serem bem-sucedidos nos negócios, de preferência, imediatamente. A malfadada teologia da prosperidade criou essa mentalidade mercantilista do dízimo. Outro dia, um pequeno empresário, com apenas um mês de conversão, comprou um bombom por vinte reais para ajudar a pagar a passagem de um missionário de partida para a Venezuela. No dia seguinte, algumas novas oportunidades de lucro chegaram ao seu escritório e ele e sua esposa logo relacionaram uma coisa com a outra.

Há igrejas e pastores encorajando, com sucesso, os fiéis a entregarem ofertas polpudas, prometendo-lhes as tais chuvas de bênçãos (materiais). Alguns dos ofertantes não conseguem nem sequer esconder a negociata que estão realizando com Deus. No auge da euforia, há quem doe todos os seus bens, ou quase todos, não por causa daquela devoção intensa e altruísta da viúva pobre que depositou no gazofilácio dois leptos (pequenas moedas de cobre quase sem valor), mas para poder escapar de uma falência, de uma doença terminal, de uma separação conjugal ou para abrir uma nova empresa e adquirir mais e mais bens de consumo.

Essa capacidade maligna de transformar a arte de dar em arte de receber está profanando e tornando antipática a palavra dízimo, de origem santa. A mão que se abre para ofertar é também a mão aberta para receber algo de maior valor. Isso vai totalmente de encontro àquele princípio ensinado por Jesus: “Há maior felicidade em dar do que em receber” (At 20.35).

Jesus deixou claro que o maior valor da contribuição é espiritual e não monetário. É por esta razão que ele valorizou mais as duas pequeninas moedas de “muito pouco valor” da mulher pobre do que as “grandes quantias” dos ricos (Mc 12.41-44). A legitimidade do dízimo e de qualquer oferta está na vontade de agradecer a Deus, na necessidade de adorá-lo e no privilégio de servi-lo. Daí a postura de Paulo: “Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá” (1 Co 13.3).

O dízimo transformado em dividendos (parte dos lucros líquidos que cabe ao acionista de uma empresa mercantil) inverte os papéis e supervaloriza a obra em detrimento da graça. Deus assume o papel de devedor e o homem assume o papel de credor. A partir do momento em que você contribui com alguma coisa para o reino de Deus ou se nega a si mesmo algum prazer pecaminoso, Deus se torna seu devedor.

 
Originalmente, o dízimo era uma responsabilidade do povo de Deus. Um décimo de todas as posses e de toda a receita de todas as tribos (exceto a tribo de Levi) era destinado aos levitas como retribuição pelo trabalho religioso que realizavam. Já o dízimo dos levitas era destinado aos sacerdotes (Nm 18.21-29). Quando os dízimos não eram pagos, toda a estrutura era abalada, inclusive a assistência às viúvas, aos órfãos e aos estrangeiros (Dt 14.28-29). Além da agradável sensação do dever cumprido, os israelitas fiéis no dízimo e nas demais obrigações éticas eram, naturalmente, abençoados por Deus com fartas colheitas, das quais dependiam sua sobrevivência e seu bem-estar. Essa prosperidade não tem nada a ver com a prosperidade consumista, acentuada hoje em dia (carros importados, roupas sofisticadas, finas iguarias, viagens, os melhores teatros e casas na cidade, no campo e na praia).