O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

5 de junho de 2012

Monergismo versus Sinergismo: Uma Acalorada Disputa Teológica



MONERGISMO VERSUS SINERGISMO: UMA ACALORADA DISPUTA TEOLÓGICA

Rev. Gilson Soares dos Santos

Sempre foi difícil para o ser humano conseguir conciliar a liberdade humana com a onipotência de Deus. Uma das mais acaloradas disputas teológicas sobre onipotência de Deus e liberdade humana, envolvendo as correntes calvinistas e arminianas, é a que trata do sinergismo e do monergismo. Embora nem todo sinergista seja arminiano, todo arminiano é sinergista. São inúmeros os argumentos usados por ambos os lados. Também é grande o número de objeções de uma corrente para com a outra. A seguir, uma compilação sobre este tema.

1 – Sinergismo e Monergismo: uma primeira definição

“Sinergismo está relacionado com a doutrina da regeneração ou novo nascimento como descrita em João capítulo 3. Um monergista é alguém que crê que Deus o Espírito Santo sozinho opera a obra da regeneração que abre os olhos cegos, abre os ouvidos surdos e torna o coração de pedra num coração de carne. O sinergista, por outro lado, crê que a fé é produzida pela nossa natureza humana NÃO-REGENERADA... que um homem natural pode exercer fé aparte da regeneração do Espírito Santo”.[1]

2 – Sinergismo no século XVI

Para entendermos melhor o sinergismo, voltaremos, pelo menos, até ao século XVI, onde ocorreu fortemente a controvérsia sinergista.

“A assim chamada controvérsia sinergista das décadas de 1550 e 1560 encontra sua origem em afirmações de alguns ‘filipistas’ que diziam poder cooperar a vontade até certo ponto na experiência da conversão. Os principais adversários foram Flácio e Strigel, que fizeram análise profunda da questão no Debate de Weimar em 1560. De acordo com Strigel, a vontade, na conversão continua a funcionar de seu modo natural. É simplesmente transformada de má vontade em vontade boa. Mas Flácio asseverava que a vontade natural é inteiramente incapaz de auxiliar na conversão. Não permanece simplesmente passiva; resiste ativamente à graça. Em vista disso, uma vontade completamente nova, um ‘novo homem’, deve ser criado, enquanto que o velho é reprimido e abafado pela graça de Deus.”[2]

3 – O ensino do sinergismo

Vejamos como os sinergistas apresentam seus ensinos:

“De acordo com os arminianos, a regeneração não é exclusivamente obra do homem. É fruto da escolha do homem, pela qual ele se decide a cooperar com as influências divinas externas por meio da verdade. Estritamente falando, a obra do homem é anterior à de Deus. Os arminianos não admitem que haja uma prévia de Deus pela qual a vontade é inclinada para o bem. Naturalmente, eles acreditam também que se pode perder a graça da regeneração. Os arminianos wesleyanos alteram este conceito no sentido de que salientam o fato de que a regeneração é obra do Espírito Santo, ainda que em cooperação com a vontade humana. Eles admitem uma operação prévia do Espírito Santo para iluminar, despertar e atrair o homem. Contudo, eles também acreditam que o homem pode resistir a esta obra do Espírito Santo, e que, enquanto resistir, permanecerá em sua condição não regenerada”.[3]

Um dos sinergistas mais atuantes na atualidade é Norman Geisler. Vejamos como ele defende o sinergismo:

“A Bíblia não apóia a visão de que a graça irresistível seja exercida contrariamente à vontade das pessoas; ela afirma que todos podem, e alguns resistem à graça de Deus. Jesus lamentou: ‘Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo de suas asas e tu não quiseste!’ (Mt 23.37; cf. II Pe 3.9)”.[4]

Geisler continua, em defesa do sinergismo:

“Estêvão se referiu ao orgulho do povo de Deus nas seguintes palavras: ‘Vós sempre resistis ao Espírito Santo (At 7.51). Ainda nos dias de Noé: ‘Então, disse o SENHOR: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem’ (Gn 6.3). Na verdade, apesar de ser tarefa do Espírito Santo ‘convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo’ (cf. Jo 16.8), nem todas as pessoas responderão de maneira positiva à sua ação. Durante o seu ministério terreno, apesar das suas obras sobrenaturais, Jesus não convenceu a todos acerca da necessidade da salvação. Ele, na verdade, chegou a dizer que algumas pessoas rejeitaram de tal forma a obra do Espírito Santo que haviam ‘blasfemado contra Ele’ e, portanto, jamais receberiam o perdão e, por isso, entrariam em ‘condenação eterna’. (cf. Mc 8.28,29)”.[5]

Geisler ainda defende que:

“Somos salvos por meio da fé (Ef 2.8,9); somos justificados pela fé (Rm 5.1); e precisamos crer em Cristo para nos salvarmos (At 16.32). Em cada um destes casos, a fé vem, logicamente, antes da salvação. Nós não nos salvamos, para depois passar a crer; mas sim, cremos para que possamos nos salvar”.[6]

4 – O ensino do monergismo

Vejamos o ensino dos monergistas:

"A palavra “monergismo” consiste de duas partes principais. O prefixo grego “mono” significa “um”, “único”, ou “sozinho”, enquanto o sufixo “ergon” significa “trabalhar”. Tomando juntos significa “o trabalho de um [indivíduo]”.

"Então, para simplificar, monergismo é a doutrina de que o nosso novo nascimento (ou “despertamento”) é obra de Deus, o Espírito Santo somente, com nenhuma contribuição do homem, visto que o homem natural, de si mesmo, não tem nenhum desejo por Deus e não pode entender as coisas espirituais (1 Coríntios 2:14, Romanos 3:11,12; Romanos 8:7; João 3:19, 20). O homem permanece resistente a todos os chamados externos do evangelho até que o Espírito venha para nos desarmar, nos chamar internamente e implantar em nós novas e santas afeições por Deus. Nossa fé vem somente como o resultado imediato do Espírito operando em nós ao ouvir a proclamação da palavra. Mas assim como Deus não nos força a ver contra a nossa vontade quando Ele nós dá olhos físicos, assim também Deus não nos força a crer contra a nossa vontade quando nos dá olhos espirituais. Deus nos dá o dom da visão e nós desejosamente o exercitamos".[7]

Wayne Grudem mostra-nos que em alguns componentes da redenção o homem desempenha uma parte ativa, mas na regeneração não há nenhuma participação ativa do homem. Ele diz:

“é uma obra exclusivamente de Deus. Vemos isso, por exemplo, quando João fala a respeito daqueles a quem Cristo deu poder de se tornarem filhos de Deus – eles ‘não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.13). Aqui João especifica que os filhos de Deus são os que ‘nasceram [...] de Deus’ e que nossa vontade humana (‘a vontade do homem’) não realiza esse tipo de nascimento.”[8]

É de Grudem ainda a seguinte defesa do monergismo:

“O fato de que somos passivos na regeneração fica evidente quando as Escrituras referem-se a ela como ‘nascer’ ou ‘nascer de novo’ (cf. Tg 1.18; I Pe 1.3; Jo 3.3-8). Não escolhemos nos tornar fisicamente vivos e também nas escolhemos nascer – é algo que nos aconteceu; semelhantemente, essas analogias nas Escrituras dão a entender que somos inteiramente passivos na regeneração.”[9]

Os Cânones de Dort afirmam que “a regeneração, renovação, nova criação, ressurreição dos mortos e vivificação, tão exaltada nas Escrituras, a qual Deus opera em nós, sem qualquer contribuição de nossa parte”.

Para Franklin Ferreira e Alan Myatt “A regeneração é uma operação divina num coração morto”. “Sendo uma operação de Deus, a regeneração não é o resultado do desempenho da vontade humana (cf. Jo 1.13)”, argumenta Franklin Ferreira.

Louis Berkhof é bem enfático quanto à defesa do monergismo:

“O único conceito adequado é o da igreja de todos os séculos, de que o Espírito Santo é a causa eficiente da regeneração. Significa que o Espírito Santo age diretamente no coração do homem e muda sua condição espiritual. Não há nenhuma cooperação do pecador nesta obra. É obra do Espírito Santo, direta e exclusivamente, Ez 11.19; Jo 1.13; At 16.14; Rm 9.16; Fp 2.13. Então, a regeneração deve ser concebida monergisticamente. Só Deus age, e o pecador não participa em nada desta ação. Isto, naturalmente, não significa que o homem não coopera com o Espírito de Deus nos estágios posteriores da obra de redenção. É mais que evidente na Escritura que o faz.”[10] (grifo nosso).

O debate é bem amplo entre a ideia de graça operativa e graça cooperativa, e ainda continua, pois é próprio do homem querer dar uma ajudazinha a Deus, é comum no homem querer ser participante de sua regeneração, embora saibamos que, logicamente, nenhum de nós, antes de nascer biologicamente, deu qualquer ajudazinha aos pais, quando trata-se do novo nascimento, o homem quer ter contribuído, e isso, logicamente, é impossível, visto que estávamos mortos em nossos delitos e pecados.

               


[2] HÄGGLUND, Bengt, História da Teologia. 4 Ed.Porto Alegre: Concórdia LTDA. 1989. p. 234.

[3] BERKHOF. Louis, Teologia Sistemática. 6 Ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 2001. p. 440.

[4] GEISLER. Norman, Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD. 2010. p. 167.

[5] Ibidem.

[6] Ibidem. p. 168.

[8] GRUDEM. Wayne, Teologia Sistemática – Atual e Exaustiva. São Paulo: Vida Nova. 2006. p. 584.

[9] Ibidem.

[10] BERKHOF. Louis, Teologia Sistemática. 6 Ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 2001. p. 436.