DIÁLOGOS COM O PR. GILSON SOBRE BLAISE PASCAL
Gilson Soares dos Santos
Blaise Pascal, matemático, cientista e
filósofo francês, nasceu em Clermont em 1623 e morreu em 1662. Foi o inventor
da calculadora. O que chama a atenção em Pascal é sua defesa da fé em Deus, uma
fé ligada ao cristianismo, chegando a elaborar um projeto de uma Apologia ao Cristianismo, cujos
fragmentos estão ordenados em os
pensamentos. É dele a frase “O coração tem razões que a própria razão
desconhece”.
Quero, nesta postagem, em forma de uma conversa, trazer um pouco sobre o
filósofo Blaise Pascal. Os nomes das personagens abaixo, Theo, Filó e Sofia,
são, é claro, fictícios. Porém o assunto sobre Pascal é verdadeiro.
THEO: Gostaria que o
senhor, Pr. Gilson, em rápidas palavras, levantasse a biografia de Blaise
Pascal. É possível?
PR.
GILSON: Eu
posso dizer que ele era francês, nasceu em Clermont em 1623 e morreu em 1662.
Era um filósofo, considerado cristão, e muito inteligente. Mas quem melhor
descreve Pascal é a sua irmã Gilberte Périer, que foi quem escreveu a biografia
de Pascal. Ela diz sobre ele o seguinte: “Tão logo meu irmão alcançou a idade
da razão, deu sinais de inteligência extraordinária, seja com pequenas respostas
dadas a propósito de diversas coisas, seja com certas perguntas sobre a
natureza das coisas que surpreendiam a todos.”. Gilberte, a irmã de Pascal, diz
que ele nunca foi ao colégio, mas foi educado por seu pai, o senhor Etiene
Pascal.
FILÓ: O que havia de tão
especial em Pascal para deixar sua irmã admirada?
PR.
GILSON: Pascal
com 16 anos de idade completou um tratado original sobre as seções cônicas,
contribuiu para o desenvolvimento do cálculo diferencial e originou a teoria
matemática da probabilidade. Com 18 anos inventou a máquina aritmética, a
primeira calculadora, e com 23 anos inventou a experiência do vazio,
demonstrando que todos os fenômenos até então atribuídos ao vazio são, ao
contrário, causados pelo peso do ar.
SOFIA: O que são seções
cônicas?
PR.
GILSON: Seção
cônica “é um corte em cones
completos por meio de um plano paralelo,
não-paralelo ou perpendicular ou a um plano de referência. Estas seções geram
as curvas cônicas nas interseções da superfície do cone com os planos
cortantes.” Eu acho melhor a gente não ir atrás desses detalhes no estudo de
Pascal, a gente pode perder o foco.
SOFIA: Concordo. Essa
definição quase me dá um nó na mente.
FILÓ: Eu li um artigo
sobre uma tal “aposta de Pascal”, e
li que essa é a parte mais importante de sua filosofia. É verdade? E o que é
essa “aposta de Pascal?”
PR. GILSON: Eu não
diria que a “aposta de Pascal” é a parte mais importante de sua filosofia. Toda
a filosofia de Pascal é importante.
FILÓ: Mas, o que é
essa aposta?
PR. GILSON: A aposta
de Pascal consiste no seguinte:
- Para Pascal, não podemos saber pela
razão se Deus existe. Mas também não podemos provar, pela razão, que ele não
existe.
- Para ele, não podemos provar, pela
razão, que existe uma pós vida. De igual modo não podemos provar, pela razão,
que não existe uma pós vida.
- Então, Pascal diz que, nesse caso, é
preciso apostar, ou seja, fazer uma escolha. Não existe um meio termo. Ou eu
acredito que Deus existe ou eu descreio de sua existência. Ou eu acredito em
vida após a morte ou não acredito. De um jeito ou de outro, estou apostando.
FILÓ: E o resultado
dessa aposta...
PR. GILSON: Segundo
Pascal, o homem só saberá o resultado da sua aposta depois que morrer.
THEO: Sim. Mas o que
há de extraordinário nessa aposta de Pascal para ser considerado a parte
interessante da sua filosofia?
PR. GILSON: O que há
de interessante é o seguinte:
- Se alguém apostar que Deus existe.
Acreditar em Deus e viver segundo seus padrões. E depois da morte Deus não
existir, o que essa pessoa perdeu? Segundo Pascal, nada.
- Porém, se alguém apostar que Deus não
existe. Não acreditar em Deus nem viver segundo seus padrões. E depois que essa
pessoa morrer, chegar do outro lado, descobrir que existe vida após a morte e
que existe um Deus que está lá lhe esperando para dar uma sentença de
condenação. O que essa pessoa perdeu? Segundo Pascal, tudo.
- Para Pascal, mesmo que não se possa
provar a existência de Deus ou do pós vida, é uma boa aposta acreditar neles.
Não temos nada a perder.
SOFIA: Interessante
essa “aposta de Pascal”.
PR. GILSON: Para
alguns crentes a “aposta de Pascal” é boa, porque:
- Se Deus não existe, a vida do crente é
uma vida maravilhosa de qualquer forma. Se ele existe, muito mais ainda. Além
dessa vida ser maravilhosa, a próxima será ainda melhor.
THEO: Então, a aposta
a favor da existência de Deus é uma coisa boa.
PR. GILSON: A questão
toda é a seguinte: será que uma pessoa que aposta na existência de Deus, mas
coloca a possibilidade dele não existir, está agradando a Ele? O texto de
Hebreus 11.6 diz que é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que
Ele existe, pois todo pensamento diferente disto é falta de fé e, segundo o
mesmo texto “sem fé é impossível agradar a Deus”.
FILÓ: Isto quer dizer
que uma pessoa que crê em Deus, mas duvida que ele realmente exista, pode estar
condenada.
PR. GILSON: Para
Pascal, a aposta não pode ser evitada.
Devemos crer ou não na existência de Deus. E, para ele, supor que não há Deus
alem da sepultura é uma aposta perigosa.
THEO: Eu vou apostar
na existência de Deus.
FILÓ: Eu acho que
muitos não apostam na existência de Deus.
PR. GILSON: Para
agradar a Deus é preciso crer que ele existe. Pascal, embora tenha pregado
sobre a aposta, realmente acreditava em Deus e procurava servi-lo com lealdade.
SOFIA: Alguém tentou
provar que essa aposta de Pascal era vã?
PR. GILSON: Um ateu
chamado George Smith chegou a afirmar que quem aderia a aposta de Pascal perdia
muito. Ele afirmou que a pessoa perde integridade intelectual. Perde também a
auto estima e uma vida passional satisfatória. Para ele aceitar a aposta de
Pascal é abrir mão da vida e da felicidade. Porém Pascal como um bom cristão
sempre mostrou que apostar em Deus trazia felicidade no presente e realização
futura.
SOFIA: Quais as provas
de que Pascal era realmente um cristão?
PR. GILSON: Os seus
escritos comprovam isto. Na noite do dia 23 de novembro de 1654, Pascal
escreveu o memorial. Esse memorial Pascal costurou em sua roupa e
o manteve assim até o resto de sua vida. Quando Pascal faleceu, um empregado
seu descosturou o memorial de sua
roupa.
THEO: O que tinha
nesse memorial?
PR. GILSON: O memorial começa com uma invocação ao
Deus de Abraão, Isaque e Jacó. E termina com as seguintes palavras:
"Jesus
Cristo. Jesus Cristo. Eu dele me havia separado; eu o afastei, o reneguei e o
crucifiquei. Que nunca mais dele me separe. Que só permaneça nos caminhos
ensinados pelo Evangelho. Renuncia total e doce. Completa submissão a Jesus
Cristo e a meu diretor. A alegria eterna por um dia de prova sobre a terra. Non
obliviscar sermones tuos. Amem."
THEO: É verdade que
Pascal disse: “o coração tem razões que a própria razão desconhece”?
PR. GILSON: É sim. É
dele esta famosa frase. Ele a usou enquanto tratava das questões referentes à
razão e a fé. Pascal fez oposição a Descartes, porém não excluiu o uso da razão
para apoiar as verdades da fé cristã.
THEO: Podemos dizer
que Pascal usava uma apologética racional para defender as verdades cristãs?
PR. GILSON: Pascal usava
a evidência, embora tenha afirmado que tentar provar a existência de Deus é um
sinal de fraqueza. Ele chegou a apresentar doze provas do cristianismo.
SOFIA: Pascal foi
condenado à morte?
PR. GILSON: Não.
Blaise Pascal morreu de tumor abdominal, precisamente à 1 hora do dia 19 de
Agosto de 1662. Aos trinta e nove anos e dois meses de idade. Antes de sua
morte, havia escrito a famosa Oração para
pedir a Deus o bom uso das doenças.
FILÓ: Que oração! O
que ele diz nessa oração?
PR. GILSON: Um
pequeno resumo dela:
"Não
vos pego saúde, nem doença, nem vida, nem morte, mas sim que disponhais de
minha saúde e de minha doença, de minha vida e de minha morte, para vossa
gloria, para minha salvação e para o beneficio da Igreja e de vossos santos,
dos quais espero fazer parte por vossa graça. Só vós sabeis aquilo que é adequado
para mim: sois o Senhor supremo, fazei o que quiserdes. Dai-me ou retirai de
mim, mas conformai minha vontade à vossa. E que, com submissão humilde e
perfeita e com santa confiança, eu me disponha a receber as ordens de vossa
providência eterna. e que eu adore igualmente tudo aquilo que me vem de vós".
THEO: Essas foram as
últimas palavras dele?
PR.
GILSON: Não.
Suas últimas palavras foram “que o Senhor
nunca me abandone!”.
THEO: O cara era um crente.
PR.
GILSON: E
linda a história de Pascal e muito boa sua filosofia. Embora Voltaire tenha
afirmado que Pascal incentivava ao fanatismo.
SOFIA: Vai nos recomendar
algum livro para leitura?
PR.
GILSON: Para
saber mais sobre Pascal, é bom ler: PASCAL, da coleção OS PENSADORES da Editora
Abril. Recomendo também ENCICLOPÉDIA DE APOLOGÉTICA de Norman Geisler, Editora
Vida. E ainda o Volume 4 da coleção HISTÓRIA DA FILOSOFIA de Giovani Reale e
Dario Antiseri.