III –
VISÃO GERAL DAS ABORDAGENS ÉTICAS
Pr. Gilson Soares dos Santos
3 – Visão geral das
abordagens éticas
O que a Ética tenta
responder? As diversas abordagens éticas tentam responder questões pertinentes
ao que é certo ou errado. Se destrinçarmos de maneira meticulosa as abordagens
éticas, certamente encontraremos muitas variantes, entretanto, queremos
apresentar apenas algumas das principais abordagens éticas. Vejamos:
3.1 – O Antinomismo
Vejamos
o que defende essa abordagem ética:
“É uma abordagem ética, segundo a qual, não existem
normas objetivas a serem obedecidas. É a ausência de normas. [...] Esse tipo de
visão encontra abrigo na mente de muita gente, principalmente entre os mais
jovens, que anseiam por liberdade, sem refletir muito bem sobre as
responsabilidades que nossas ações incorrem. [...] Na rebelião da juventude, na
década de 1960, os jovens, na França, bradaram: “É proibido proibir”. Na onda
do movimento hippie, muitos naufragaram, consumindo e consumidos pelas drogas,
adotando um estilo de vida paradoxal, que visava, no entender de seus amantes,
ir de encontro à sociedade organizada, passando por cima de suas normas e
valores.”.
Norman Geisler nos fala do
antinomismo nos seguintes termos:
“A primeira alternativa no que diz respeito às normas
éticas é que não existe norma alguma, ou pelo menos nenhuma norma objetiva. Ou
seja: estamos literalmente sem lei (anti-nomos) para guiar ações éticas
relevantes. As alegadas normas éticas que os homens usam, ou são destituídas de
valor objetivo ou destituídas de relevância empírica. São, ou puramente
subjetivas, ou completamente emotivas. Duas posições que têm pontos de vista,
antinomistas são o existencialismo e o emotivismo ”..
“[...] Não há nenhum princípio moral (tal como “não se
deve mentir”). [...] Se não houver padrões morais, não pode haver julgamentos
morais. [...] Segundo o ponto de vista antinomista não existe nenhuma norma
objetiva mediante a qual o julgamento possa ser feito.”
O antinomismo, dentro da Ética
Cristã, está ligado à posição daqueles que abraçam uma aversão à Lei Moral e
uma perspectiva teológica que coloca a lei e o evangelho como opositores,
chegando a afirmar que o cristão, que é justificado mediante a fé, não precisa
cumprir a lei moral.
Na obra “A Glória da Graça de Deus”, editada por Franklin Ferreira, há um capítulo,
da autoria de Jorge Max da Silva, onde ele mostra a posição antinomista, adotada
por alguns evangélicos, como extremamente perigosa. Vejamos como ele no-la
apresenta:
“Em síntese, ela denota uma perspectiva teológica que
“opõe à lei e ao evangelho a ponto de afirmar que o cristão, justificado
mediante a fé, não tem obrigação alguma para com a lei moral”. A tese central
defendida pelos antinomistas é que a lei moral foi abolida por Cristo e
revogada pelo evangelho, pois quem está debaixo da graça não está mais debaixo
da lei, logo, da obrigação de guardá-la.”.
3.2 – O Generalismo
Agora, vejamos o que prega o generalismo:
“Essa doutrina prega que deve haver normas gerais, mas
não universais. E o que deve ser levado em conta são os resultados absolutos.
Nenhum ato ou conduta podem ser considerados certo ou errado, a não ser em
função de seus resultados para o indivíduo, ou para a sociedade. As regras
existem, mas podem ser quebradas, dependendo dos fins. Tal afirmação
corresponde ao que pregava o filósofo Maquiavel: “Os fins justificam os meios”.
Os generalistas são utilitaristas. Só é certo o que produz melhor resultado
(mais felicidade ou prazer do que dor). Uma norma pode ser boa hoje, e não
servir amanhã. Depende da sociedade. Se, por exemplo, o adultério é errado em
certo período, em outro, poderá ser aceito. Dessa forma, pode-se resumir essa
abordagem, dizendo que “há um só fim absoluto (o máximo bem) e todos os meios
(regras, normas, etc.) são relativos àquele fim... Se, nesta situação, mentir
seria mais útil ou vantajoso para a maioria dos homens, então se deve mentir”..
Nas palavras de Norman Geisler, em
sua obra “Ética Cristã: Alternativas e
Questões Contemporâneas”, o Generalismo prega, por exemplo, que “Mentir é,
geralmente, mas nem sempre errado. [... Mentir é errado como regra geral, mas
há ocasiões em que a regra deve ser quebrada. [...] É correto mentir quando o
mentir realizará um bem maior do que não mentir”.
Geisler continua falando do
generalismo da seguinte maneira:
“Para alguns generalistas, pois, não há regras universais
que realmente não tenham exceção. Na melhor das hipóteses são apenas normas que
podem ser quebradas se a ocasião assim o exigir. Desta maneira, mentir para
salvar uma vida pode ser certo, embora a mentira seja geralmente errada.”.
3.3 – O Situacionismo
O situacionismo é outra das
abordagens éticas. É também chamado de Ética Situacional. Foi ensinado por
Hoseph Fletcher e sua premissa é “Fazer aquilo que é mais cheio de amor”.
Vejamos como é apresentado por Elinaldo Renovato de Lima em sua obra sobre
Ética Cristã:
“É um meio-termo entre o Antinomismo e o Generalismo. O
primeiro não tem regra nenhuma; o segundo admite regras gerais, mas não
universais. Joseph Fletcher foi seu principal teórico. Para ele, só há uma lei
para tudo: a lei do amor. “Somente o mandamento do amor é categoricamente bom”.
Geisler cita um exemplo: “Estamos obrigados a contar a verdade, por exemplo,
somente se a situação assim exige; se alguém quer ser assassino, pergunta onde
está sua vítima; nosso dever pode ser mentir” (ibidem, p. 53); “se uma mentira
for contada em amor, é boa e certa” (Ibidem, p. 55)- Em resumo, nessa visão, o
certo e o errado dependem da situação, em função do amor às pessoas. Baseiam-se
inclusive na Bíblia, que resume toda a lei no amor (Mt 22.34-40). “O amor não
faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13.10).”.
Nesse contexto, para o situacionismo,
roubar para salvar uma pessoa que está morrendo de fome ou mentir para salvar
uma pessoa inocente de um assassino não seria errado. O situacionismo abre
demais as portas para padrões individualistas. Para os que adotam esta
abordagem ética o ato é coberto pelo bem maior.
Na Ética Situacional (o
situacionismo), até mesmo os princípios mais reverenciados devem ser deixados
de lado se estiverem em conflito com o amor. O amor deve ser colocado acima do
sistema, dos mandamentos e das regras. Em qualquer situação, o amor diz como
devemos agir. Em síntese, segundo o situacionismo, a norma reguladora da ética
cristã é o amor.
3.4 – O Absolutismo
Essa abordagem ética consiste no
seguinte:
“Essa doutrina sustenta que “há muitas normas absolutas
que nunca entram realmente em conflito”. Platão ensinava que existem normas ou
virtudes universais que nunca precisam variar. Dentre essas virtudes estariam a
coragem, a temperança, a sabedoria e a justiça. Emanuel Kant defendia a ideia
de um “Imperativo Categórico”, que seria a norma para a vida por excelência.
Para entender essas ideias, alguns exemplos são úteis. Kant dizia que “nunca se
deve tirar a vida inocente, e nunca se deve contar uma mentira”. Para ele, não
justifica mentir, mesmo para salvar uma vida. Ele afirma que, mesmo havendo
desvantagem em falar a verdade, isso deve ser feito, pois, ao mentir, estaremos
agindo contra todos os homens. Quanto à verdade, ele afirma: Porque “ser veraz
(honesto) em todas as declarações é, portanto, um mandamento incondicional
sagrado da razão, e não deve ser limitado de qualquer maneira pela
conveniência””
Concluindo essa parte
sobre abordagens éticas contemporâneas, recorremos ao texto de Elinaldo
Renovato de Lima:
As abordagens éticas contemporâneas podem ser estudadas
pelos cristãos, como forma de se avaliar a conduta a ser seguida, na visão dos
homens, mas é na Bíblia Sagrada que se encontram os referenciais éticos
indispensáveis para um viver santo e digno, em meio a uma sociedade que é vista
por Deus como reprovável e corrompida. Diz S. Paulo: “Para que sejais
irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração
corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo” (Fp
2.15).
Sabemos que os padrões
de ética humana são diferentes de um país para outro, de uma geração para
outra. Porém, os padrões da Ética Cristã, sendo norteados pela Revelação de
Deus, as Escrituras Sagradas, não podem mudar. Embora muitos queiram adequar o
ensino das Escrituras ao pensamento da pós-modernidade, é preciso saber que a
Palavra de Deus esta acima de todas as coisas e todas as decisões sobre o certo
e o errado devem ser pautadas pela Revelação Soberana de Deus, a Bíblia
Sagrada.
GEISLER, Norman L. Ética
Cristã: Alternativas e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova. 2001.
p.24.