O Pr. Gilson Soares dos Santos é casado com a Missionária Selma Santos, tendo três filhos: Micaelle, Álef e Michelle. É servo do Senhor Jesus Cristo, chamado com santa vocação. Bacharel em Teologia pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional), Campina Grande/PB; Graduado em Filosofia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba); Pós-Graduando em Teologia Bíblica pelo CPAJ/Mackenzie (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Professor de Filosofia e Teologia Sistemática no STEC. Professor de Teologia Sistemática no STEMES, em Campina Grande - Paraíba. Pastor do Quadro de Ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (AIECB). Pastoreou a Igreja Evangélica Congregacional de Cuité/PB, durante 15 anos (1993-2008). Atualmente é Pastor Titular da Igreja Evangélica Congregacional em Areia - Paraíba.

17 de julho de 2016

Princípios da Ética Cristã

IV – PRINCÍPIOS DA ÉTICA CRISTÃ

Pr. Gilson Soares dos Santos

      Antes de prosseguirmos com nosso curso é importante aprendermos alguns princípios da Ética Cristã.

4.1 – O Princípio da fé

     Comecemos com o que o apóstolo Paulo escreveu aos Romanos 14.22,23, conforme encontramos na Bíblia, na versão de Almeida Revista e Atualizada (ARA):

22 A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova.
23 Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado. (Romanos 14.22,23)

     O texto nos mostra a bem aventurança do crente que não se condena naquilo que aprova, destacando que aquele que tem dúvidas naquilo que aprova, não age com fé, sendo assim, comete pecado.

     Sobre o princípio da fé e sobre esse texto, Renovato comenta o seguinte:

Neste texto, vê-se a ênfase na fé ou na convicção do crente diante de Deus, quanto ao que ele faz ou deixa de fazer. Ele não precisa recorrer a paradigmas humanos ou lógicos para posicionar-se quanto a atos ou palavras. Se tem dúvida, não deve fazer, pois “tudo o que não é de fé é pecado.[1].

     Russel N. Champlin, em sua obra “O Novo testamento Interpretado Versículo por Versículo”,  comentando esse mesmo texto nos diz o seguinte:

O crente que exerce a sua liberdade crista sentir-se-á particularmente feliz se exercê-la de tal modo que não encontre causa de autocondenação, isto é, se a sua própria consciência não julgá-lo devido as suas ações. Mas aquele que prejudica a consciência de um irmão na fé dificilmente tem o direito de reivindicar essa bem aventurança. [...] Temos aqui a ideia da certeza quanto a orientação dada pelo Espírito, isto é, a aplicação prática do conhecimento no que tange a conduta apropriada do crente, sobretudo no que se aplica a liberdade cristã. [...] Isto subentende que o crente sujeita a teste a sua conduta. Aprovamos aquilo que mostra ser vantajoso para a comunidade cristã inteira e não somente para nós mesmos.[2]

     Isso quer dizer que se o nosso coração não tem dúvida, tudo o que fizermos está certo? Posso fazer tudo o que meu coração aprova? Não. Não é isso que o texto quer dizer. Vejamos o comentário de Renovato:

A pergunta a ser feita é: “O que pretendo fazer ou dizer é de fé, com base na Palavra de Deus?”. Se a resposta for positiva, a atitude será lícita. Se não, deve ser descartada, por ferir a ética cristã. Se algo é de fé ou não na ética cristã, não deve ser uma questão pessoal, mas de fé, com base na Bíblia. Essa é a lógica do Novo Testamento.[3].

     A palavra fé está intimamente ligada à “convicção”. Porém “convicção” que tenha base na Palavra e não na nossa intuição sobre as coisas.

4.2 – O princípio da licitude e da conveniência

     Para entendermos este princípio, iniciemos com a leitura do texto bíblico que se encontra em I Coríntios 6.12:

12 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. (I Coríntios 6.12)

     O texto acima está ligado à questão da licitude e da conveniência. Sobre isto Renovato comenta:

Esse critério orienta o cristão a que não faça as coisas apenas porque são lícitas, mas porque são lícitas e convêm, à luz do referencial ético que é a Palavra de Deus. Há quem entenda esse princípio, argumentando que se podemos fazer algo, é porque isso é lícito. À luz da ética cristã, não é bem assim que se deve argumentar. Primeiro, diante de uma atitude ou decisão a tomar, é preciso indagar se tal comportamento está de acordo com a Palavra de Deus, se tem apoio nas Escrituras. Segundo, mesmo que seja lícito, se convém. [...] Conforme este princípio, o cristão deve indagar. “O que desejo fazer é lícito? Convém fazer, segundo a Palavra de Deus?”. Se a resposta for positiva, diante da Bíblia, pode ser feito. Se não, deve ser rejeitado. O que é lícito e conveniente não fere outros princípios bíblicos.[4].

     Sobre licitude e conveniência, podemos ainda recorrer ao comentário que Champlin faz sobre esse texto de I Coríntios 6.12. Vejamos o que ele diz:

...Todas as cousas me são lícitas... Podemos supor que o partido dos libertinos, na igreja cristã de Corinto, usava esse slogan, entre outros, provavelmente utilizando-se de expressões paulinas, embora distorcidas. [...] A resposta de Paulo é dupla: 1. Nem todas as coisas me são convenientes, nem pessoal e nem socialmente, sem dúvida. Em outras palavras, devo ter cuidado com as minhas ações, para que não venha a prejudicar a outros. (Com isso se podem comparar os trechos de I Cor. 7:35; 10:23 e 12:7). 2. Todas as coisas são legitimas, isto é, estão em meu poder de serem praticadas, mas ...eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.[5]

     Em síntese, o que nos diz o princípio da licitude e da conveniência para seu uso na ética cristã? Mesmo as coisas que são lícitas só podem ser praticadas se se mostrarem convenientes segundo a Palavra de Deus.

4.3 – O princípio da licitude e da edificação

     Esse princípio encontra-se no texto bíblico de I Coríntios 10.23, o qual diz:

23 Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam. (I Coríntios 10.23).

Com base neste texto, não basta que alguma conduta ou proceder seja lícito, mas é preciso que contribua para a edificação do cristão. É um princípio irmão gêmeo do anterior. A ênfase aqui é na edificação espiritual de quem deve posicionar-se ante o fazer ou não fazer algo. [...] A questão a ser posta, segundo esse princípio é: “O que quero fazer é lícito? Se é lícito, tal coisa contribui para minha edificação e dos que estão à minha volta?”. A resposta tem de ser confrontada com o referencial ético, que é a Palavra de Deus. Se for positiva, a ação deve ser realizada. Se não, deve ser deixada de lado.[6]

4.4 – O princípio da glorificação a Deus

     Este princípio pode ser encontrado, claramente, em I Coríntios 10.31:

31 Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. (I Coríntios 10.31).

     Sobre este princípio, da glorificação a Deus, é válido aqui o comentário de Elinaldo Renovato de Lima. Ele escreve o seguinte, em seu livro sobre Ética Cristâ:

Aqui temos um princípio ético abrangente, que inclui não só o comer e o beber, mas “qualquer coisa”, que demande um posicionamento cristão. No dia a dia, o cristão sempre se depara com situações, às vezes triviais, que exigem uma tomada de posição. [...] Assim, qualquer atitude ou decisão a tomar, em termos morais, financeiros, negócios, transações, etc., tudo pode passar pelo crivo do princípio da glorificação a Deus; e o crente fiel, na direção do Espírito Santo, saberá responder sem maiores dificuldades. [...]  A indagação que o cristão deve fazer, com base nesse princípio, é: “O que desejo fazer ou dizer contribui para a glorificação de Deus?”. Se a resposta for afirmativa, pelo Espírito Santo, a ação ou atitude pode ser executada. Se for negativa, é melhor que seja rejeitada. O que contribui para glória de Deus não fere nenhum princípio bíblico.[7]

     Vale salientar aqui que uma pessoa, morta em seus delitos e pecados, jamais saberá diferenciar o que glorifica e o que não glorifica a Deus. Esse princípio, então, aplica-se ao crente, regenerado, cuja mente consegue perceber quais ações glorificam a Deus.

4.5 – O Princípio da ação em Nome de Jesus

     Esse princípio da Ética Cristã pode ser encontrado na Carta do Apóstolo Paulo aos Colossenses 3.17. Assim está escrito:

17 E tudo quanto fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. (Colossenses 3.17).
           
            Explicando esse princípio, a partir do texto em questão, Elinaldo Renovato de Lima assim escreveu em sua obra “Ética Cristã”:

A condição do crente para realizar ou deixar de realizar algo, decorre da autoridade que lhe foi conferida pelo nome de Jesus. Assim, quando o cristão se vê na contingência de tomar uma decisão, de ordem espiritual, ou humana, pode muito bem concluir pela ação ou não, se puder realiza-la no nome de Jesus, conforme orienta o apóstolo Paulo aos irmãos colossenses. [...] o teste a ser feito, diante da decisão a tomar, é: “Posso fazer isso em nome do Senhor Jesus?”. Se a resposta, pelo Espírito Santo, for sim, é lícito e convém. Se não, não deve ser feito ou dito, pois não é lícito nem convém. Os princípios éticos cristãos não se excluem, mas se somam para fortalecer a decisão a ser tomada.[8].

     É sabido que muitos usam o nome do Senhor Jesus de maneira vã. Mas lembremos que estamos falando sobre a Ética Cristã que, necessariamente, deve nortear a vida do verdadeiro cristão. E todo cristão verdadeiro sabe agir em nome do Senhor Jesus, o Cristo.

4.6 – O princípio do fazer para o Senhor

            Esse princípio está expresso formalmente em Colossenses 3.23.

“23 E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens.” (Colossenses 3.23).

     Ainda recorrendo ao que escreveu Renovato, podemos encontrar o seguinte comentário para este princípio:

O apóstolo S. Paulo asseverou: “Porque persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo” (G11.10). [...] Essa é a questão: Diante de uma atitude, de uma decisão, devemos indagar: “Estamos agradando a Deus ou aos homens? Estamos fazendo, de todo o coração, ao Senhor?”. A resposta deve ser honesta, consultando não o coração, mas a Palavra de Deus.[9].

     O princípio de fazer para o Senhor é importante para orientar o cristão naquelas ocasiões onde a dúvida sobre qualquer coisa surgir. Pensemos que devemos fazer para o Senhor, sendo assim, nenhum cristão que experimentou o novo nascimento e busca uma vida de acordo com a vontade de Deus faria algo para agradar aos homens, desagradando ao Senhor. Também, o cristão que anda segundo os padrões divinos, ao fazer o bem a alguém pensará em agradar ao seu Senhor.

4.7 – O princípio do respeito ao irmão mais fraco

     Um dos textos que nos lembram o princípio do irmão mais fraco é I Coríntios 8.9-13. Leiamos:

9 Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos.
10 Porque, se alguém te vir a ti, que és dotado de saber, à mesa, em templo de ídolo, não será a consciência do que é fraco induzida a participar de comidas sacrificadas a ídolos?
11 E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.
12 E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais.
13 E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo. (I Coríntios 8.9-13).

     A respeito desse princípio Renovato nos diz:

No texto bíblico acima, vemos que o apóstolo ensinava sobre os que comiam coisas sacrificadas aos ídolos. S. Paulo diz que os mesmos tinham “fraca consciência” e que os que têm ciência, sentando-se à mesa no templo dos ídolos, podem induzir o que é fraco a pecar. “E, pela tua ciência, perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu... ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo” (ênfases minhas). Desse texto, podemos tirar várias lições para a vida do cristão em relação aos outros irmãos mais novos na fé, ou mesmo antigos, que têm consciência fraca. O apóstolo chega ao extremo de dizer que se pelo manjar que come, um irmão se escandaliza, nunca mais haveria de comê-lo.[10].

4.8 – O princípio do evitar a aparência do mal

     Comecemos com o texto que ampara esse princípio:

“22 Abstende-vos de toda aparência do mal”. (I Tessalonicenses 5.22).

     Em seu livro “Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo”, Elinaldo Renovato apresenta o princípio do desviar-se da aparência do mal da seguinte maneira:

Ser cristão verdadeiro não é nada fácil num mundo em que os valores morais estão relativizados. Não basta evitar o mal, é preciso evitar também a aparência do mal. [...]O que se deve perguntar é: “O que penso em fazer ou dizer pode dar a aparência do mal?”. Se a resposta for positiva, é melhor evitar o que se tem em mente. Se for negativa, pode ser feito, mas levando-se em conta os outros princípios da ética cristã citados.[11].

     Diante dos princípios expostos acima, alguém pode mencionar que para todo e qualquer caso de dúvida devemos seguir nossa consciência. Será que é isso mesmo? Nas palavras de R. C. Sproul, a coisa não é tão simples assim, pois “a função da consciência em tomarmos decisões éticas tende a complicar as coisas para nós.”[12].
     Por que o R. C. Sproul coloca a consulta à consciência como algo que pode complicar as coisas? Ele mesmo explica no contexto:

“Somos tendentes a pensar na consciência como uma coisa celestial, um ponto de contato com Deus, e não um órgão infernal. Pensamos no personagem de desenho animado que está diante de uma decisão ética, enquanto um anjo está sentado num dos ombros, e um demônio, no outro, brincando de cabo de guerra com a cabeça do pobre homem. A consciência pode ser a voz do céu ou do inferno; ela pode mentir, bem como impelir-nos à verdade. Pode filar de ambos os lados de sua boca, tendo a capacidade tanto de acusar como de desculpar.”[13].

     No entanto, o mesmo Sproul vem em defesa da consciência, ao dizer que: “Embora a consciência não seja o tribunal supremo de ética, ê perigoso agir contra ela. [...] A consciência é um instrumento delicado que precisa ser respeitado”.[14]

     A conclusão é que precisamos seguir os princípios da ética cristã, usando nossa consciência, porém esta deve ser guiada pela Palavra de Deus.




[1]  LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo. Rio de Janeiro: CPAD. 2006. p.16.
[2]  CHAMPLIN, Russel N. O Novo Testamento, Interpretado Versículo por Versículo. Volume III. São Paulo: Candeia. 1988. p.851.
[3]  LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo. Rio de Janeiro: CPAD. 2006. p.17.
[4]  Idem p.18-19.
[5]  CHAMPLIN, Russel N. O Novo Testamento, Interpretado Versículo por Versículo. Volume III. São Paulo: Candeia. 1988. p.851.
[6]  LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as Questões Morais do Nosso Tempo. Rio de Janeiro: CPAD. 2006. p.19-20.
[7]  Idem p.21.
[8]  Idem p.22-23.
[9]  Idem p.24.
[10] Idem p.25.
[11] Idem  p.30.
[12]  SPROUL, R. C. Como Devo Viver Neste Mundo? São José dos Campos: FIEL. 2012. p.120.
[13]  Idem.
[14]  Idem p.120-123.