O QUE PENSOU ARISTÓTELES SOBRE DEUS, A ALMA, AS VIRTUDES
E A FELICIDADE
Gilson
Soares dos Santos
I_ Aristóteles
Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu em
Estagira e morreu em Atenas. Foi aluno de Platão e tutor de Alexandre, o
grande. Tratou de diversos temas em seus
escritos filosóficos, por exemplo, física, metafísica, lei, poesia, drama,
música, lógica, retórica, governo, ética, psicologia, biologia e zoologia. Era
filho de Nicômaco, que era médico. Aos 17 anos partiu para Atenas, na Grécia, e
lá tornou-se discípulo de Platão. Veremos os pontos principais de Aristóteles
que podem estar ligados a questões religiosas.
1.1_ Sobre Deus
Para Aristóteles, Deus é o MOTOR IMÓVEL. Deus
é a substância supra-sensível. Como ele chegou a essa tese do Motor Imóvel?
Buscando as causas e os primeiros princípios. Segundo ele, “quem busca as
causas e os princípios primeiros necessariamente deve encontrar Deus, porque
Deus é a causa e o princípio primeiro por excelência.”.
Vejamos como ele descreve o Motor Imóvel, que é Deus, da seguinte maneira:
"De tal principio, portanto, dependem o céu e a
natureza. E o seu modo de viver é o mais excelente: é aquele modo de viver que
só nos é concedido por breve tempo. E Ele está sempre nesse estado. Para nós,
isso é impossível, mas para Ele não é impossível, porque o ato do seu viver é prazer.
Também para nos são sumamente agradáveis a vigília, a sensação e o
conhecimento, precisamente porque são ato e, em virtude disso,
também esperanças e recordações. (. ..) Assim, se nessa
feliz condição em que por vezes nos encontramos Deus se encontra perenemente,
isso é maravilhoso; se Ele se
encontra em uma condição superior, é ainda mais
maravilhoso. E Ele efetivamente se encontra nessa condigção. Ele também é Vida,
porque a atividade da inteligência é vida e Ele é precisamente
essa atividade. E sua atividade, que subsiste por si mesma, é vida ótima e
eterna. Com efeito, dizemos que Deus é vivente, eterno e ótimo, de modo que a
Deus pertence uma vida perenemente contínua e eterna: isso, portanto, é Deus."..
Giovani Reale e Dario Antiseri, em História
da Filosofia, Vol 1, ainda traz o seguinte comentário sobre o Deus, segundo
Aristóteles:
Mas o que pensa Deus? Deus pensa o que é mais excelente.
E a coisa mais excelente
é o próprio Deus. Deus, portanto, pensa a si mesmo, é
atividade contemplativa de si mesmo: "é pensamento de pensamento".
[...] Deus, portanto, é eterno, imóvel, ato puro, privado de potencialidade e
de matéria, vida espiritual e pensamento de pensamento. Sendo assim,
obviamente, "não pode ter nenhuma grandeza", devendo ser "sem
partes e indivisível". E também deve ser "impassível e inalterável"..
1.2_ Sobre a alma
Vejamos, segundo Reale e Antiseri, como Aristóteles
descrevia a alma:
A alma e a
"forma" (em sentido ontológico), a "entelequia" (isto é, o
ato, a perfeição) de um corpo. Todavia, os seres vivos não tem todos as mesmas
funções e, portanto, terão princípios vitais (ou seja, almas) diferentes,
conforme as funções especificas que lhes são próprias:
1) os vegetais, que podem apenas reproduzir-se e crescer,
A alma terão alma adequada a estas suas faculdades, ou seja, alma e
suas atividades vegetativa;
2) os animais, que tem também percepção do mundo e
capacidade de movimento, seriam igualmente dotados de alma sensitiva;
3) finalmente, os homens que têm também a faculdade de
raciocinar seriam providos, além de alma vegetativa e de alma sensitiva,
igualmente de alma racional..
Aristóteles não cria, como Platão, na
imortalidade da alma. Para ele, a alma não existe fora do corpo. Segundo seu
ensino, no Livro De Alma, a alma nada
sente, nada sofre sem o corpo. Alma não subsiste fora do corpo nem o corpo
existe sem a alma. Os dois formam uma unidade. Sendo assim, Aristóteles não era
Dicotomista (corpo e alma), não era Tricotomista (corpo, alma e espírito),
porém, era Monista (o corpo e a alma formam uma unidade, de modo que um não
existe sem o outro).
1.3_ Sobre virtude
Aristóteles falava sobre a virtude ética a
qual é adquirida com a repetição de uma série de atos sucessivos, ou seja,
através do hábito.
Assim, as virtudes tornam-se como que "hábitos",
"estados" ou "modos de ser" que nós mesmos construímos
segundo o modo indicado. Como são muitos os impulsos e tendências que a razão
deve modelar, também são muitas as "virtudes éticas", mas todas tem
uma característica essencial comum: os impulsos, as paixões e os sentimentos tendem
ao excesso ou à falta
(ao muito ou ao muito pouco); intervindo, a razão deve impor a "justa
medida", que é o caminho intermediário ou "meio-termo" entre os
dois excessos. A coragem, por exemplo, é o caminho intermediário entre a temeridade
e a timidez, e a liberalidade é o justo meio entre a prodigalidade e a avareza..
Lembremos que “meio termo” aqui não é o
mesmo que mediocridade. Porém “meio termo” é “uma culminância”, é um valor, é,
na verdade, a vitória da razão sobre os instintos.
Dentre todas as virtudes éticas, destaca-se a justiça,
que é a "justa medida" segundo a qual se distribuem os bens, as
vantagens, os ganhos e seus contrários. E, como bom grego, Aristóteles reafirma
o mais elevado elogio a justiça: "Pensa-se que a justiça é a mais
importante das virtudes, e que nem a estrela vespertina nem a estrela matutina
sejam tão dignas de admiração quanto ela. E com o provérbio dizemos: 'Na justiça
esta compreendida toda virtude.".
1.4_ Sobre a felicidade
Todas as ações humanas tendem a "fins" que são
"bens". O conjunto
das ações humanas e o conjunto dos fins particulares para os quais elas tendem
subordinam-se a um "fim ultimo", que é o "bem supremo", que
todos os homens concordam em chamar de "felicidade"..
Mas, o que é felicidade, segundo
Aristóteles? Em primeiro lugar, vejamos o que não é a felicidade, segundo o
filósofo:
Para a maioria, é o prazer e o gozo. Mas uma vida gasta
com o prazer é uma vida
que torna "semelhantes aos escravos", e "digna dos
animais". [...] Para alguns, a felicidade é a honra (para o homem antigo,
a honra correspondia aquilo que é o sucesso para o homem de hoje). Mas a honra é
algo extrínseco que, em grande parte, depende de quem a confere. E, de qualquer
maneira, vale mais aquilo pelo qual se merece a honra do que a própria honra,
que é resultado e consequência. Para outros, a felicidade está em juntar
riquezas. Mas esta, para Aristóteles, é a mais absurda das vidas, chegando mesmo
a ser vida "contra a natureza", porque a riqueza é apenas meio para
outras coisas, não podendo portanto valer como fim..
Reale e Antiseri nos mostram em que
consiste a felicidade, segundo Aristóteles:
O bem supremo realizável pelo homem (e, portanto, a felicidade)
consiste em aperfeiçoar-se enquanto homem, ou seja, naquela atividade que
diferencia o homem de todas as outras coisas. Assim, não pode consistir no simples
viver como tal, porque até os seres vegetativos vivem; nem mesmo viver na vida
sensitiva, que é comum também aos animais. Só resta, portanto, a atividade da razão.
O homem que deseja viver
bem deve viver, sempre, segundo a razão..