QUEM DISSE QUE JONATHAN
EDWARDS LIAS OS SEUS SERMÕES AO PREGÁ-LOS PARA A IGREJA?
Pr. Gilson Soares dos Santos
É comum
entre os que se interessam pela vida e obra de Jonathan Edwards (1703-1758),
pastor congregacional, teólogo calvinista e um dos maiores filósofos norte-americano,
descobrir que ele não pregava livremente seus sermões quando ministrava à
igreja, ao contrário, lia-os integralmente. Tornou-se comum acreditar e
divulgar que Edwards dependia inteiramente de um manuscrito que ele tinha que
erguer ao rosto enquanto pregava. Muitos até acrescentam que esse servo de Deus
era demasiadamente tímido, por isso não queria encarar a congregação,
refugiando-se por trás dos seus manuscritos.
Alguns
pregadores na atualidade fazem uso deste recurso, isto é, quando ministram a
Palavra à igreja fazem a leitura do sermão quase integralmente, e alegam que
homens de Deus fizeram uso desse expediente no passado, citando Edwards como um
deles.
Embora
particularmente não faça uso dessa técnica, não sou contra esta maneira de ministrar
a Palavra. Porém não encontro respaldo em Edwards para justificar a prática de
ler os sermões.
Iain H.
Murray nos apresenta uma série de fatos que vão contra essa a suposição de que
Jonanthan Edwards dependia insatisfatoriamente de um manuscrito para pregar.
1_ De onde veio a hipótese
A hipótese
de que Edwards lia os seus sermões vem de um texto escrito por Samuel Hopkins,
que morou um período com o pastor congregacional. No texto ele não diz
explicitamente que o ministro lia os sermões, mas deixa subentendido. Veja o
que diz o texto:
Ele escreveu os seus sermões e com uma letra tão fina e
ilegível que só podiam ser lidos se fossem aproximados dos olhos. (frase Samuel
Hopkins, citada por Iain H. Murray..
À partir
dessa citação de Hopkins se propagou o rumor de que o pastor Jonathan Edwards
pregava os seus sermões, lendo-os para a congregação. A suposição também advém
da comprovação de que o pregador de Northampton deixou, de fato, escrito grande
parte dos seus sermões.
2_ Fatos que objetam a hipótese
O biógrafo
Iain H. Murray, pastor britânico (nascido em 1931), apresenta alguns fatos que
põem em dúvida a hipótese de que Edwards lia dependentemente seus sermões. Vejamos
cinco fatos apresentados por Iain Hamish Murray, em seu livro “Jonathan
Edwards: uma nova biografia”:
a)_ Primeiro Fato
O avô de
Jonathan Edwards, Solomon Stoddard, era contra pregadores que liam os sermões.
Ele chegou a escrever energicamente contra esses pregadores. Ele odiava
pregação enfadonha. Entretanto, Stoddard entregou o púlpito a seu neto,
Jonathan Edwards. Será que, depois de escrever contra pregadores leitores, o
velho Solomon entregaria o púlpito da igreja a um deles?
b)_ Segundo Fato
O próprio
Edwards acreditava que a pregação não é a mesma coisa que ler um livro. Segundo
o próprio Jonathan Edwards, a Palavra deveria ser aberta, aplicada e inculcada
nas pessoas. Ele defendia a aplicação específica e vivida da Palavra de Deus.
c)_ Terceiro Fato
Os sermões
de Edwards, depois de que ele veio a Northampton, eram escritos num livreto de
24 páginas e, de fato, era tão pequeno que podia ser “empalmado”, quase sem ser
visto. A única explicação para isso é que ele não queria exibir seu uso de
anotações. Essa atitude seria inútil se ele diminuísse o tamanho do livreto e tivesse
que ler palavra por palavra do manuscrito.
d)_ Quarto Fato
A partir de
1741 Edwards parou de escrever seus sermões na íntegra. Ele passou a escrever
apenas anotações em um esboço. Um terço dos seus manuscritos eram apenas
esboços. De 1741 em diante haviam poucos sermões de Jonathan Edwards que
pudessem ler lidos palavra por palavra.
e)_ Quinto Fato
Não há
narrativas de testemunhas oculares da leitura de um sermão por Edwards. Ao
contrário, um ouvinte de seus sermões disse que ele não usava gestos quando
pregava mas olhava para a frente.
Então,
podemos entender que o escrito de Samuel Hopkins foi a causa que levou muitos à
dedução infundada de que o pregador e pastor congregacional Jonathan Edwards
precisava ler seus sermões.