PARA O DIA DA BÍBLIA
AS LÍNGUAS BÍBLICAS
Pr. Gilson Soares dos Santos
Nosso estudo
agora concentra-se nas línguas que foram usadas na escrita da Bíblia. O
Hebraico e o Aramaico para o Antigo Testamento e o Grego para o Novo
Testamento, são as línguas originais da Bíblia.
1_ As línguas originais da Bíblia
1.1 – O Hebraico
"Todo o
Antigo Testamento foi escrito em Hebraico, o idioma oficial da nação israelita,
exceto algumas passagens de Esdras, Jeremias e Daniel, que foram escritas em
Aramaico. A mais extensa é em Daniel, que vai de 2.4 a 7.28”.
“O hebraico
faz parte das línguas semíticas, que eram faladas na Ásia (mediterrânea),
exceto em bem poucas regiões. As línguas semíticas formavam um ramo dividido em
grupos, sendo o hebraico integrante do grupo cananeu. Este compreendia o
litoral oriental do Mediterrâneo, incluindo a Síria, a Palestina e o território
que constitui hoje a Jordânia.”
“Integrava
também o grupo cananeu de línguas, o ugarítico, o fenício e o moabítico. O
fenício tem muita semelhança com o hebraico. O primitivo alfabeto hebraico é
oriundo do fenício, segundo a opinião dos versados na matéria. Tudo leva a crer
que Abraão encontrou este idioma em Canaã, ao chegar ali, em vez de trazê-lo da
Caldéia. Em Gênesis 31.47, vê-se que Labão, o sobrinho de Abraão, vivendo em
sua terra, a Caldéia, falava aramaico; ao passo que Jacó, recém-chegado de
Canaã, falava o hebraico.”
“A língua
hebraica é chamada no AT "Língua de Canaã" (Is 19.18) e "língua
judaica" ou "judaico" (2 Rs 18.26,28; Is 36.13). Como a maior
parte das línguas do ramo semítico, o hebraico lê-se da direita para a
esquerda. O alfabeto compõe-se de 22 letras, todas consoantes. Há sinais
vocálicos, sim, mas não podemos chamá-los de letras.”
“Sabe-se
agora que a forma primitiva dos caracteres hebraicos estava em uso na Palestina
1.800 anos antes de Cristo. Exemplos mais recentes das letras hebraicas há no
Calendário de Gézer (950-920 a.C), na Pedra Moabita (850 a.C); na inscrição de
Siloé (702 a.C); nas moedas do tempo dos irmãos Macabeus (175-100 a.C), e nalguns
fragmentos dos escritos achados junto ao mar Morto, a partir de 1947. Esta
forma primitiva do hebraico passou por modificações com o correr do tempo. Após
o exílio, teve início a chamada "escrita quadrada", que, por fim, foi
pelos massoretas convertida na atual forma do alfabeto
hebraico - uma forma quadrada modificada.”
“A escrita
hebraica dos tempos antigos só empregava consoantes sem qualquer sinal de
vocalização. Os sons vocálicos eram supridos pelo leitor durante a leitura, o
que dava origem a constantes enganos, uma vez que havia palavras com as mesmas
consoantes, mas com acepções diferentes. Quer dizer, a pronúncia exata dependia
da habilidade do leitor, levando em conta o contexto e a tradição. É por
causa disso que se perdeu a pronúncia de muitas palavras bíblicas.”
“Após o
século VI, os eruditos judeus residentes em Tiberíades, passaram a colocar na
escrita sinais vocálicos, perpetuando, assim, a pronúncia tradicional. Esses
sinais são pontos colocados em cima, em baixo e dentro das consoantes. Os
autores desse sistema de vocalização chamavam-se massoretas - palavra derivada
de "massorah", que quer dizer tradição, isto porque os
massoretas, por meio desse sistema, fixaram a pronúncia tradicional do
hebraico. Qualquer texto bíblico posterior ao século VI é chamado "massorético",
porque contém sinais vocálicos. Os mais famosos eruditos massoretas foram os
judeus Moses bem Asher; e seus filhos Arão e Naftali, que viveram e trabalharam
em Tiberíades, na Galiléia.”
“Além do
texto massorético, há outro texto hebraico das Escrituras, o do Pentateuco
Samaritano, que emprega, os antigos caracteres hebraicos. É do tempo
pré-cristão. São, portanto, dois tipos de textos que temos em hebraico: o
Massorético e o Pentateuco Samaritano.”
1.2 – O Aramaico
"O Aramaico
é um idioma semítico falado desde 2.000 a.C, em Arã ou Síria, que é a mesma
região. {Arã é hebreu; Síria é grego.) Nas Escrituras, o território
da Síria não é omesmo de hoje, o que acontece também com outras terras
bíblicas. O primitivo território estendia-se das montanhas do Líbano até além
do Eufrates, incluindo Babilônia, Mesopotâmia Superior (conhecida na Bíblia por
Arã-Naaraim; e Padã-Arã - Gn 25.20), e outros distritos. Era ainda falado numa
grande área da Arábia Pétrea.”
“Os trechos
escritos em aramaico são:
·
Esdras 4.8 a 6.18; 7.12-26.
·
Daniel 2.4 a 7.28.
·
Jeremias 10.11.”
“A
influência do aramaico foi profunda sobre o hebraico, começando no cativeiro do
reino de Israel, em 722 a.C. na Assíria, e continuando através do cativeiro do
reino de Judá, em 587, em Babilônia. Em 536, quando Israel começou a regressar
do exílio, falava o aramaico como língua vernácula. É por essa razão que, no
tempo de Esdras, as Escrituras, ao serem lidas em hebraico, em público, era
preciso interpretá-las, para compreenderem o seu significado (Ne 8.5,8).”
“No tempo de
Cristo, o aramaico tornara-se a língua popular dos judeus e ações vizinhas; estas foram influenciadas pelo
aramaico devido às transações comerciais dos arameus na Ásia Menor e litoral do
Mediterrâneo. Em 1.000 a.C, o aramaico já era língua internacional do comércio
nas regiões situadas ao longo das rotas comerciais do Oriente. O aramaico é
também chamado "siríaco", no Norte (2 Rs 18.26; Ed 4.7; Dn 2.4 ARC),
e também "caldaico", no Sul (Dn 1.4). Tinha o mesmo alfabeto que o
hebraico, diferia nos sons e na estrutura de certas partes gramaticais. Do
mesmo modo que o hebraico, não tinha vogais; a partir de 800 d.C, é que os
sinais vocálicos lhe foram introduzidos. É muito parecido com o hebraico.”
“O aramaico
foi a língua do Senhor Jesus, seus discípulos e da igreja primitiva, em
Jerusalém. Em Mateus 5.18, quando Jesus diz que a menor letra é o jota
(aramaico iode), Ele tinha em mente o alfabeto aramaico, pois somente neste
é que se verifica isto. (A letra iode originou o nosso i). Nos
dias de Jesus, o aramaico já se modificara um pouco na Palestina, resultando no
"aramaico palestinense", como o chamam os eruditos. Também em Marcos
14.36, o uso da palavra aramaica "abba", por Jesus, é outra evidência
de que Ele falava aquela língua. Que Ele também falava o hebraico é evidente em
Lucas 4.16-20,
uma vez que
os rolos sagrados eram escritos em hebraico.”
“O hebraico
foi de fato absorvido pelo aramaico, mas continuou sendo a língua oficial do
culto divino no templo e nas sinagogas, dos rolos sagrados, e dos rabinos e
eruditos. Havia escolas de rabinos, inicialmente em Jerusalém, e, depois da
queda da cidade, em Tiberíades. Havia escolas semelhantes noutros centros
judaicos. As conquistas árabes e a propagação do islamismo em largas áreas da
Ásia, África e Europa, reduziu e por fim destruiu a influência do aramaico. Por
sua vez, o hebraico, sendo língua morta, começou a ressurgir. Para que se
cumprissem as profecias referentes a Israel, era necessário que a língua
revivesse e assumisse a posição que hoje desfruta na família das nações
modernas.”
“O aramaico
ainda sobrevive numa remota e pequena vila da Síria, chamada Malloula, com a
população de 4.000 habitantes.”
“Devido aos
hebreus terem adotado o aramaico como uma língua, este passou a chamar-se hebraico,
conforme se vê em Lucas 23.38; João 5.2; 19.13,17,20; Atos 21.40; 26.14”.
“Apocalipse
9.11. Portanto, quando o NT menciona o hebraico, trata-se, na realidade, do
aramaico. Marcos, escrevendo para os romanos, põe em aramaico 5.41 e 15.34 do
seu livro; já Mateus, que escreveu para os judeus, escreve a mesma passagem em
hebraico (Mt 27.46).”
“O AT
contém, além do hebraico e aramaico, algumas palavras persas, como
"tirsata" (Ed 2.63 FIG) e "sátrapa" (Dn 3.2).”
1.3 – O grego
"Esta é a língua em que foi originalmente escrito o Novo
Testamento. A única dúvida paira sobre o livro de Mateus, que muitos eruditos
afirmam ter sido escrito em aramaico. O grego faz parte do grupo das línguas
arianas. Vem da fusão dos dialetos dórico e ático. Os dóricos e os áticos foram
duas das principais tribos que povoaram a Grécia. É língua de expressão muito
precisa, e, das línguas bíblicas, é a que mais se conhece, devido a ser mais
próxima da
nossa.”
“O grego do
Novo Testamento não é o grego clássico dos filósofos, mas o dialeto popular do
homem da rua, dos comerciantes, dos estudantes, que todos podiam entender: era
o "Koiné". Este dialeto formou-se a partir das conquistas de
Alexandre, em 336 a.C. Nesse ano, Alexandre subiu ao trono e, no curto espaço
de 13 anos, alterou o curso da história do mundo. A Grécia tornou-se um império
mundial, e toda a terra conhecida recebeu influência da língua grega. Deus
preparou, deste modo, um veículo linguístico para disseminar as novas do
Evangelho até os confins do mundo, no tempo oportuno.”
“Até no
Egito o grego se impôs, pois aí foi a Bíblia traduzida do hebraico para o
grego- a chamada Septuaginta, cerca de 285 a.C. Nos dias de Jesus, os judeus
entendiam quase tão bem o grego como o aramaico, haja vista que a Septuaginta
em grego era popular entre os judeus. Nos primórdios do cristianismo, o
Evangelho pregado ou escrito em grego podia ser compreendido pelo mundo todo.
Só Deus podia fazer isso! Ele não enviaria o seu Filho ao mundo enquanto este
não estivesse preparado, e esse preparo incluía uma língua conhecida por todos.
(Ver Marcos 1.15 e Gálatas 4.4.)”
“A língua
grega tem 24 letras; a primeira é alfa e a última, ômega. Quando,
em Apocalipse 1.8, Jesus diz que é o Alfa e o ômega, está afirmando que é o
primeiro e o último. Os gregos receberam seu alfabeto através dos fenícios,
conforme mostram estudos a respeito.”
“Ninguém vá
supor que por não conhecer essas línguas originais das Escrituras, não
compreenderá a revelação divina. Sim, o conhecimento e a compreensão dos
originais auxiliará muito, mas não é o essencial. Na Bíblia, como já dissemos,
veem-se duas coisas principais: o texto e a mensagem. O principal é a mensagem
contida no texto. É especialmente a mensagem que o Espírito Santo vitaliza,
revela e maneja como sua espada (Ef 6.17).”
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS:
GEISLER, Norman. NIX, William. Introdução Bíblica: Como a Bíblia
Chegou até Nós. São Paulo: Vida. 1997.
GILBERTO, Antonio. A Bíblia Através dos Séculos. 15Ed. Rio
de Janeiro: CPAD. 2004.
PFEIFFER, Charles F. VOS, Howard F. REA, John. Dicionário
Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD. 2007.
TOGNINI, Éneas. BENTES, João Marques. Janelas Para o Novo
Testamento.São Paulo: Hagnos. 2009.