EVANGELIZAÇÃO: DEFINIÇÃO, MENSAGEM, MÉTODO, ALVOS
DEFINIÇÃO
Evangelização é a proclamação das boas novas da salvação em Jesus Cristo,
visando levar a efeito a reconciliação entre o pecador e Deus Pai, mediante o
poder regenerador do Espírito Santo. A palavra deriva do substantivo grego euangelion,
“boas novas", e do verbo euangelizomai, “anunciar,
proclamar ou trazer boas novas”.
A evangelização baseia-se na iniciativa do próprio Deus. Porque Deus agiu,
os crentes têm uma mensagem para compartilhar com os outros. “Porque Deus amou
ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito" (Jo 3.16). “Mas
Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por
nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Como o pai que anseia pela volta do
seu filho perdido, como a mulher que procura diligentemente a moeda perdida, e
como o pastor que deixa o restante do seu rebanho para achar uma ovelha perdida
(Lc 15), Deus ama os pecadores e procura ativamente a sua salvação. Deus é
sempre gracioso, “não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao
arrependimento” (2 Pe 3.9).
Deus, por Sua vez, espera que o Seu povo participe da Sua busca dos
perdidos para salvá-los. A fim de crerem no evangelho, as pessoas devem
primeiramente ouvi- lo e compreendê-lo (Rm 10.14-15). Assim, Deus tem nomeado
embaixadores, agentes do Seu reino, para serem Seus ministros de reconciliação
no mundo (2 Co 5.11-21).
Uma definição abrangente de evangelização surgiu do Congresso Internacional
da Evangelização Mundial (1974). Segundo o Pacto de Lausanne: “Evangelizar é
espalhar as boas novas de que Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados e foi
ressuscitado dentre os mortos segundo as Escrituras, e que como Senhor reinante
Ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos
aqueles que se arrependerem e crerem. Nossa presença cristã no mundo é
indispensável à evangelização, assim como também aquele tipo de diálogo cujo
propósito é escutar com sensibilidade, a fim de compreender. Mas a evangelização
propriamente dita é a proclamação do Cristo histórico e bíblico como Salvador e
Senhor, tendo como alvo convencer as pessoas a virem pessoalmente a Ele e,
assim, serem reconciliadas com Deus. Ao proclamarmos o convite do evangelho, não
temos direito algum de ocultar o preço do discipulado. Jesus continua chamando
a todos quantos desejarem segui-Io a negar a si mesmos, a tomar sua cruz e a
identificar-se com Sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem
a obediência a Cristo, a incorporação na Sua igreja e o serviço responsável no
mundo.”
A
MENSAGEM
À luz desta declaração, a evangelização pode ser analisada segundo seus
componentes. Em primeiro lugar está a mensagem. Para ser bíblica, a evangelização
deve ter conteúdo e transmitir informações a respeito da verdadeira natureza
das coisas espirituais. Deve tratar da natureza do pecado e da triste situação
do pecador (Rm 3). Deve ressaltar o amor de Deus e a Sua disposição de
reconciliar-Se com os perdidos (Jo 3; 2 Co 5). Deve incluir uma clara declaração
no tocante à centralidade de Jesus no plano divino da redenção: que Deus estava
em Cristo reconciliando 0 mundo consigo mesmo e que Cristo morreu pelos nossos
pecados e foi ressuscitado dentre os mortos, segundo as Escrituras (1 Co 15; 2
Co 5; Rm 10). A palavra evangelística deve incluir, também, a promessa de perdão
dos pecados e do dom regenerador do Espírito Santo a todo aquele que se
arrepender dos seus pecados e puser sua fé e confiança em Jesus Cristo - isto é,
crer nEle (At 2; Jo 3). Em resumo: a mensagem evangelística baseia-se na
Palavra de Deus; procura contar uma história que Deus já desenvolveu na prática.
O MÉTODO
Em segundo lugar está o método. As boas novas podem ser contadas de várias
maneiras. As Escrituras não designam um único método isolado de transmitir o
evangelho. No NT, os crentes compartilhavam sua fé mediante a pregação e 0 ensino
formais, nos seus contatos pessoais e encontros ocasionais. Como conseqüência,
os cristãos se sentiram livres para elaborarem diferentes formas de realizarem
a evangelização: pessoal, em massa (isto é, campanhas de reavivamento), por
saturação (ou seja, a cobertura total de uma determinada área), por amizade,
etc. Aprenderam como usar vários veículos para promover 0 evangelho, inclusive
as últimas vantagens nos campos da imprensa escrita e das telecomunicações.
Todos estes meios são lícitos se apresentarem a mensagem com clareza,
honestidade e compaixão. A grande agressividade, a manipulação, a intimidação e
uma caricatura bem-intencionada da mensagem do evangelho podem, na realidade,
subverter a evangelização eficaz, embora pareçam trazer “resultados”. Apesar de
haver lugar na evangelização para atitudes de alguma agressividade e confrontação,
a integridade e o amor devem ser o alicerce em que todos os métodos se
edificam. Além disso, os que compartilham as boas novas devem conhecer seus
ouvintes suficientemente bem, para se dirigirem às suas necessidades, de modo
que eles possam entender (1 Co 9.19-23). Quando se trata dos métodos evangelísticos,
as palavras de Paulo continuam falando com autoridade e compreensão: “Suplicai
ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra... para
que eu a manifeste, como devo fazer. Portai-vos com sabedoria para com os que são
de fora; aproveitai as oportunidades. A vossa palavra seja sempre agradável,
temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um” (Cl 4.3-6).
OS ALVOS
Finalmente, existem os alvos da evangelização. Basicamente, a evangelização
procura levar as pessoas a um novo relacionamento com Deus, mediante Jesus
Cristo. Através do poder do Espírito Santo, procura-se despertar o
arrependimento, a dedicação e a fé. Seu alvo é nada menos do que a conversão do
pecador a um modo de vida radicalmente novo. Como, então, sabemos que a
evangelização foi realizada? Que a mensagem foi dada? Que a mensagem foi adequadamente
compreendida? Quando 0 ouvinte foi levado ao ponto de decidir a favor ou contra
a mensagem que recebeu? Teologicamente, é claro, os resultados da evangelização
estão nas mãos do Espírito Santo, e não do evangelista. Mas, no terreno prático,
aquele que leva a mensagem determina, em grande medida, 0 escopo da reação do
ouvinte, porque é o mensageiro quem estipula as condições do convite. Isto
significa que, embora a evangelização, por definição, se concentre na
necessidade de corresponder a Deus no arrependimento inicial, com fé, sua
mensagem deve também conter algo a respeito das obrigações do discipulado cristão.
No seu entusiasmo para compartilharem com os outros os benefícios do
evangelho, os evangelistas não devem negligenciar as obrigações envolvidas em
seu recebimento. Em muitos círculos evangélicos, por exemplo, as pessoas fazem
uma distinção entre aceitar Cristo como Salvador e aceitá-IO como Senhor.
Assim, os convertidos freqüentemente ficam com a impressão de que podem obter o
perdão dos pecados, sem se comprometerem com a obediência a Cristo e ao serviço
na Sua igreja. Tais idéias não se acham no NT e talvez sejam parte da razão por
que tantos convertidos modernos têm tão pouca capacidade de permanecer. A eles
foi oferecida a “graça barata”, e a aceitaram no lugar da graça livre, porém
dispendiosa, do evangelho. “Calcular 0 preço” é uma parte essencial na reação à
mensagem do evangelho, não algo que possa ser deixado para depois. A conversão
a Jesus Cristo envolve mais do que 0 perdão dos pecados. Inclui a obediência
aos mandamentos de Deus e a participação do corpo de Cristo, a Igreja. Conforme
disse Jesus: “Ide, pois, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as
coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século” (Mt 28.19-20).
Uma maneira de manter a ligação entre a conversão e o discipulado é manter
juntas a proclamação e a demonstração na evangelização. No ministério de Jesus
e na vida da igreja apostólica, pregar e praticar, dizer e fazer, sempre
andavam juntos (e.g., Lc 4.18-19; At 10.36-38; Rm 15.18-19). Proclamar a salvação
sem demonstrar seu poder transformador no fruto do Espírito e nas boas obras é
tão inadequado quanto demonstrar os efeitos da nova vida em Cristo sem explicar
a origem deles. Anunciar as boas novas da salvação sem demonstrar o amor de
Cristo na preocupação pessoal e social não é a evangelização segundo o estilo
do NT. Nesta abordagem holística da evangelização, não deixamos de fazer distinção
entre a regeneração e a santificação, mas certamente argumentamos que as duas
devem ser mantidas em estreita ligação.
T. P. WEBER
O texto acima foi extraído, na íntegra, da
ENCICLOPÉDIA HISTÓRICO-TEOLÓGICA DA IGREJA CRISTÃ. Volume Único. Walter A.
Elwell (Editor). Editora Vida Nova. 2009. Pág. 121-123.