A RAZÃO SOMENTE: O
RELACIONAMENTO ENTRE FÉ E RAZÃO, EM KANT
Gilson Soares dos Santos
Para
Immanuel Kant (1774-1804), filósofo nascido em Konigsberg, Prússia Oriental,
homem de vida altamente regrada, a função e o papel da fé proporcionam um
conjunto de temáticas dignas de serem avaliadas, tanto na reflexão filosófica
quanto na teológica, mas somente no domínio da razão. Para ele, em se tratando
de qual método é uma fonte fidedigna da verdade, a razão somente é suficiente.
Toda a verdade pode ser descoberta pela razão humana. Conscientemente, Kant
transporta a religião para o domínio da razão prática. Nesse sentido, todos os
elementos pertencentes à religião devem ser submetidos à razão.
Transcrevemos,
nessa postagem, o que Norman Geisler e Paul D. Feinberg expõem sobre a posição
de Kant a respeito deste tema: fé e razão ou religião e razão.
Acompanhe o texto:
Kant [...] era de tradição luterana, devota e piedosa. Na
sua famosa Crítica da Razão Pura, que
lançou os alicerces para boa parte do agnosticismo moderno, Kant alegou que
estava criticando a razão especulativa (teorética) a fim de “criar um lugar
para a fé”.
A razão exige que
vivamos “como se existisse um Deus”.
A despeito do fato de que não podemos saber (mediante a
razão especulativa) se Deus existe, devemos viver como se houvesse um Deus,
porque nossa razão prática (moral) assim exige. Ou seja: a razão exige que postulemos a existência de Deus a fim
de que o nosso dever moral nesta vida faça sentido. A não ser, pois, que
vivamos como se Deus existisse, não há maneira de cumprir o mandamento no
sentido de galgar o bem supremo.
A razão exige que
vivamos “como se os milagres não ocorressem”
A essência daquilo que Kant realizou, no entanto, é
retratada no título do seu livro, A
religião dentro dos limites da simples razão somente. Pelo emprego daquilo
que Kant chamava de “razão prática”, acreditava, que não houvesse revelação
sobrenatural da parte de Deus na Bíblia. Insistia, no entanto, que devemos
julgar toda a alegada revelação sobrenatural por meio da “razão prática
somente”. Sustentava, por exemplo, que a razão exige que abramos mão da crença
na ressurreição de Cristo e, de fato, em qualquer ensinamento bíblico contrário
a esta “razão”. A respeito desta abordagem racional, Kant reconheceu que “frequentemente
esta interpretação pode, à luz do texto [da revelação], parecer forçada –
talvez muitas vezes realmente seja forçada.” Quanto a qualquer milagre bíblico,
Kant insistiu que se o milagre “diretamente contradiz a moralidade, não pode, a
despeito de todas as aparências, ser da parte de Deus (por exemplo, quando um
pai é ordenado a matar seu filho [como no caso de Abraão em Gênesis 22]).”
(GEISLER, Norman L.
FEINBERG, Paul D. Introdução à
Filosofia – uma perspectiva cristã. São Paulo: Vida Nova, 1989. p. 204.).