Gilson Soares dos Santos
A
hermenêutica encontra explicação para sua origem no deus Hermes. Os verbos hermeneuein e o substantivo hermeneia apontam para o deus-mensageiro
alado.
O
recém-nascido filho de Maia (véu do descobrimento) já se desliga das faixas que
o enrolavam, num sinal claro do poder de ligar
e desligar, que é uma das funções da hermenêutica fazer uma ponte (ligação) para a compreensão.
Hermes
rouba o gado de Admeto, que é protegido de Apolo, porém seu paradeiro é
descoberto, com a prova de que o gado havia sido roubado pelo infante. Apolo
apela para Zeus, que procura interrogar o menino, porém este admite ser
interrogado, alertando, porém, que não
estaria obrigado a dizer toda a verdade. Em se tratando da hermenêutica,
assim acontece, não há garantia de que toda a verdade seja desvendada.
Em
mais uma de suas astúcias o deus-mensageiro-alado, após manufaturar uma lira de
casca de tartaruga chega a barganhar com Apolo, em seguida, ao confeccionar a
“flauta de Pã”, consegue o caduceu de ouro de Apolo. Isso fez de Hermes um
possuidor da arte da divinatória. Essa sua astúcia em barganhar, bem como o
ardil e a habilidade de trapacear, protegendo comerciantes e ladrões, fornece
uma ligação com a utilidade que reside na hermenêutica.
A
idéia que a hermenêutica traz em prestar serviço aos homens, em sua interpretação,
está ligada em sua origem à tarefa que pesava sobre Hermes de ser companheiro
destes.
Sua
missão em ser mensageiro entre os deuses e os homens, entre o além e o aquém está
intimamente entrelaçado no propósito da hermenêutica em transcrever a mensagem,
tornando-a inteligível ao homem.
A
evolução de Hermes para deus protetor das estradas, guardião dos caminhos, com
a possibilidade de atravessar as estradas da vida ou os caminhos do além,
atravessando trevas, sugere o poder que a hermenêutica tem de conduzir na
obscuridade, de dar á luz a um texto obscuro.
O
poder de ligar e desligar, a limitação diante da verdade, a astúcia e
habilidade, a prestação de serviços, ora protegendo, ora guiando, e sua missão
de mensageiro, servem como analogia para a hermenêutica.