500 ANOS DA REFORMA PROTESTANTE: OS PRE-REFORMADORES
Pr.
Gilson Soares dos Santos
Estamos vivendo os 500 Anos da Reforma Protestante. No próximo dia 31 de
Outubro completam-se 500 anos. Pois foi exatamente neste dia que Martinho
Lutero expos suas 95 Teses, afixando-as na porta da Catedral de Wittenberg.
Antes da Reforma Protestante, tivemos o que podemos chamar de
PRE-REFORMA. Na verdade, ela não vai acontecer em um único momento, tampouco em
um só século. O período que consideraremos como pré-reforma não se dá em um
único século, nem em um único lugar ou mesmo por um único homem.
Diante disso, veremos um pouco sobre os pré-reformadores e, assim,
estaremos vendo a PRE-REFORMA DA IGREJA.
3.1_ TOMÁS
BRADWARDINE (1290-1349).
Tomás Bradwardine (1290-1349), teólogo e
matemático inglês. Nasceu em Sussex e educou-se em Oxford. Foi chanceler na
Universidade de Oxford. Foi nomeado arcebispo de Cantuária. Foi intitulado de
“Doutor Profundo”. Realçava a graça de
Deus na salvação.
“Partindo
do axioma de que Deus é principio absoluto de tudo e suprema causa de todo
acontecimento, Bradwardine, procedendo matematicamente, deduz de modo rigoroso
que a vontade divina não apenas é causa suficiente, mas também é a causa
determinante dos atos humanos voluntários. E isso, na sua opinião, significa
que Deus pode determinar a vontade humana no cumprimento de atos livres.”
“Contradizia
os seguidores de Pelágio, afirmando que a vontade de Deus é a primeira causa responsável por todos os efeitos no mundo,
incluindo as ações humanas. Influenciou várias figuras contemporâneas e
posteriores, incluindo Wycliffe, tradutor da Bíblia para o inglês. Morreu de
praga, pouco depois de haver sido nomeado arcebispo de Cantuária”..
3.2_ GREGÓRIO
DE RIMINI (1300-1358)
Gregório de Rimini foi um filósofo italiano.
Tornou-se monge agostiniano. Nasceu em Rimini, próximo a Veneza, na Itália. Herdou
sua teologia de Agostinho. Realçava a graça de Deus na salvação.
3.3_ JOHN
WYCLIFFE (1329-1384)
John
Wycliffe sofre influência das concepções de Tomás Bradwardini. Foi forte
opositor ao acúmulo de riquezas da Igreja e à venda indulgências. Também
defendia a autoridade soberana das Escrituras.
“Ele
foi ordenado sacerdote, e mudou-se para Oxford, onde suas opiniões teológicas
lhe tornaram a figura mais controversa da Universidade, e suas conexões com a
família real o tornaram influente. Por quase toda a vida de Wycliffe os papas
residiram em Avignon e, assim, ele cresceu em uma atmosfera em que a autoridade
religiosa era questionada de forma constante. [...] Começou a identificar
publicamente a Bíblia, e não o papa, como a suprema fonte de autoridade
espiritual. O papado, ele argumentava, era apenas uma invenção humana, enquanto
a Bíblia, detentora de autoridade, determinava a validade de todas as crenças e
práticas religiosas. Com base nisso, ele rejeitava e doutrina extremamente
filosófica da transubstanciação.”.
“Em
poucos anos, esse discurso deixou Oxford – e todo o país – fervilhando.
Wycliffe foi obrigado a aposentar-se. [...] No entanto, não ficou ocioso nesse
período: escreveu tratados populares explicando seus pontos de vista,
comissionou pregadores e organizou uma tradução da vulgata (versão latina da
Bíblia) para o inglês. Felizmente para Wycliffe, ele morreu em 1384, antes de o
Concílio de Constança condená-lo por heresia (depois disso seus restos mortais
foram exumados, queimados e espalhados). Ainda assim, seu legado foi grande.
Com a Bíblia em inglês em suas mãos, seus seguidores na Inglaterra dedicaram-se
à prática ilegal de ler a Bíblia em grupo e em segredo. Foi provavelmente por
isso que eles ficaram conhecidos como “lollardos”, um termo que provavelmente
significava “aquele que sussurra”, em referência ao hábito de ler a Bíblia em
segredo. Eles consistiriam uma audiência muito receptiva para a Reforma que
chegaria um século depois.”
3.4_ JOHN
HUSS (1373-1384)
John Huss fez oposição às práticas do catolicismo romano: Definia a
Igreja por uma vida semelhante à de Cristo e não pelos sacramentos. Opunha-se à
venda de indulgências, bem como a adoração às imagens. Defendia veementemente a
autoridade das Escrituras. Ele foi queimado em praça pública.
“Huss foi excomungado e convocado ao Concílio de Constança para defender
suas opiniões. Previsivelmente, ele se encontrava muito relutante quanto ao
risco de ser queimado como herege ao se lançar com tanta facilidade na cova dos
leões; contudo, foi-lhe dada a garantia de salvo-conduto e, assim, ele
prosseguiu. A garantia nada valia; ele foi preso de imediato e, depois de seis
meses na prisão e de um julgamento falso em que ele se recusou a renunciar suas
opiniões, John Huss foi condenado a morte por heresia em 1415.”
O
julgamento e condenação de Huss nos é contado, em detalhes, por Justo Gonzalez.
Vejamos os detalhes do julgamento e condenação:
“No dia 5 de junho de 1415 Huss compareceu
diante do concilio. [...] Quando Huss foi levado para a assembleia, ele estava
acorrentado, como se tivesse tentado fugir ou se já tivesse sido julgado. Foi
acusado formalmente de ser herege e de seguir as doutrinas de Wycliffe. Huss
tentou expor suas opiniões, mas a algazarra foi tamanha que ele não se podia
fazer ouvir. Por fim, foi decidido adiar a questão para o dia 7 do mesmo mês.
[...] O
processo de Huss durou mais três dias. Repetidamente ele foi acusado de herege.
[...] O
concilio pedia unicamente que Huss se submetesse a ele, retratando-se das suas doutrinas.
Ele, no entanto, não estava disposto a escutar nem crer no acusado, quanto a quais
eram as doutrinas que tinha crido e ensinado na verdade. Uma simples retratação
teria bastado. [...] A resposta de Huss foi firme: “Apelo a Jesus Cristo, o
único juiz todo-poderoso e totalmente justo. Em suas mãos, eu deponho a minha
causa, pois ele há de julgar cada um não com base em testemunhos falsos e
concílios errados, mas na verdade e na justiça”.”.
“Por
vários dias, deixaram-no encarcerado, na esperança de que fraquejasse e se
retratasse. Muitos foram pedir-lhe que o fizesse, talvez sabendo que sua
condenação seria uma mancha indelével para o concilio de Constança. João Huss,
no entanto, continuou firme.”.
“Por
fim, no dia 6 de julho, ele foi levado para a catedral de Constança. Ali,
depois de um sermão sobre a teimosia dos hereges, ele foi vestido de sacerdote
e recebeu o cálice, somente para logo em seguida lhe arrebatarem ambos, em
sinal de que estava perdendo suas ordens sacerdotais. Depois lhe cortaram o
cabelo para estragar a tonsura, fazendo-lhe uma cruz na cabeça. Por último,
colocaram-lhe na cabeça uma coroa de papel decorada com diabinhos, e o enviaram
para a fogueira. A caminho do suplício, ele teve de passar por uma pira onde
seus livros eram queimados. Mais uma vez, pediram-lhe que se retratasse, e mais
uma vez ele negou com firmeza. Por fim, orou, dizendo: “Senhor Jesus, por ti
sofro com paciência essa morte cruel. Rogo-te que tenhas misericórdia dos meus
inimigos” . Morreu cantando os salmos.”.
3.5_ JOÃO
DE WESSEL (1420-1489)
João de Wessel foi um teólogo alemão (alguns afirmavam que era
holandês), Ia contra os ensinamentos católicos. Negava o dogma da
transubstanciação e opunha-se à venda de indulgências e ao celibato clerical.
Frisava a autoridade das Escrituras, negava a autoridade do Papa. Fazia parte
da Comunidade dos Irmãos da Vida Comum. Morreu na prisão depois de ser
condenado por heresia e depois de se retratar.
3.6_ JERÔNIMO
SAVONAROLA (1452-1498)
Jerônimo
de Savonarola era um monge dominicano italiano. Pregava contra a imoralidade
papal. Foi enforcado e queimado por heresia.
“Jerônimo
era o terceiro dos sete filhos da família. Nasceu de pais cultos e mundanos,
mas de grande influência. Seu avô paterno era um famoso médico na corte do
duque de Ferrara e os pais de Jerônimo planejavam que o filho ocupasse o lugar
do avô. No colégio, era aluno esmerado. Mas os estudos da filosofia de Platão e
de Aristóteles, deixaram-lhe a alma sequiosa. Foram, sem dúvida, os escritos de
Tomaz de Aquino que mais o influenciaram (a não ser as próprias Escrituras) a
entregar inteiramente o coração e a vida a Deus. Quando ainda menino, tinha o
costume de orar e, ao crescer, o seu ardor em orar e jejuar aumentou. Passava
horas seguidas em oração. A decadência da igreja, cheia de toda a qualidade de
vício e pecado, o luxo e a ostentação dos ricos em contraste com a profunda
pobreza dos pobres, magoavam-lhe o coração.”.
“Depois
de passar sete anos no mosteiro de Bolongna, frei (irmão) Jerônimo foi para o
convento de São Marcos, em Florença. Grande foi o seu desapontamento ao ver que
o povo florentino era tão depravado como o dos demais lugares. (Até então ainda
não reconhecia que somente a fé em Deus salva o pecador.)”.
“Certo
dia, ao dirigir-se a uma feira, viu, repentinamente, em visão, os céus abertos
e passando perante seus olhos todas as calamidades que sobrevirão à igreja.
Então lhe pareceu ouvir uma voz do Céu ordenando-lhe anunciar estas coisas ao
povo. [...] Convicto de que a visão era do Senhor, começou novamente a pregar
com voz de trovão. Sob a nova unção do Espírito Santo a sua condenação ao
pecado era feita com tanto ímpeto, que muitos dos ouvintes depois andavam
atordoados sem falar, nas ruas. Era coisa comum, durante seus sermões, homens e
mulheres de todas as idades e de todas as classes romperem em veemente choro.”
“Contudo,
o sucesso de Savonarola foi muito curto. O pregador foi ameaçado, excomungado
e, por fim, no ano de 1498, por ordem do Papa, foi queimado em praça pública.
Com as palavras: "O Senhor sofreu tanto por mim!", terminou a vida
terrestre de um dos maiores e mais dedicados mártires de todos os tempos.”
A
fim de facilitar os estudos, transcrevemos a seguir um Quadro dos Precursores
da Reforma, os Pré-Reformadores. Este Quadro pode ser encontrado no Livro História da Igreja em Quadros.
OS PRÉ-REFORMADORES
NOMES
|
DATAS
|
DESAFIOS PARA A IGREJA
|
DETALHES PESSOAIS
|
|
|
|
|
TOMÁS BRADWARDINE
|
1290-1349
|
Realçava a graça de Deus na salvação.
|
Teólogo e matemático inglês.
Foi nomeado Arcebispo de Cantuária (1349)
Morreu vítima da peste negra.
|
GREGÓRIO DE RIMINI
|
m.1358.
|
Realçava a graça de Deus na salvação.
|
Filósofo italiano.
Tornou-se monge agostiniano.
|
JOÃO WYCLIFFE
|
1329-1384
|
Negava a Transubstanciação.
Opunha-se ao acúmulo de riquezas da Igreja
e à venda de indulgências.
Frisava a autoridade das Escrituras
|
Foi professor da Universidade de Oxford.
Foi forçado a aposentar-se em consequência
da revolta dos camponeses (1381)
Traduziu a maior parte da vulgata para o inglês.
Seu corpo foi exumado e queimado em 1428.
|
JOÃO HUSS
|
1373-1415
|
Definia a Igreja por uma vida semelhante à
de Cristo e não pelos sacramentos.
Opunha-se à venda de indulgências e à
veneração de imagens.
Reforçava a autoridade das Escrituras.
|
Sacerdote da Boêmia.
Tornou-se professor da Universidade de
Praga.
Foi queimado em praça pública por ordem do
Concílio de Constança.
|
JOÃO DE WESSEL
|
1420-1489
|
Negava a transubstanciação.
Opunha-se á venda de indulgências e ao
celibato clerical.
Frisava a autoridade das Escrituras.
|
Teólogo alemão.
Membro dos irmãos da Vida Comum.
Morreu na prisão depois de ser condenado
por heresia e depois de se retratar.
|
JERÔNIMO DE SAVONAROLA
|
1452-1498
|
Pregava contra a imoralidade papal.
|
Monge dominicano italiano
Foi enforcado e queimado por heresia em
Florença.
|
DESIDÉRIO ERAMOS
|
1466-1536
|
Atacou a incoerência e a hipocrisia na
Igreja.
|
Humanista holandês.
Compilou o texto do NT grego usado por
Lutero.
Satirizou impiedosamente as falhas da
Igreja na obra Elogio da Loucura.
|
REALE, Giovani. ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Patrística e
Escolástica. Vol.2. 2Ed. São Paulo:
Paulus. 2005. p324
CHAMPLIN, Russel N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 1. São Paulo: Hagnos. p559
REEVES, Michael. A Chama Inextinguível: Descobrindo o Cerne da Reforma. Brasília:
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REEVES, Michael. A Chama Inextinguível: Descobrindo o Cerne da Reforma. Brasília:
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GONZALEZ, Justo L. História Ilustrada do Cristianismo: A Era dos Mártires até a Era dos
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