COMO FUNCIONAM OS CULTOS NAS IGREJAS DO
RÉ-TÉ-TÉ? (PARTE FINAL)
Sabemos que os movimentos
pentecostais e neopentecostais têm trazido muitas novidades, em sua maioria,
sem base bíblica. O pior de tudo, nesses últimos tempos, surgiu entre os grupos
pentecostais e neopentecostais o movimento conhecido como ré-té-té, trazendo
consigo comportamentos estranhos, combatidos até mesmo pelos próprios
pentecostais. Exemplo claro disto é o texto a seguir, extraído do Livro “Mais
erros que os pregadores devem evitar”, de autoria do Pr. Ciro Sanches Zibordi,
da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), que revela como funcionam
os eventos realizados pelo movimento do “ré-té-té”. Agora vamos postar a parte
4 de um culto nas igrejas do ré-té-té. É interessante que você leia a parte 1,
2 e 3, que encontra-se na nossa seção APOLOGÉTICA.
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Conjuro-te, pois, diante
de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua
vinda e no seu Reino, que pregues a palavra... com toda a longanimidade e
doutrina. Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão
nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias
concupiscências. 2 Timóteo 4.1-3
Uma hora depois...
— Nós abrimos este culto em teu nome, ó Jesus Cristo! ao
pequeno e ao adulto, luz divina vem dar por isto... — o presbítero Ed Jesus,
designado pelo pastor Joselito Lerante, começara o culto no horário com uma
oração e já estava cantando um conhecido hino, acompanhado por alguns músicos
que já haviam chegado ao local.
Pessoas vão chegando e acotovelam-se, disputando um bom
local, onde possam ouvir a pregação. A expectativa é grande, principalmente por
se tratar de um pregador novo — boa parte do povo está no congresso à espera de
novidades.
Marionete conheceu no intervalo entre as duas reuniões a
irmã Santa. Ambas nem saíram do ginásio, a não ser para ir ao toalete, a fim de
não perderem o lugar. O mesmo não ocorreu com Títere, que saiu para comer um
sanduíche, e um irmão idoso sentou-se em seu lugar. Constrangido, fez o certo:
preferiu ficar em pé do lado de fora e acompanhar tudo pelo telão.
— Você conhece o pregador de agora à noite, irmã Santa? —
pergunta Marionete.
— Sinceramente, não, porém estou orando para Jesus usá-lo
poderosamente. O que aconteceu à tarde não me agradou. Precisamos ouvir a
exposição da Palavra, pois o verdadeiro poder do Espírito Santo ocorre em
decorrência da pregação bíblica. Isso eu aprendi com o meu pastor Alípio Neiro,
de saudosa memória, o qual me ensinou que o verdadeiro culto fervoroso,
pentecostal, onde o Espírito Santo de fato age, é o que é feito com ordem e
decência.
— Bem, irmã Santa, eu também achei estranho o que aconteceu
agora há pouco, mas quem somos nós para julgar? Eu só sei de uma coisa: o
pastor Joselito Lerante só convida pregador de renome. Ele gosta de ver o povo
bem satisfeito e animado. Por isso, estou achando estranho ele não querer
divulgar o nome do preletor dessa noite. É possível que até ele esteja um tanto
preocupado com o desempenho do novo expoente...
Como todos ali estão
acostumados a ouvir famosos conferencistas, que se vestem como astros e se
gabam de ter pregado em inúmeros países — e que costumam chegar em cima da hora
para pregar —, os olhos permanecem fitos no púlpito, a espera de alguém
diferente dos que ali já estão. Há um obreiro sentado ao lado do pastor, mas
ninguém aposta que seja ele o preletor, haja vista a sua simplicidade.
O culto da noite desenrola-se de maneira similar ao da
tarde, até ao momento da Palavra.
Entra então em cena o pregador...
Marionete e Santa precisaram sair do local porque a segunda,
sentindo falta de ar, preferiu ver o culto pelo telão, e a outra a acompanhou.
Por isso, não presenciaram o momento em que o preletor foi apresentado. Quando
se apercebem, ele já está falando...
Decorridos alguns minutos de sua prédica, a apatia toma
conta de quase toda a platéia. A semelhança do que aconteceu no Areópago, em
Atenas — quando Paulo pregou sobre Jesus e a ressurreição (At 17.18) —, o
público fica dividido. Muitos bocejam, outros ficam inquietos, incomodados.
Percebe-se nitidamente, pelas reações das pessoas, que o pregador não tem
habilidade para animar o auditório; sua pregação não é daquelas que elogiam os
crentes, dizendo que são vencedores.
— Só pode ser uma brincadeira — alguém comenta. — Convidaram
esse aí para pregar em nosso congresso? Que roupa é essa? Ninguém merece!
Parece até que esse simplório veio de outro mundo, com essa roupa surrada...
Outros também opinam, mas só em pensamento:
— Pregador diferente... Não se preocupa em produzir um clima
favorável. Não nos manda repetir isso e aquilo... Acho que ele está escondendo
o jogo. Daqui a pouco vai começar a fazer um movimento. Isso aqui tá muito
parado — pensa alguém.
— Que pregaçãozinha mais
monótona — pensa outro. — Isso aqui não é lugar para ficar citando passagens
bíblicas. É preciso movimentar esse povão, que tá ansioso pra dar uns glória
(sic).
Entretanto, não é
apenas o estilo do pregador que desagrada a maioria dos participantes do
congresso. A mensagem em si os choca, levando alguns pregadores, apinhados no
púlpito, a fazer comentários duros e precipitados:
— Esse aí definitivamente não é um pregador de congresso. O
povo de Deus está aqui para ser abençoado, e não para ser repreendido. Pra tudo
tem hora. Ah, se fosse eu... Esse povo, com certeza, já estaria todo agitado,
gritando, pulando... Esse pregador não gosta do reteté.
Mas alguns irmãos alegram-se com a postura do pregador:
— Fala, Senhor, é isso mesmo que precisamos — alegra-se a
irmã Santa, em tom baixo.
As características do pregador chamam mesmo a atenção de
todos. Ele demonstra ser simples, humilde, mas fala com muita autoridade. Fala
de modo firme, embora não grite como os famosos animadores de auditório, que,
com berros intermináveis, quase derramam as entranhas pela boca.
Outra qualidade surpreendente do pregador é a sua seriedade;
ele não conta piadas nem faz gracejos; apenas emprega pertinentes ilustrações.
O estranhamento não é para menos; todos esperavam um pregador que soubesse
cativar a platéia, demonstrando a sua "unção" com gritos
"supersônicos" ou conduzindo o povo à interação por meio da repetição
de frases de efeito, do tipo olhe-para-o-seu-irmão-e-diga-isso-e-aquilo.
Irmã Santa está feliz da vida com o pregador e sua pregação:
— Ah, se todos fossem assim! Quem dera os renomados
pregadores deixassem de lado as suas extravagâncias e pregassem o genuíno
evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo! Como tenho saudades daquelas pregações
contundentes — vindas do alto — que me faziam chorar, arrependida por não ser
como o Senhor gostaria que eu fosse... Sempre saía do templo revigorada,
renovada, disposta a melhorar a cada dia...
O pregador vai direto ao assunto. Dispensando qualquer
apresentação de currículo — uma prática comum entre os pregadores famosos —,
baseia-se em Isaías 40.3 e põe-se a dizer, com veemência, que o tema de sua
exposição é: "Arrependam-se porque é chegado o Reino dos céus".
— A mensagem que Deus me deu para transmitir-lhes não
costuma agradar aqueles que vêm aos cultos para receber bênçãos, e não para
oferecer o que têm de melhor ao Senhor. Precisamos nos converter a Cristo, a
cada dia, e seguirmos à santificação, renunciando-nos a nós mesmos. Vocês estão
dispostos a isso? Ou pensam que a vida cristã resume-se ao recebimento de
bênçãos?
Parecendo atender à irmã Santa, ele continua:
— Arrependam-se? — cochicham dois obreiros sentados na
tribuna. — Quem convidou esse pregador? Ele parece que nunca pregou em um
congresso! Isso não é hora nem momento de falar em arrependimento. É preciso
motivar essa "moçada".
Ao ouvir isso, outro obreiro responde:
— É verdade. E que história é essa de dizer que o Reino dos
céus é chegado? Jesus pregava isso quando veio à Terra, e nem por isso o Reino
chegou. Paulo e Pedro disseram que o Senhor voltará, e até agora isso não
aconteceu. Por que pregar hoje sobre a Segunda Vinda, se muitos não conhecem
sequer a primeira? Eu acho que nós temos é que pregar sobre bênçãos materiais e
milagres.
Mas o pregador, que não estava nem um pouco preocupado com o
que o povo ou os obreiros à sua retaguarda estavam achando da mensagem, prossegue:
— Endireitem as suas veredas. Confessem os seus pecados. Não
é tempo de priorizarmos os bens materiais. Temos de pensar nas coisas que são
de cima, onde está o nosso Senhor Jesus. O nosso Salvador também alerta-nos, em
Apocalipse 3.11: "Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que
ninguém tome a tua coroa".
No meio do povo há alguns grupos, seguidores dos mais
diversos modismos da atualidade. Sem medo e com muita convicção, o pregador
dirige a esses uma contundente palavra:
— Quem os ensinou a fugir da ira futura? Produzam frutos
dignos de arrependimento. O machado está posto na raiz das árvores. Toda a
árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo.
Muitos não entendem essa mensagem, não percebendo que o
pregador os estava comparando a árvores, e que eles deveriam dar bons frutos,
isto é, suas obras teriam de agradar a Deus, a menos que quisessem ser cortados
— condenados pelo Senhor, o Justo Juiz. O expoente, em momento algum, fala de
sonhos de Deus, prosperidade material, tampouco promete bênçãos ao auditório,
deixando a maioria das pessoas insatisfeitas. Seu objetivo claramente é falar
de Jesus Cristo, o que não ocorria há muito tempo no Congresso de Reteté.
— Irmãos, Jesus é maior e mais poderoso do que eu. Convém
que Ele cresça, e que eu diminua — diz ele, demonstrando sua inteira submissão
a Jesus, além de deixar claro que não queria que o público o admirasse mais do
que ao Senhor.
— Ih, já vi tudo... — cochichou outro obreiro da tribuna. —
Esse pregador segue àquela escola ultrapassada, sem carisma; nem sabe interagir
com o público...
Mas ele, cheio do Espírito Santo e dependendo inteiramente
do Senhor, prossegue:
— Esse Jesus batizará com o Espírito Santo os que se
arrependerem e confessarem os seus pecados. Se vocês fizerem a parte de vocês,
Ele fará uma grande obra em nosso meio — sons de aleluias, glórias a Deus e
línguas estranhas, pronunciadas pelo pregador e por alguns crentes.
Muitos, acostumados com mensagens de auto-ajuda, ficam
confusos, mas alguns abrem o coração, dando liberdade para o Espírito de Deus
agir...
Para quem esperava um show-man, o pregador não agradou.
Contudo, para quem ama a Palavra de Deus, ele não destoou, falou a verdade sem
valer-se de estratégias para animar o auditório. Ele entregou tudo o que o
Senhor lhe deu. E houve resultados, que muitos não conseguiram ver ou não
quiseram admitir...
Chega, finalmente, o momento da conclusão da pregação. Ele
convida os pecadores que desejam receber a Jesus Cristo como Senhor e Salvador,
e as pessoas começam a ir à frente... Muitos louvam a Deus em alta voz, e o
pregador, após fazer uma oração, senta-se sem nenhum estardalhaço. Nesse
momento, a maioria dos pregadores do púlpito põe-se a criticar a direção do
evento por ter convidado um pregador tão comum e sem graça...
A reunião da noite enfim termina com um excelente saldo.
Não houve o tal reteté, mas almas renderam-se a Cristo,
crentes foram edificados pela Palavra, e alguns foram batizados com o Espírito
Santo...
Acompanhado de uma comitiva, o pastor Joselito Lerante
pergunta ao pregador:
— Agora nós vamos sair para jantar. O que o irmão gostaria
de comer, pizza ou picanha?
— Bem, para dizer a verdade,
o meu prato preferido é gafanhoto com mel silvestre...