O PASTOR GILSON RESPONDE SOBRE A HISTÓRIA DOS CINCO
PONTOS DO ARMINIANISMO E DO CALVINISMO
Rev. Gilson Soares dos Santos
O debate acirrado em torno da salvação do ser humano envolve os cinco
pontos do arminianismo e do calvinismo. Muita gente entra no debate sem
entender o porquê de tanta controvérsia. O pior, muitos não entendem o fundo
histórico da querela entre arminianos e calvinistas.
Para facilitar a compreensão sobre o assunto e ensinar o tema de forma
bem didática, elaborei um “círculo de debates”, em forma de diálogos. São
debates e diálogos que tive com alunos, membros da igreja que pastoreei e da
igreja que pastoreio, debates com pastores e com curiosos do assunto e até
comigo mesmo. Reuni todos em um único diálogo. Os nomes das pessoas são
fictícios, mas os questionamentos são verdadeiros.
GAMALIEL:
Meu
querido Pr. Gilson, todo estudante de teologia tende a cair nas discussões
envolvendo Calvino e Armínio. Sei que o tema é de uma profundidade que não cabe
num pequeno círculo de debates, mas nos dê algumas orientações sobre a
verdadeira história envolvendo os cinco pontos do arminianismo e os cinco
pontos do calvinismo. Pode ser?
PR.
GILSON: Dentro daquilo que sei, posso responder-lhes.
GAMALIEL: Então, vou começar:
Por que Calvino e Armínio viviam discutindo esses pontos a respeito da salvação
do ser humano?
PR.
GILSON: Bom,
prá começar é preciso que uma coisa fique clara: Calvino e Armínio nunca se
encontraram para discutir ponto nenhum a respeito da salvação, nem poderiam
fazer isto, pois quando o Reformador Calvino morreu, Armínio tinha apenas
quatro anos de idade. Impossível haver um debate entre eles.
SALOMÃO: Eu pensava que
Calvino e Armínio eram contemporâneos.
PR. GILSON: Na verdade, Calvino
nasceu em 1509 e morreu em 1564. Armínio nasceu em 1560 e morreu em 1609. Muita
gente pensa que Armínio ensinava seus pontos sobre a salvação e Calvino
rebatia-os, e que os dois viviam testando conhecimentos soteriológicos. Isto
era impossível, visto que os dois não se conheceram, a diferença de idade não
permitiu.
PAULO: Então, de onde vem
essa disputa acirrada entre Calvino e Armínio?
PR. GILSON: Nunca houve disputa
entre Calvino e Armínio. A disputa vem dos seguidores dos ensinos de Calvino e
os seguidores dos ensinos de Armínio.
PAULO: E a ideia dos cinco
pontos de cada um, de onde vem?
PR. GILSON: O Professor Holandês
Jacob Hermann, cujo sobrenome em latim era Arminius (Por isso Jacó Armínio),
foi criado na tradição reformada, mas nutria sérias dúvidas quanto à graça
soberana de Deus, pois simpatizava com os ensinos de Erasmo e Pelágio, que
pregavam a livre vontade do homem. Após a morte de Armínio (1609), mais ou
menos um ano depois, seus discípulos formularam seus ensinos em CINCO PONTOS
principais, que ficaram conhecidos como OS CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO.
GAMALIEL:
Então
os CINCO PONTOS do arminianismo foram formulados pelos discípulos de Armínio?
PR.
GILSON:
Baseados nos ensinos do próprio Armínio. Após a formulação dos CINCO PONTOS os
discípulos de Armínio decidiram apresentá-los ao Estado da Holanda. O que eles
pretendiam? Desejavam que a Confissão
Belga e o Catecismo de Heidelberg
fossem substituídos pelos ensinos de Armínio.
SALOMÃO:
Parece
que li algo a respeito. Eles apresentaram em forma de um protesto, é isto?
PR.
GILSON: O
documento que eles apresentaram ficou conhecido como “Remonstrance” ou
“Representação” ou “Protesto”.
GAMALIEL:
Quais
eram os CINCO PONTOS contidos no protesto?
PR.
GILSON: Vejamos
os CINCO PONTOS doutrinários contidos no protesto:
1 - Deus elege ou reprova na base da fé prevista ou da
incredulidade.
2 - Cristo morreu por todos os homens, em geral, e em favor de
cada um, em particular, embora somente os que crêem sejam salvos.
3 - Devido à depravação do homem, a graça divina é necessária
para a fé ou qualquer boa obra.
4 - Essa graça pode ser resistida.
5 - Se todos os que são verdadeiramente regenerados vão
seguramente perseverar na fé é um ponto que necessita de maior investigação.
PAULO: O que aconteceu
depois?
PR.
GILSON: Foi
convocado então o Sínodo de Dort pelos Estados Gerais da Holanda, em 1618, com
o propósito de examinar OS CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO, à luz das Escrituras
Sagradas.
SALOMÃO: O Sínodo era formado por quem?
PR.
GILSON: Foram
convocados 84 Teólogos e 18 Delegados Seculares.
SALOMÃO:
Quanto
tempo durou?
PR.
GILSON: Teve
início em 13 de Novembro de 1618 e foi concluído em Maio de 1619. Foram ao todo
154 Sessões.
PR.
GILSON: Depois
de um exame cuidadoso das doutrinas de Armínio, sempre à luz das Escrituras
Sagradas, o Sínodo de Dort concluiu que os pontos de vista de Armínio eram
heréticos. O documento final, os
Cânones de Dort, foi formulado em 93 artigos, separados em 5 pontos de
doutrina. O documento foi assinado por todos os delegados em 23 de Abril de
1619.
PAULO: E os CINCO PONTOS DO
CALVINISMO onde entram nessa questão?
PR.
GILSON: Vejamos:
Os membros do Grande Sínodo de Dort formularam, cuidadosamente, como refutação
aos CINCO PONTOS do arminianismo, outros CINCO PONTOS, baseados nas Escrituras,
essa refutação ficou conhecida como OS CINCO PONTOS DO CALVINISMO. Os quais,
resumidamente, são:
1 – DEPRAVAÇÃO TOTAL. A depravação do homem,
como resultado da queda, é total, segundo os calvinistas.
2 – ELEIÇÃO INCONDICIONAL. Para os
calvinistas, a eleição está baseada inteiramente na livre vontade de Deus.
3 – EXPIAÇÃO LIMITADA. Os calvinistas crêem
que a salvação é somente para os eleitos. Cristo morreu somente pelos eleitos.
4 – GRAÇA IRRESISTÍVEL. Deus agirá de tal
maneira que somente os eleitos se voltarão, irresistivelmente, para Cristo.
5 – A PERSEVERANÇA
DOS SANTOS. Para os calvinistas, a salvação, por ser dádiva de Deus, nunca pode
ser perdida.
SALOMÃO: A partir daí o
arminianismo deixou de ser ensinado?
PR. GILSON: Não. De forma alguma.
O arminianismo foi posteriormente popularizado pelos irmãos Wesleys (João e
Carlos), na Inglaterra, e se tornou depois a base do moderno evangelismo de
massas. Hoje está presente nos grupos pentecostais, neo-pentecostais e em
muitos grupos tradicionais. Um detalhe curioso, os cinco pontos do calvinismo
são conhecidos pelo acróstico TULIP, por isso o símbolo do calvinismo é uma
tulipa.
PR.
GILSON: Vejamos
o acróstico soletrado em inglês:
T otal Depravity =
Depravação Total.
U nconditional Election
= Eleição Incondicional.
L imited Atonement =
Expiação Limitada.
I rresistible Grace =
Irresistível Graça ou Graça Irresistível.
P erseverance of the
saints = Perseverança dos Santos.
Viram que forma a
palavra “TULIP”? Por isso o símbolo dos Cinco Pontos do Calvinismo é uma
Tulipa. As Tulipas são plantas que têm folhas que podem ser oblongas, ovais
ou lanceoladas. São originárias da Turquia e foram levadas para a Holanda em
1560.
GAMALIEL:
Vai
nos recomendar algum livro para leitura?
PR.
GILSON: Sim.
Recomendo, para um entendimento melhor sobre os cinco pontos do arminianismo e
do calvinismo, o Livro TULIP, de Duane Edward Spencer, Tradução de Sabatini
Lalli, Casa Editora Presbiteriana. Nem sei se ainda vendem este livro. Mas é
possível encontrá-lo. Ficamos por aqui, pois nosso propósito era apenas uma
orientação sobre o plano de fundo histórico dos Cinco Pontos do Arminianismo e
do Calvinismo. Deus vos abençoe!