POR CAUSA DA MORTE DE RUSSELL SHEDD, UM PEQUENO ESTUDO
SOBRE A MORTE
Pr.
Gilson Soares dos Santos
Partiu para estar com o Senhor, nosso amado
irmão Russel Shedd, pastor e teólogo, que alcançou muitas vidas para o Reino de
Deus, edificando-as por meio da Palavra Fiel e Verdadeira. Ele faleceu no dia
26 de Novembro de 2016.
O espaço aqui poderia ser usado para expor,
de maneira fidedigna, a biografia do nosso amado irmão Shedd, no entanto, sei que
o (a) leitor (a) poderá encontrar a biografia deste servo de Deus em muitas
páginas na internet, inclusive na página da Editora Vida Nova. Sendo assim,
quero aproveitar o momento para trazer um pequeno estudo sobre a morte
Boa edificação.
UM PEQUENO ESTUDO SOBRE A MORTE
Pr.
Gilson Soares dos Santos
“Talvez
a questão mais preocupante para o homem seja o problema da morte. A realidade
da morte é um fato tão desagradável, que todas as culturas têm procurado
encontrar recursos, às vezes extremos, para ajudar o ser humano a sobreviver
além-túmulo. Com os avanços da medicina
moderna, a maioria das pessoas vive como se a morte fosse algo que só acontece com
os outros. A verdade, entretanto, é que todos morrerão. No entanto, a grande
questão é: o que acontece depois da morte?” (Ferreira e Myatt, 2008, p.
1046).
As
Escrituras Sagradas tratam da morte física, morte espiritual e morte eterna.
1 A Morte
Física
A
morte física é a separação entre corpo e alma. Ela acontece quando a alma deixa
o corpo, sendo considerado, então, o fim da existência de uma pessoa aqui na
terra. A alma é quem dá vida ao corpo, quando a alma deixa o corpo, obviamente,
o corpo morre e isto é chamado de morte física.
1.1 – A
natureza da morte física
Berkhof
(2001, p. 617) nos traz a seguinte explicação sobre a natureza da morte física:
A
Bíblia contém algumas indicações instrutivas quanto à natureza da morte física.
Fala desta de várias maneiras. Em Mt 10.28 e Lc 12.4, fala-se dela como a morte
do corpo, em distinção da morte da alma (psyche). Ali o corpo é
considerado como um organismo vivo, e a psyche é evidentemente o pneuma
do homem, o elemento espiritual que constitui o princípio da sua vida natural.
Este conceito da morte natural também está subjacente à linguagem de Pedro em 1
Pe 3.14-18. Noutras passagens é descrita como o término da psyche, isto
é, da vida animal, ou como a perda desta., Mt 2.20; Mc3.4; Lc 6.9; 14.26; Jo
12.25; 13.37, 38; At 15.26; 20.24, e outras passagens. E, finalmente, também é
descrita como separação de corpo e alma, Ec 12.7 (comp. Gn 2.7); Tg 2.26, idéia
também básica em passagens como Jo 19.30; At 7.59; Fp 1.23. Cf. também o
emprego de êxodos (“partida”) em Lc 9.31; 2 Pe 1.15, 16.
Em
vista disso tudo, pode-se dizer que, de acordo com a Escritura, a morte física
é o término da vida física pela separação de corpo e alma. [...] a morte é um
rompimento das relações naturais da vida.
Franklin Ferreira e Alan Myatt (2008, p.
1069) assim descrevem a morte física:
A
morte física é a separação entre o corpo e o espírito, ou a separação entre a
parte material e a parte imaterial. A morte física é o afastamento de aspecto
de nossa humanidade que deveriam ser inseparáveis, o que também indica que a
morte não foi o designio original de Deus para o homem, mas o resultado do
pecado.
A definição de Norman Geisler (2010, p.
683) é semelhante:
A Bíblia descreve a
morte como o momento em que a alma deixa o corpo. Por exemplo, Genesis 35.18
fala, a respeito de Raquel, que “saiu-se lhe a alma (porque morreu)”. Da mesma
maneira, Tiago ensina: “o corpo sem o espirito esta morto” (2.26). Uma vez que
a alma é o principio da vida que anima o corpo, resulta que, quando a alma deixa
o corpo, o corpo morre.
Por sua vez, Millard Erickson (1997, p. 484) dá a seguinte explicação
sobre o que é a morte física:
Mas que é a morte?
Como devemos defini-la? Várias passagens na Escritura falam da morte física, ou
seja, do cessar da vida em nosso corpo físico. Em Mateus 10.28, por exemplo,
Jesus contrasta a morte do corpo com a morte de ambos, o corpo e a alma: “Não
temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que
pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” Várias outras
passagens falam da perda da psique
(“vida”). Um exemplo é João 13.37,38: “Replicou Pedro: Senhor, por que não
posso seguir-te agora? Por ti darei a própria vida. Respondeu Jesus: Darás a
vida por mim?” Finalmente, a morte é mencionada em Eclesiastes 12.7 como uma
separação do corpo e da alma (ou espírito): “E o pó volte à terra, como o era,
e o espírito volte a Deus, que o deu”. No Novo Testamento, Tiago 2.26 também
fala da morte como uma separação entre o corpo e o espírito. Estamos lidando
nessas passagens com o cessar da vida em seu estado corpóreo com que estamos
familiarizados. Mas esse não é o fim da existência. A vida e a morte, de acordo
com a Escritura, não devem ser entendidas como existência e não existência, mas
como dois estados diferentes de existência. A morte é simplesmente uma
transição para um modo diferente de existência; não é, como costumamos
imaginar, extinção.
A
Enciclopédia Temática da Bíblia (2008, p. 240-241) nos traz a lista de textos
sobre a morte física (morte natural):
Por meio de Adão (Gn
3.19; I Co 15.21-22).
Consequência do
pecado (Gn 2.17; Rm 5.12).
Cabe a todos (Ec 8.8;
Hb 9.27).
Ordenada por Deus (Dt
32.39; Jó 14.5).
Encerra os projetos
humanos (Ec 9.10)
Despoja dos bens
terrenos (Jó 1.21; I Tm 6.7).
Iguala todas as
pessoas (Jó 3.17-19)
Derrotada por Cristo
(Rm 6.9; Ap 1.18)
Abolida por Cristo
(II Tm 1.10)
Será totalmente
destruída por Cristo (Os 13.14; I Co 15.26).
Cristo liberta do
medo da morte (Hb 2.15)
Está às portas (Jó
14.1,2; Sl 39.4,5; 90.9; I Pe 1.24).
Preparemo-nos para
ela (II Rs 20.1)
Oremos para estar
preparados para ela (Sl 39.4,13; Sl 90.12).
Sua certeza, motivo
de diligência (Ec 9.10; Jo 9.4).
Quando adiada, motivo
de mais consagração (Sl 56.12,13; 118.17; Is 38.18,20).
Enoque e Elias foram
isentos dela (Gn 5.24 com Hb 11.5; II Rs 2.11).
Todos se levantarão
dela (At 24.15).
Ela não existe no céu
(Lc 20.36; Ap 21.4).
Ilustra a mudança
produzida pela conversão (Rm 6.2; Cl 2.20).
DESCRITA COMO
Um sono (Dt 31.16; Jo
11.11).
A destruição da casa
terrena desse tabernáculo (II Co 5.1).
Abandono desse
tabernáculo (II Pe 1.14).
Deus exigindo a alma
(Lc 12.20).
Ir para o lugar sem
volta (Jó 16.22).
Reunir-se ao nosso
povo (Gn 49.33)
A
morte física, consequência do pecado, atinge a todos. Porém, veja o que o
apóstolo Paulo diz em I Coríntios 15.51,52: “Eis
que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos
todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta.
A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos
transformados.”.
2 Morte
Espiritual
Além de tratar da morte física, a Bíblia trata também da morte
espiritual. A morte espiritual é a separação entre o homem e Deus. Quando Adão
e Eva comeram do fruto proibido, tornaram-se separados de Deus, isto quer dizer
que morreram espiritualmente. Um homem, antes de sua regeneração, está morto
espiritualmente. A Bíblia chama a isto de “morto em delitos e pecados”. O homem
espiritualmente morto é incapaz de reagir a qualquer estímulo espiritual. Adão
morreu espiritualmente no dia em que desobedeceu a Deus (Gn 2.17), todo ser
humano nasce na mesma condição espiritual (Rm 5.12,14,17,21). Somente pelo novo
nascimento é que o homem sai dessa condição de morte espiritual, pois o
Espírito Santo levanta o pecador de seu estado de morte espiritual e o vivifica
(Jo 5.21; Ef 2.1-5; Cl 2.13).
Sobre
a morte espiritual, vejamos o que afirma Ferreira e Myatt (2008, p. 1069):
Essa é a primeira
forma porque foi a primeira a acontecer na história
da redenção e na vida
de cada indivíduo. Em Genesis 2.17, Deus disse que “no dia em que dela comeres,
certamente morrerás”. Adão se tornou mortal quando comeu daquela árvore, e
morreu espiritualmente naquele mesmo dia. [...] O pecado fez uma separação
entre Deus e nossos primeiros pais, e esta separação é a essência da morte espiritual.
[...] A regeneração é a cura para a morte espiritual.
Erickson (1997, p. 484) nos diz o seguinte sobre a morte espiritual:
A morte espiritual é
a separação entre a pessoa e Deus. [...] A Escritura refere-se claramente a um
estado de morte espiritual, que é uma incapacidade de reagir a questões espirituais
ou mesmo uma perda total da sensibilidade a tais estímulos. Isso é o que Paulo
tem em mente em Efésios 2.1,2: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos
delitos e pecados, nos quais andastes outrora”.
Geisler (2010, p. 105-106) escreve:
A morte espiritual é
a separação espiritual de Deus. Isaias declarou: “Mas as vossas iniquidades
fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu
rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). No instante em que Adão pecou,
ele experimentou o isolamento espiritual de Deus; isto fica evidenciado pela
vergonha que ele sentiu a ponto de se esconder do seu Criador. [...] Todo
descendente de Adão — toda pessoa nascida de pais naturais desde o tempo da Queda
— também está espiritualmente morto. [...] O novo nascimento do que Jesus
falava é o ato da regeneração, pelo qual Deus transmite a vida espiritual para
a alma do crente (1 Pe 1.23). Sem esta regeneração, todo ser humano está
espiritualmente morto nos seus pecados.
Berkhof (2001, p. 239) escreve o seguinte sobre a morte espiritual:
O pecado separa de Deus o homem, e isso quer dizer
morte, pois é só na comunhão com o Deus vivo que o homem pode viver de verdade.
No estado de morte, que resultou da entrada do pecado no mundo, levamos o fardo
da culpa do pecado, culpa que só pode ser removida pela obra redentora de Jesus
Cristo. Portanto, estamos obrigados a padecer os sofrimentos resultantes da
transgressão da lei. O homem natural carrega para onde vai o senso da sujeição
à punição. A consciência constantemente o faz lembrar-se
da sua culpa, e com frequência o temor da punição
enche o seu coração. A morte espiritual significa, não somente culpa, mas
também corrupção. O pecado é sempre uma influencia corruptora na vida, e isso é
parte da nossa morte. Por natureza somos, não somente injustos aos olhos de
Deus, mas também impuros. Esta impureza se manifesta em nossos pensamentos, em
nossas palavras e em nossas orações. É sempre ativa dentro de nós, agindo como
uma fonte envenenada a poluir as correntes da vida. E se não fosse a influencia
restringente da graça comum de Deus, tornaria a vida social inteiramente
impossível.
A
Enciclopédia Temática da Bíblia (2008, p. 240) nos traz a lista de textos sobre
a morte espiritual:
É alienação de Deus
(Ef 4.18).
A mente carnal é
morte (Rm 8.6).
Viver em erros e
pecados é morte (Ef 2.1; Cl 2.13).
Ignorância espiritual
é morte (Is 9.2; Mt 4.16; Lc 1.79; Ef 4.18).
Incredulidade é morte
(Jo 3.36; I Jo 5.12).
Viver nos prazeres é
morte (I Tm 5.6).
Hipocrisia é morte
(Ap 3.1-2).
É consequência da
queda (Rm 5.15).
É o estado natural de
todos os homens (Rm 6.13; 8.6).
Seus frutos são obras
mortas (Hb 6.1; 9.14).
Uma chamada para nos
levantarmos dela (Ef 5.14).
Escape, só por meio
de Cristo (Jo 5.24-25; Ef 2.5; I Jo 5.12).
Os santos são
ressuscitados dela (Rm 6.13).
Amor aos irmãos, uma
prova dessa ressurreição (I Jo 3.14).
Ilustrada (Ez 37.2-3;
Lc 15.24).
Compreendemos, então, que a morte espiritual é a separação entre a alma
e Deus. Faz parte da pena pelo pecado. O ser humano sofreu a morte espiritual
ao perder a comunhão com Deus.
3 Morte
eterna
A
morte eterna, também chamada na Bíblia de segunda morte, é a separação eterna
de Deus. É, na verdade, a condenação eterna. Todo aquele que não nasceu de
novo, morrerá eternamente. Todo aquele que nasceu de novo não provará da morte
eterna.
Sobre a morte eterna Ferreira e Myatt (2008, p. 1069) escrevem:
A terceira forma da
morte é a morte eterna, ou a segunda morte (Ap 2.11; 20.14), que será
experimentada pelos que não creram no evangelho. Podemos, então, dizer que a
regeneração é a cura para a morte espiritual, a ressurreição do corpo é a cura para
a morte física, mas não haverá cura para a morte eterna.
A
explicação de Berkhof (2001, p. 241) sobre a morte eterna é a seguinte:
Esta pode ser considerada como a culminância e a
consumação da morte espiritual. As restrições do presente desaparecem, e a
corrupção do pecado tem a sua obra completa. O peso total da ira de Deus desce
sobre os condenados, e isto significa morte no sentido mais terrível da
palavra. A condenação eterna deles é levada a corresponder ao estado interno
das suas ímpias almas. Há angústias de consciência e sofrimentos físicos. E “a
fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos” (Ap
14.11).
Geisler (2010, p. 105), por sua vez, dá a seguinte explicação sobre a
morte eterna:
Se Adão não tivesse
aceitado a provisão de salvação feita por Deus (Gn 3.15-24), ele teria, em
algum momento, experimentado o que a Bíblia chama de “segunda morte,” que é a
separação eterna de Deus. João escreveu sobre ela nas seguintes palavras: “E a morte
e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. E aquele
que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo” (Ap
20.14-15). Todos os que nascerem somente uma vez (fisicamente), haverão de
morrer duas vezes (física e eternamente). Contudo, todos os que nascem duas
vezes (física e espiritualmente) morrerão somente uma vez (fisicamente). Jesus
disse: “Todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá” (Jo 11.26).
Em
sua Introdução à Teologia Sistemática, Millard Erickson (1997, p. 484) diz o
seguinte sobre a morte eterna:
Quando o livro do
Apocalipse refere-se à ”segunda morte” (21.8), tem-se em vista morte eterna.
Essa segunda morte é algo separado da morte física normal e subsequente a ela.
Sabemos por Apocalipse 20.6 que os crentes não provarão a segunda morte. “Bem
aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses
a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e
de Cristo e reinarão com ele os mil anos”. A segunda morte é um período
infinito punição e separação da presença de Deus, a concretização do estado de
perdição do indivíduo que estiver espiritualmente morto no momento da morte
física.
A
Enciclopédia Temática da Bíblia (2008, p. 240) nos traz a lista de textos sobre
a morte eterna:
Consequência
necessária do pecado (Rm 6.16, 21; Rm 8.13; Tg 1.15).
É salário do pecado
(Rm 6.23).
É a porção dos ímpios
(Mt 25.41,46; Rm 1.32).
Seu caminho, descrito
(Sl 9.17; Mt 7.13).
Auto retidão, resulta
nela (Pv 14.12).
Só Deus pode
aplica-la (Mt 10.28; Tg 4.12)
DESCRITA COMO
Afastamento da
presença de Deus (II Ts 1.9).
Sociedade com o
diabo, etc. (Mt 25.41).
Um lago de fogo (Ap
19.20; 21.8).
O verme que nunca
morre (Mc 9.44).
Escuridão de fora (Mt
25.30).
Névoa de escuridão
eterna (II Pe 2.17).
Indignação, ira, etc.
(Rm 2.8-9).
É CHAMADA
Destruição (Rm 9.22; II
Ts 1.9).
Perecimento (II Pe
2.12).
Ira vindoura (I Ts
1.10).
Segunda morte (Ap
2.11).
Ressurreição para
condenação (Jo 5.29).
Ressurreição para
vergonha (Dn 12.2).
Condenação do inferno
(Mt 23.33).
Castigo eterno (Mt
25.46).
Será infligida por
Cristo (Mt 25.31,41; II Ts 1.7-8).
Cristo, o único meio
de escaparmos dela (Jo 3.16; 8.51; At 4.12).
Os santos não a
provarão (Ap 2.11; 20.6)
Diante do exposto é possível compreender que todo aquele que partir para
a eternidade sem a salvação, morrerá eternamente.
BIBLIOGRAFIA
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo:
Cultura Cristã. 2001.
Enciclopédia
Temática da Bíblia. Trad.
Eulália A. P. Kregness. São Paulo: Shedd Publicações. 2008.
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia
Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia
Sistemática: Uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual.
São Paulo: Vida Nova, 2008.
GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD. 2010.