O
CÂNON DAS SAGRADAS ESCRITURAS
Pr.
Gilson Soares dos Santos
Nosso estudo de hoje é sobre o Cânon das
Sagradas Escrituras: Antigo Testamento e Novo Testamento.
1 –
Definindo o que é o Cânon das Escrituras
O termo Cânon
vem do grego e significa, literalmente, “vara reta de medir”, assim como uma régua de carpinteiro.
No sentido religioso Cânon significa “aquilo que serve de regra ou norma”.
Por isso, chamamos de Cânon das Sagradas Escrituras a relação de livros do Antigo e do
Novo Testamento considerados como tendo sido inspirados e que podem ser aceitos
como regra de fé e prática da conduta cristã.
Diz-se dos livros da Bíblia que são canônicos
para diferençá-los dos apócrifos. O emprego do termo cânon foi
primeiramente aplicado aos livros da Bíblia por Orígenes (185-254 d.C.).
2 – O
Cânon do Antigo Testamento
Nas Bíblias Protestantes temos 39 Livros no
Antigo Testamento. Como, Quando e Por quê esses livros foram aceitos como
canônicos, ou seja, como inspirados?
O Cânon do Antigo Testamento, como o temos
atualmente, ficou completo desde o tempo de Esdras, após 445. a.C. Nessa época,
os judeus já aceitavam os 39 Livros do Antigo Testamento como sendo a Palavra
de Deus.
O Cânon do Antigo Testamento foi formado num
espaço de mais de mil anos (+ -1046 anos) - de Moisés a Esdras. Moisés escreveu
as primeiras palavras do Pentateuco por volta de 1491 a.C. Esdras entrou em
cena em 445 a.C. Esdras não foi o último escritor na formação do cânon do
Antigo Testamento; os últimos foram Neemias e Malaquias, porém, de acordo com
os escritos históricos, foi ele que, na qualidade de escriba e sacerdote,
reuniu os rolos canônicos, ficando também o cânon encerrado em seu tempo.
Na verdade, o cânon do Antigo Testamento foi
se formando com o passar dos séculos. Vejamos um resumo de como foi formado o
cânon do AT:
A LEI:
“A
piedade judaica supunha que Moisés era autor dos livros da lei, com a exceção
única de algumas poucas passagens; e também julgava que, desde o começo, seus
escritos foram respeitados como comunicações divinas. Isso nos daria uma data
bem remota para a canonização da lei, isto é, cerca de 1500 a.C.”
“A
questão da autoria mosaica do Pentateuco é importante por ter sido ele uma
grande e bem reconhecida figura espiritual, pelo que, o que ele escreveu deve
ser respeitado como divinamente inspirado: Ê nesse ponto que encontramos a
primeira comprovação de canonicidade.”
OS
PROFETAS ANTERIORES E POSTERIORES: “As evidências históricas demonstram que os
profetas anteriores encontrados em Josué, Juízes, Samuel e Reis, bem como os
profetas posteriores, como Isaías, Jeremias,
Ezequiel
e os doze profetas menores, eram considerados Escritores Sagrados pelo menos
desde 25O a 175 a.C. Naturalmente, os eruditos conservadores entendem que os
escritos dos profetas, desde perto da data de escrita de
cada um deles, foram reconhecidos como mensagens espirituais, como se desde
quase imediatamente tivessem recebido uma posição canônica.”
OS
ESCRITOS: Essa
e a terceira porção do cânon hebraico, constituída por certa variedade de
livros. Esses livros são os Salmos, Provérbios, Jó e os cinco rolos: Cântico
dos Cânticos, Rute, lamentações, Eclesiastes e Ester, cada um dos quais era
lido uma das cinco grandes festas, da páscoa à festa de Purim. Além desses, há
os livros de Daniel, Esdras, Neemias, Crônicas e Eclesiastes. Dentre esses
livros todos, o Cântico dos Cânticos e o Eclesiastes foram os últimos a serem
aceitos como canônicos. As datas marcadas pelos estudiosos liberais ficam entre
160 e 105 a.C.
OBSERVAÇÃO:
Em
90 d.C. Em Jâmnia, perto da moderna Jope, em Israel, os rabinos, num concilio sob
a presidência de Johanan Ben Zakai, reconheceram o cânon do Antigo Testamento.
Note-se porém que o trabalho desse concilio foi apenas ratificar aquilo que já
era aceito por todos os judeus através de séculos. Jâmnia, após a destruição de
Jerusalém (70 d.C.) tornou-se a sede do Sinédrio - o supremo tribunal dos
judeus.
2.1 –
O Cânon do Antigo Testamento reconhecido no Novo Testamento
As muitas citações do Antigo Testamento no
Novo mostram a estatura canônica daquela coletânea, nas mentes daqueles que
escreveram o Novo Testamento. [..] O termo «Escrituras» é frequentemente usado
no Novo Testamento, apontando para o Antigo Testamento (Ver Mat. 26:54; João
5:39; Atos 17:2.)
Além disso, temos 11 Tim, 3: 16 que
reivindica inspiração divina para esses livros; e também 11 Ped. 1:21 reflete
isso.
Jesus referiu-se à lei e ao fato de
que Moisés escreveu a Seu respeito. Aludiu aos profetas, como quem
escrevera acerca dele. De fato, começando por Moisés, passou por todos os
profetas, encontrando referências que prediziam o seu ministério (Luc. 25:27).
O trecho de Lucas 24:44 conta que quando os
discípulos relataram o diálogo que tinham tido com Jesus, a caminho da aldeia
de Emaús, eles Incluíram Moisés, os Salmos e os Profetas como aquelas porções
bíblicas que Jesus usara para mostrar-lhes o que fora previsto sobre sua
pessoa.
Admite-se universalmente que o cânon de
trinta e nove livros do Antigo Testamento hebraico era universalmente aceito
nos dias do Novo Testamento.
3 – O
Cânon do Novo Testamento
O que influenciou a igreja a formar o cânon
do Novo Testamento? Isso se deve a pelo menos duas influências. Em primeiro
lugar, os cristãos do Novo Testamento estavam familiarizados com os livros do
Antigo Testamento, já organizados canonicamente. Isso os inspirou a pensar numa
coletânea semelhante para os escritos dos apóstolos. Em segundo lugar, munidos
dos evangelho e das epístolas, já escritos e bem divulgados nas igrejas, pessoas
de responsabilidade entre os cristãos começaram a copiar tais escritos,
colecionando-os e guardando com os nomes de seus respectivos autores. Esses
escritos eram muito valorizados
Vejamos
um resumo da História do Cânon do Novo Testamento:
Durante o tempo dos apóstolos, algumas
das epístolas de Paulo e um ou mais evangelhos já eram aceitos como Escritura.
Já no começo do século II D.C., de modo geral, ainda não universal, treze
epístolas de Paulo eram recebidas como Escrituras, como também os quatro
evangelhos, as epístolas de I Joio e I Pedro, e também o livro de Apocalipse,
totalizando vinte livros ou mais. Durante o século III d.C. eram aceitos quase
universalmente todos os vinte e sete livros do N.T. No século IV d.C. chegou-se
à fixação quase universal do cânon do N. T., tal como existe hoje em
dia. Os concilio, tanto os antigos como os da Idade Média, em geral
aprovaram o cânon de vinte e sete livros, tal como os conhecemos na atualidade.
As Epístolas de Paulo. Foram os primeiros
escritos do Novo Testamento. São 13: de Romanos a Filemom. Foram escritas entre
52 e 67 d.C. Pela ordem cronológica, o primeiro livro do Novo Testamento é 1
Tessalonicenses, escrito em 52 d.C. 2 Timóteo foi escrita em 67 d.C, pouco
antes do martírio do apóstolo Paulo em Roma. Esses livros foram também os
primeiros aceitos como canônicos. Pedro chama os escritos de Paulo de
"Escrituras" - título aplicado somente à Palavra inspirada de Deus!
(2 Pe 3.15,16).
Os Atos dos Apóstolos. Escrito em 63 d.C, no
fim dos dois anos da primeira prisão de Paulo em Roma (At 28.30).
Os Evangelhos. Estes, a princípio,
foram propagados oralmente. Não havia perigo de enganos e esquecimento porque
era o Espírito Santo quem lembrava tudo e Ele é infalível (Jo 14.26). Os
Sinóticos foram escritos entre 60 a 65 d.C. Marcos, em 65. Em 1 Timóteo 5.18,
Paulo, escrevendo em 65 d.C, cita Mateus 10.10. João foi escrito em 85. Entre
Lucas e João foram escritas quase todas as epístolas. Note-se que Paulo chama
Mateus e Lucas de "Escrituras" ao citá-los em 1 Timóteo 5.18; o
original dessa citação está em Mateus 10.10 e Lucas 10.7.
As Epístolas, de Hebreus a Judas, foram escritas entre
68 e 90 d.C. Quanto à autoria de Hebreus, só Deus sabe de fato. Agostinho
(354-430 d.C), bispo de Hipona, África do Norte, afirma que seu autor é Paulo.
As igrejas orientais atribuíram-na a Paulo, mas as ocidentais, até o IV século
recusaram-se a admitir isto. A opinião ainda hoje é a favor de Paulo. Orígenes
(185-254) - o homem mais ilustre da igreja antiga, e, anterior a Agostinho -
afirma: "Quem a escreveu só Deus sabe com certeza".
O Apocalipse. Escrito em 96 d.C,
durante o reinado do imperador Domiciano. Muitos livros antes de serem
finalmente reconhecidos como canônicos foram duramente debatidos.
Antes do ano 400 d.C, todos os livros estavam
aceitos. Em 367, Atanásio, patriarca de Alexandria, publicou uma lista dos 27
livros canônicos, os mesmos que hoje possuímos; essa lista foi aceita pelo
Concilio de Hipona (África) em 393.
No III Concilio de Cartago, em 397 d.C. Nessa
ocasião, foi definitivamente reconhecido e fixado o cânon do Novo Testamento.
Este Concílio ratificou formalmente os 27 livros do Novo Testamento, que
conhecemos. Não elaborou o Cânon do Novo Testamento, mas apenas expressou o que
já era sentimento unânime das igrejas.
OBSERVAÇÃO:
Para
que um Livro fosse aceito como canônico era preciso:
1) expor com clareza e autoridade a vontade de
Cristo;
2) O nome do autor que subscrevia o
livro era de grande importância;
3) deveria ter brotado da pena de um
apóstolo ou de alguém a ele intimamente ligado, fosse evangelho, fosse
epístola;
4) A doutrina do livro devia ser
ortodoxa;
5) O livro devia ser amplamente usado
para instrução e edificação dos fieis;
6) Aos
poucos, com o uso desses critérios, os livros do Novo Testamento foram sendo
agrupados até se chegar à coletânea completa de seus 27 livros.
BIBLIOGRAFIA
PARA CONSULTA
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TOGNINI, Éneas. BENTES, João Marques. Janelas Para o Novo Testamento. São
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Revista da Escola Bíblia Dominical, Nossa Doutrina, AIECB. Nº 01, Ano 2008.