CONSIDERAÇÕES SOBRE CULTO AO AR LIVRE
Pr. Gilson Soares dos Santos
Sou daqueles pastores que acreditam no efeito positivo do "culto ao ar livre". Acredito na eficiência desse tipo de evangelização. Afinal, Jesus deu a ordem para que pregássemos o Evangelho, não definiu uma única maneira de como fazer essa pregação, estando a Bíblia recheada de exemplos de como evangelizar. Uma coisa porém é certa: se o modelo for contrário às Escrituras não é pregação do Evangelho.
O Culto ao ar livre possui base bíblica. É eficiente, desde que seja feito da maneira certa. Pois já vi e ouvi muitos cultos ao ar livre que, na verdade, eram uma forma de contra-evangelização. O culto ao ar livre não pode ser contraproducente, ao contrário, precisa ser feito com muito propriedade e qualidade em tudo.
Para aqueles que se interessam por essa forma de evangelização, recomendo que dê uma lida no texto a seguir que trata sobre o culto ao ar livre: o que é e como fazê-lo?
CONSIDERAÇÕES SOBRE O
CULTO AO AR LIVRE
Michael Green, em seu livro intitulado Evangelismo
na Igreja Primitiva, assim começa a falar da história do ar livre: “Além de
trabalhar através das sinagogas, os discípulos seguiam seu mestre pregando ao
ar livre. O livro de Atos dos Apóstolos nos dá inúmeros exemplos disto, como é
o caso de Jerusalém, Samaria, Listra e Atenas.
Em seguida, o mesmo autor nos fornece
importantes informações históricas sobre o uso da pregação ao ar livre pelos
cristãos primitivos:
1 – O “ar livre” já vinha dos judeus,
que o usavam em qualquer lugar: jardins, pátios, beira de rios e mercados.
2 – Mais tarde, Irineu tinha o costume
de pregar em mercados e a céu aberto em pequenas vilas.
3 – Cipriano chegou a correr sérios
riscos de ser preso por pregar em mercados abertos.
Na verdade, as grandes pregações de
Jesus foram feitas ao ar livre, pois não contava com um templo para fazê-las.
Basta lembrarmos das bem aventuranças, quando ele assentou-se no monte e falou
à multidão que ali se ajuntou (Mt 5.1-12).
Muitos pregadores hoje fazem certas
restrições quanto a este tipo de evangelismo. Alguns acham que é um processo de
evangelização ultrapassado e não raro com risco de cair no ridículo.
O grande evangelista Korky Davey
declarou num dos congressos de Amsterdã:
“A evangelização ao ar livre é
considerada por muitas pessoas como algo ineficaz. Se eu lhe perguntasse: ‘qual
é a ideia que você faz de um evangelista ao ar livre’?, você pintaria o retrato
de um home de pé sobre uma caixa de sabão, em uma esquina, pregando para um
poste. De fato, é o que acontece na Europa Ocidental. Por isso, quando Deus me
colocou nas ruas para pregar, tomei cuidado a esse respeito”.
Principalmente no Brasil, temos
constatado que este tipo de evangelismo é ainda uma bênção. E a razão principal
é porque as praças no Brasil estão sempre cheias de gente, principalmente nas
cidades grandes. Aliás, este é um fenômeno que não ocorre em outros países.
Ademais, outros movimentos estão usando as praças: políticos, artistas e até
grevistas. Num país de índice populacional tão grande como o nosso e onde a
grande maioria do povo depende de condução coletiva para ir ao trabalho, temos
sempre uma verdadeira enchente de gente nas ruas e nas praças. Isto não
acontece em países de nível econômico mais elevado, em que o povo não larga seu
automóvel e poucas vezes está na rua. Se chegarmos a uma praça na cidade do Rio
de Janeiro, por exemplo, na hora em que o povo está esperando o ônibus,
naquelas longas filas, poderemos alcançar milhares de pessoas de uma só vez.
Temos tido experiências marcantes com
este método de evangelismo em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro.
Algumas vezes, pessoas em situação desesperadora são alcançadas quando jamais o
seriam num evangelismo pessoal.
I – Planejamento de Culto ao Ar Livre
Muitas vezes este tipo de programa
evangelístico não dá certo por causa das improvisações. Temos que partir para a
organização e planejar bem o nosso culto ao ar livre. Nada de pegar uma Bíblia
de última hora e querer arrebanhar alguns crentes para um grupinho
insignificante ir cantar num cantinho da praça.
Eis algumas providências de
planejamento nesta área:
1.1 – Preparação da igreja pra
participar desse programa com conhecimento de causa
É necessário um trabalho de
conscientização da igreja. Ela deve acreditar no programa e envolver-se com
ele. O pastor deve pregar alguns sermões sobre o assunto.
1.2 – Formação de equipes para cada
setor
Naturalmente, a igreja deve ter um
departamento de evangelismo. O seu diretor deve promover toda essa organização.
Cada área de cuidado especial pode
exigir uma equipe própria. Nas circunstâncias modernas em nosso país, algumas
providências:
· Licença
na repartição pública própria. Geralmente o Departamento de Parques e Jardins
quer que lhe seja comunicado o evento, dependendo da importância da praça.
· Serviço
de som. Em alguns casos, a própria prefeitura dispõe de um setor para
providenciar o som.
· Algumas
praças possuem um coreto que igualmente poderá ser usado, com a devida licença
do órgão público competente.
1.3 – Escolha do local
É evidente que, dependendo do local, as
providências especiais acima mencionadas vão ser menos ou mais exigentes. Mas é
importante que se escolha o ponto de reunião previamente. A igreja deve saber
como chegar ao local, o que deve ser providenciado e anunciado.
1.4 – O programa
É necessário que seja elaborado
antecipadamente. Algumas providências devem ser tomadas e uma delas é a de quem
vai pregar. O pregador de “ar livre” precisa preparar-se tanto quanto o
pregador de púlpito. Por isso, é necessário que seja escalado ao se elaborar o
programa e, ainda, ter um substituto para o caso de uma emergência.
Do programa deve constar também a parte
musical, principalmente a participação especial. Haverá música para o povo
cantar e haverá música para conjuntos, solistas e outras participações
especiais. Tudo isto deve ser programado e tratado antes. Aliás, é aconselhável,
em ar livre, usar partes musicais especiais, em vez de escolher um pequeno
grupo para cantar, o que nem sempre dá certo. Também podem ser incluídas
poesias no programa. Trata-se de um excelente instrumento de evangelização e
que tem sido esquecido. Um bom declamador ou uma boa declamadora fará sucesso
no ar livre.
1.5 – Literatura
Sempre que possível, o tema do folheto
deve ser considerado em relação ao tipo de ouvintes que vamos ter. E então
deve-se providenciar a carimbagem dos folhetos. Isto é muito importante.
1.6 – Aconselhamento
A equipe de aconselhamento deve estar
preparada. Se a igreja dispuser de uma equipe muito grande, pode-se até mesmo
elaborar uma escala. Por outro lado, ir para a praça sem equipe de
aconselhamento é jogar frutos fora.
1.7 – O dia certo
A fixação da data não pode ser
esquecida. Mesmo que a igreja já tenha dias fixos, é sempre bom mencioná-los e
fazer a devida promoção. Ir para a praça com pouca gente porque a data entrou
em conflito com outros eventos da igreja não faz parte do bom senso. O ideal
seria as datas de ar livre irem para o calendário de atividades da igreja.
II – Aspectos físicos do culto ao ar
livre
Não parece nada, mas algumas
providências pequenas podem melhorar o padrão dos nossos cultos ao ar livre.
2.1 – Arranjo dos participantes
Os participantes do ar livre (pregador,
cantores e outros) devem se posicionar em lugar de destaque visual. Se houver
coreto, lá ficarão eles e a assistência ficará na parte mais baixa, voltada
para os participantes.
Na falta de coreto, ou de algo que
possa criar distinção física do local, a assistência formará uma meia lua e os
participantes se colocarão no meio, de tal maneira que os visitantes que forem
chegando completem o círculo. [...] É importante a visão para a eficiência da
comunicação.
2.2 – Serviço de som
Seja o som fornecido pela prefeitura,
ou instalado pela igreja ou por companhia particular, deve ser testado com
bastante antecedência. Nada existe sujeito a tanto contratempo como o serviço
de som. Na última hora, tudo pára. Numa praça, vamos depender do som. É bom que
se disponha de um ou dois microfones de reserva. Também é de bom conselho não
ficar alterando o nível do som. Um dos hábitos das pessoas que cuidam do som é
nunca parar de mexer no painel de controle.
2.3 – Placa identificativa
Algumas igrejas usam levar uma placa
montada sobre tripé, que a identifica para os frequentadores da praça. Esta
prática é útil, principalmente em logradouros que são usados por diversas
seitas. Muitas vezes sua igreja poderá ser confundida por uma seita, o que não
seria desejável.
III – Principais elementos do programa
Evidentemente, este é um programa
evangelístico, por natureza, mas, para melhor atingir seus objetivos, poderá
compor-se de partes variadas.
3.1 – Recursos audiovisuais
O culto ao ar livre deve ser atraente,
dinâmico e espiritual ao mesmo tempo. Se ele carecer de um bom nível, não vai
atrair ninguém. Há muitos recursos audiovisuais, desenhos em prancha,
fantoches, “mágicas”, e até jograis (coreografias), se bem curtos.
É curioso que até mesmo coisas próprias
para o gosto das crianças possam agradar também os adultos, como é o caso de
fantoches. Mesmo porque, atraindo as crianças numa praça, os pais virão junto e
se sentirão gratificados também.
3.2 – Músicas
Estas devem ser escolhidas de acordo
com o tem do programa geral. O responsável por esta área deve ter o cuidado de
contar com um participante eficiente. Se um cantor não tiver a voz clara,
dificilmente se comunicará bem com o público.
3.3 – A mensagem
Pede-se que a mensagem seja curta e
objetiva, transmitida no máximo em 15 minutos e apresentada com frases curtas,
simples e claras. Aqui funciona o mesmo princípio da mensagem escrita, conforme
Habacuque 2.2. Até quem passar correndo poderá gravar uma frase do pregador.
3.4 – Texto bíblico
Quem abrir o programa pode ler o texto
bíblico que será lido também pelo pregador. Bíblia nunca é demais. No entanto,
deve-s ter o cuidado de escolher textos curtos e simples, que digam, por si
mesmos, algo sobre o que se quer dizer. O pregador deverá, no decurso da
mensagem, repetir várias vezes o seu texto. Esse texto deverá ficar gravado na
mente dos ouvintes. Não é aconselhável usar um texto muito longo nos cultos ao
ar livre.
3.5 – Distribuição de literatura
Deve ser feita concomitantemente com o
apelo final da reunião. Mas se algum assistente sair antes do término, a equipe
própria deve estar preparada para entregar a essa pessoa um folheto. A
distribuição durante o culto, principalmente durante a pregação, é contra
indicada. As pessoas poderão se distrair com a leitura do folheto, em vez de
prestarem atenção ao programa. É de grande eficiência a colocação de um membro
um pouco afastado da concentração, oferecendo literatura aos assistentes que
preferem não se aproximar do pregador.
3.6 – O apelo
O apelo sempre deve ser feito, ainda
que venha a depender do tipo de ambiente. De qualquer maneira, é preciso que
seja feito em termos claros. Primeiro, deve-se convidar as pessoas a aceitarem
a Cristo como Salvador. Numa segunda oportunidade, pode-se chamar alguém que
não quer decidir-se ao lado de Cristo, mas que gostaria de receber um Novo
Testamento. É contra indicado, hoje em dia, o apelo para que se ore pelas
pessoas. Por causa de certas seitas que abusam desse recurso, cresce nas
pessoas assistentes um sentimento quase supersticioso: elas querem receber
bênçãos e favores de Deus, mas não pensam em partir para um comprometimento com
Deus. E não é isto que Jesus veio fazer. Ele veio promover, de fato, um comprometimento
com as pessoas. Portanto, devemos ter cuidado com o tipo de apelo que fazemos.
3.7 – Encerramento
No encerramento do culto, o dirigente
agradecerá a assistência e dará o endereço da igreja, assim como os horários de
culto. Se for o caso, convidará os ouvintes a seguirem o grupo e participarem
do culto da noite.
Havendo tempo disponível, o dirigente
poderá mencionar a presença de membros da equipe de aconselhamento dispostas a
ajudar pessoas desejosas de maiores esclarecimentos sobre a mensagem e sobre o
evangelho.
CONCLUSÃO
Notemos que fazer um bom culto ao ar
livre exige certos cuidados. Os tempos modernos requerem mais diligência de
nossa parte para tais programas. E se levarmos a sério este tipo de evangelismo
de massa, conseguiremos muitos frutos.
TEXTO RETIRADO DO LIVRO:
FERREIRA. Damy, Evangelismo
Total. Rio de Janeiro: JUERP. 1991. pp. 104-109.