HANS JONAS E
O PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE: UMA ÉTICA PARA A CIVILIZAÇÃO TECNOLÓGICA
Gilson Soares dos Santos
A
ética de Hans Jonas, que é a ética da responsabilidade (principalmente
resposabilidade com a natureza), traz consigo a necessidade de um sujeito
consciente que não é imediatista, não espera resultados a curto prazo. Sua
ética busca alertar para a técnica moderna que trabalha tanto sobre a natureza
não humana quanto sobre a natureza humana, porém sem refletir. Ele censura o abuso
do domínio do homem sobre a natureza causando sua destruição. Por isso sua
ética da responsabilidade vem, sobretudo, exigir que o homem contemporâneo, que
nega o objeto do saber, entenda que "quando menos acreditamos na
sabedoria, mais dela precisamos". Sua ética também conclama o homem a
perceber que os resultados que desejamos a curto prazo podem trazer os
prejuizos que chegarão a longo prazo. Por isso ele critica a ética do passado
que preocupava-se apenas com o momento. O Princípio da Responsabilidade de
Jonas é uma avaliação extremamente crítica da ciência moderna e de seu braço
armado, a tecnologia.
Hans Jonas formula sua ética da responsabilidade recorrendo ao famoso
canto do coral da Antígona, de Sófocles, e o poder do homem sobre a natureza. Porém,
o domínio que o homem exerce sobre a natureza levou-o a violar essa mesma
natureza, esquecendo-se que faz parte dela. Essa violação da natureza, no
passado não significa para o homem uma violação, pois sua civilização (seu
reino) era tão pequeno diante da grande extensão da natureza. Sua intervenção
na natureza, em tempos passados, como ele próprio a via, era muito superficial
e incapaz de prejudicar o equilíbrio natural. A interferência humana sobre esta
natureza era mínima. Isto porque o homem utilizava-se de seus recursos apenas
para extrair suas necessidades básicas, pois sua atividade era insignificante
diante da estabilidade natural. Sendo assim, a Técnica que o homem possuía não
se tornava preocupação no que diz respeito à interferência do andar natural. No
entanto, o artefato das cidades, o processo das civilizações tomou proporções
gigantescas, e aquela atitude inicial que segue uma trajetória de conquistas
infinitas torna-se uma violação perigosa. O pequeno espaço criado pelo homem
tornou-se a cidade dos homens. Para este homem, a natureza não era objeto da
responsabilidade humana, pois cuidava de si mesma e ainda cuidava do homem. A
ética tinha a ver com o momento, com o imediato, com a obra do homem, a maior
dessas obras era a cidade. O homem cria o seu artefato (a cidade) que o
caracteriza como ser social, ou seja, a capacidade de viver em sociedade lhe
atribui tal característica. Era nisso que repousava a ética tradicional,
condicionada ao agir humano.
Hans Jonas critica as éticas
tradicionais, julgando-as incompletas. Por quê? Porque o agir bem da ética
tradicional estava condicionado ao outro, no relacionamento do homem com o
homem, era o homem até então o principal objeto ético, sendo uma ética antropocêntrica.
Todas as éticas tradicionais obedeciam as seguintes premissas: A condição
humana, resultante da natureza do homem e das coisas, permanecia fundamentalmente
imutável para sempre; Baseado nesse pressuposto, podia-se determinar com
clareza e sem dificuldade o bem humano; O alcance da ação humana e de sua
conseqüente responsabilidade estava perfeitamente delimitado. E a relação do
homem com a natureza? Sendo excludente, a ética tradicional é conceituada pelo
autor como sendo incompleta. Além do mais, apresentava que o bem e o mal, com o
qual o homem tem que se preocupar, evidenciava-se na ação. A ética era bem mais
prática, sem teorias, sem refletir. O agir bem era imediatista, não havia uma
reflexão quanto ao futuro. Para que o homem soubesse se sua ação era boa ou má
era somente esperar os resultados desse contexto de curto prazo.
Jonas formula sua ética da
responsabilidade. Aponta que a visão antropocêntrica e voltada para o imediato
foi mudada drasticamente com a moderna intervenção tecnológica, que coloca a
natureza para uso humano e passível de ser alterada radicalmente. A natureza é
vulnerável, isso fica evidente no Século XX. Assim, para ele, o homem passou a
manter com a natureza uma relação de responsabilidade, pois ela se encontra sob
seu domínio. O homem detém o poder sobre a natureza, por isso deve ser
responsável sobre ela. Para que haja responsabilidade é preciso existir um
sujeito consciente.
Hans Jonas, porém alerta para que a
responsabilidade com a natureza e a preservação não estejam ligadam à ética
utilitária. Não devemos preservar a natureza com interesses utilitários. E ele
(Jonas) nos dá o exemplo de que “não matar a galinha dos ovos de ouro por causa
dos ovos de ouro, é utilitário”. Se a ética é utilitária, continua sendo
antropocêntrica. Se o interesse em preservar a natureza é interesse moral, a
orientação antropocêntrica é mantida.
A vocação humana tornou-se puramente
tecnológica. A máquina assume um papel mais significativo do que o próprio
homem. Não é mais o homo sapiens que
está em cenário, é sim o homo faber.
Assistimos a máquina assumindo as atividades humanas. Sempre e em todo lugar, o
aparato tecnológico está presente e tem peso decisivo.
A mudança tecnológica interfere em
nossos atos e o efeito não é somente para aquele momento. Pode interferir em
nossas vidas ou na vida do outro. A responsabilidade de cada ser humano para
consigo mesmo é indissociável daquela que se deve ter em relação a todos os
demais. E é preciso pensar e refletir que o uso desenfreado da tecnologia, da
máquina, que traz resultados urgentes, não vale os prejuízos que acarretarão no
futuro.
É preciso haver controle. O saber
técnico deve ser acompanhado de um saber previdente. É importante reconhecer o
ser e ter o dever. É preciso reconstruir a responsabilidade que é boa por si
mesma
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
JONAS, Hans. Princípio da responsabilidade: ensaio
de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: PUC - Rio, 2006.