ORIGENS DA FILOSOFIA
Gilson Soares dos
Santos
1 – A
filosofia como criação do gênio helênico
“A filosofia, como
termo ou conceito, é considerada pela quase totalidade dos estudiosos como
criação própria do gênio dos gregos.” (REALE & ANTISERI, 2007, p.3).
“A filosofia foi
criação do gênio helênico: não derivou aos gregos a partir de estímulos
precisos tornados das civilizações orientais; do Oriente, porém, vieram alguns
conhecimentos científicos, astronômicos e matemático-geométricos, que o grego
soube repensar e recriar em dimensão teórica, enquanto os orientais os
concebiam em sentido prevalentemente prático.” (idem).
Giovani
Reale e Dario Antiseri (2007, p. 4-5) nos dão algumas razões porque os
estudiosos atribuem o início da filosofia aos gregos, negando qualquer indício
de que ela tenha surgido no oriente:
a)
Na
época clássica, nenhum dos filósofos ou dos historiadores gregos acena
minimamente a pretensa origem oriental da filosofia.
b)
Está
historicamente demonstrado que os povos orientais, com os quais os gregos
tiveram contato, possuíam de fato uma forma de "sabedoria" feita de
convicções religiosas, mitos teológicos e "cosmogônicos", mas não uma
ciência filosófica baseada na razão pura (no logos, como dizem os
gregos)
c)
Não
temos conhecimento da utilização, por parte dos gregos, de qualquer escrito
oriental ou de traduções desses textos.
d)
Admitindo
que algumas ideias dos filósofos gregos possam ter antecedentes precisos
na sabedoria oriental (mas isso ainda precisa ser comprovado), podendo assim
dela derivar, isso não mudaria a substância da questão que estamos discutindo.
Com efeito, a partir do momento em que nasceu na Grécia, a filosofia
representou nova forma de expressão espiritual, de tal modo que, ao
acolher conteúdos que eram fruto de outras formas de vida espiritual, ela os
transformava estruturalmente, dando-lhes forma rigorosamente lógica.
2 – As
formas da vida grega que prepararam o nascimento da filosofia
O
que preparou o caminho para a filosofia foram: 1) A poesia; 2) A religião; 3)
As condições sociopolíticas.
1)
A
poesia: Sobre a contribuição para o surgimento da filosofia, assim escreve
Giovani Reale e Dario Antiseri (2007, p. 6-10):
“Antes do nascimento
da filosofia, os poetas tinham importância extraordinária na educação e na
formação espiritual do homem grego, muito mais do que tiveram entre outros
povos. O helenismo inicial buscou alimento espiritual de modo predominante nos
poemas homéricos, ou seja, na Ilíada e na Odisséia (que, conforme se sabe, exerceram
nos gregos influência análoga a que
a Bíblia exerceu entre os hebreus).”.
“Para os gregos também
foi muito importante Hesíodo com sua Teogonia, que relata o nascimento de todos
os deuses. E, como muitos deuses coincidem com partes do universo e com fenômenos
do cosmo, a teogonia torna-se também cosmogonia, ou seja, explicação
mítico-poética e fantástica da gênese do universo e dos fenômenos cósmicos.”
2)
A
religião: Quanto à religião como contribuidora para o surgimento da filosofia,
Reale e Antiseri (idem) escrevem:
“O segundo componente
ao qual e preciso fazer referência para compreender a gêneses da filosofia
grega, como já dissemos é a religião. Todavia, quando se fala de religião
grega, é necessário distinguir entre a religião
pública, que tem o seu modelo na representação dos deuses e do culto que nos
foi dada por Homero, e a religião dos
mistérios. Ambas as formas de religião são muito importantes para explicar
o nascimento da filosofia, mas - ao menos em alguns aspectos - sobretudo a
segunda.”
Religião Pública: “tudo o que acontece é explicado em função
de intervenções dos deuses. Os fenômenos naturais são promovidos por numes:
raios e relâmpagos são arremessados por Zeus do alto do Olimpo, as ondas do mar
são provocadas pelo tridente de Poseidon, o sol é levado pelo áureo carro de Apolo, e assim por diante. Mas também
a vida social dos homens, a sorte das cidades, as guerras e a paz são
imaginadas como vinculadas aos deuses.
Religião dos mistérios: “Nem todos os gregos
consideravam suficiente a religião pública e, por isso, em círculos restritos,
desenvolveram-se os "mistérios", com as próprias crenças específicas.
Entre os mistérios, porém, os que mais influíram na filosofia grega foram os
mistérios órficos (derivam seu nome do poeta Orfeu).”
“A religião órfica
considera o homem de modo dualista: como alma imortal, concebida como demônio,
que por uma culpa originaria foi condenada a viver em um corpo, entendido como
tumba e prisão. Do Orfismo deriva a moral que põe limites precisos a algumas
tendências irracionais do homem.”
3)
As
condições socioeconômicas: Sobre isto, Reale e Antiseri (idem) escrevem:
“As condições socioeconômicas,
conforme dissemos, favoreceram o nascimento da filosofia na Grécia, com suas
características peculiares. Com efeito, os gregos alcançaram certo bem-estar e
notável liberdade politica, a começar das colônias do Oriente e do Ocidente.
Além disso, desenvolveu-se forte senso de pertença à Cidade, até o ponto de
identificar o "indivíduo" com o "cidadão”, de ligar estreitamente
a ética com a polÍtica.”
Assim,
nesse ambiente particular, nasceu a filosofia.
BIBLIOGRAFIA
REALE, Giovani;
ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol. I. São Paulo. Paulus. 2007.