O MARKETING DO PÚBLICO-ALVO: ESTRATÉGIA CONTRAPRODUCENTE
PARA PLANTAR IGREJAS
Pr.
Gilson Soares dos Santos
Para se abrir um negócio, há uma série de
fatores que precisam ser considerados. Um desses fatores, o principal, é
definir o público-alvo. O marketing do público-alvo, para aqueles que estão
abrindo uma empresa, é fundamental, pois é importante se identificar a faixa etária,
o nível de renda e até o estado civil dos possíveis clientes. Isto quando se
pensa em abrir um negócio na área secular e oferecer um produto comercial.
Porém muitas denominações evangélicas têm usado a mesma estratégia para plantar
igrejas. Consideremos o assunto nas linhas a seguir.
Muitas denominações estabelecem o
público-alvo que querem alcançar: jovens profissionais dos bairros nobres,
casais de classe média alta, com alto padrão de vida. Outras têm como
público-alvo os empresários, por isso criaram cultos e reuniões direcionadas
para esse público. Afinal de contas, é preciso combinar o apelo do seu “produto”
aos interesses e necessidades da clientela. São poucas as denominações que
querem alcançar os pobres, os moradores das favelas e periferias das cidades. São
poucas que direcionam sua pregação ao sertanejo que mora na zona rural das
cidades do sertão nordestino.
Uma coisa precisa ser entendida: mesmo
aquelas denominações que têm como público-alvo apenas os pobres, e isso são
poucas, estão erradas, pois o público-alvo da pregação do Evangelho é toda
criatura e a criatura toda. As Sagradas Escrituras nos dizem que “Deus não faz acepção de pessoas.” (At
10.34). Essa afirmação do apóstolo Pedro é reiterada em diversos outros textos
da Bíblia, mostrando que o Senhor Jesus Cristo não faz acepção de pessoas. Qual
o público-alvo na Grande Comissão? Toda criatura. Todas as nações.
Para que não seja mal interpretado, não quero
dizer que não tenhamos metas. Também sei que existem períodos em que nossa
concentração evangelística é maior no alcance de um povo, todavia não devemos
ter um público seleto durante toda a vida. Talvez alguém alegue que o apóstolo
Paulo foi designado para a pregação a um grupo seleto, os gentios, conforme
encontramos em Gálatas 2.9: “e, quando
conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados
colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra da comunhão, a fim de que
nós fôssemos para os gentios, eles, para a circuncisão”. Entretanto,
corrigimos duas coisas nesta alegação: a primeira é que a igreja, representada
aqui por aqueles que eram reputados como colunas, enviou Paulo e Barnabé, em
parceria, aos gentios, porém os outros foram aos da circuncisão. Nisto fica
claro que os gentios não eram público-alvo exclusivo da igreja; a segunda é que
Paulo não somente pregou aos gentios durante toda a sua vida. Isto fica
evidente em textos como Romanos 11.13,14: “Dirijo-me
a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios,
glorifico o meu ministério, para ver se, de algum modo, posso incitar à emulação os do meu povo e salvar
alguns deles.” (grifo meu). Paulo considerava-se devedor a todos, por
isso ele diz: “Pois sou devedor tanto a
gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes; por isso, quanto está
em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma. Pois
não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de
todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego;” (Rm 1.14-16).
O problema maior do marketing do público alvo
é a adaptação do Evangelho. No propósito de atingir um grupo seleto, algumas
denominações têm transformado o Evangelho em “outro evangelho”, alegando que
estão contextualizando a mensagem. O que estão fazendo é abrir mão do genuíno
Evangelho, que “é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê”, por
outro evangelho mais “simpático” aos ouvintes.
Não acredito que exista um evangelho para os
pobres, outro para os ricos. Um evangelho para os adolescentes e jovens, outro
para os velhos. O Evangelho é o mesmo para todos. Por isso o mundo inteiro é o
público-alvo da igreja.
É possível que muitas igrejas sejam
plantadas. É fato que as denominações que trabalham com o marketing do
público-alvo estão cheias, superlotadas. Porém não há nenhuma produção em favor
do Reino, mas em prol da ambição humana, do reino do homem.