A ORAÇÃO DA FÉ E A SOBERANIA DE DEUS
Dr.
Paulo Romeiro
A soberania de Deus é a doutrina que afirma
que Deus é supremo, tanto em governo quanto em autoridade sobre todas as
coisas. Nos círculos dos "ensinos da fé", ela não é levada muito a
sério. Verbos como exigir, decretar, determinar, reivindicar
frequentemente substituem os verbos pedir,
rogar, suplicar etc. Ao comentar João 14:13, 14, que diz: "E tudo
quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no
Filho. Se me pedirdes alguma cousa em meu nome, eu o farei", Kenneth Hagin
afirma:
A palavra
"pedir" também significa "exigir". "E tudo quanto exigirdes
em Meu nome, isso [Eu, Jesus] farei". Um exemplo disto é registrado no
terceiro capítulo de Atos, quando Pedro e João estavam à Porta Formosa. Já
demonstramos que Pedro sabia que tinha algo para dar quando disse ao aleijado:
"Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou". Então
Pedro disse: "Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!" Pediu, ou
exigiu, que o homem se levantasse em nome de Jesus.
No Novo Testamento grego, o verbo
"pedir", que aparece em João 14:13, 14 é aiteo. De acordo com W. E.
Vine, aiteo sugere a atitude de um suplicante, uma petição de alguém que está
em posição menor que a daquele a quem é feita a petição, como em Mateus 7:11
(uma criança pedindo a seu pai) e Atos 12:20 (vassalos fazendo um pedido ao
rei). Este verbo aparece muitas vezes nas epístolas, como em Efésios 3:20; Colossenses
1:9, Tiago 1:5, 6; 1 João 5:14, 15. Em todas estas passagens seria impossível
substituir o verbo "pedir" por "exigir".
Outro verbo usado no grego para pedir é
erotao. Vine diz que o seu uso sugere que o suplicante está no mesmo pé de
igualdade ou familiaridade com a pessoa a quem é feito o pedido. E usado, por exemplo,
para um rei fazendo um pedido a um outro rei (Lucas 14:32). Vine continua:
...É significativo
que o Senhor Jesus nunca usou aiteo no sentido de fazer um pedido ao Pai.
"A consciência de sua igual dignidade, de sua intercessão potente e
vitoriosa, é demonstrada nisto, que sempre que Ele pede, ou declara que Ele
pedirá qualquer coisa ao Pai, sempre usa erotao, isto é, um pedido em termos de
igualdade, João 14:16; 16:26; 17:9, 15, 20; e nunca aiteo".
Em Atos 3 (citado por Hagin, acima), o
paralítico era colocado diariamente à porta do templo, chamada Formosa, para
pedir esmola. Novamente, o verbo "pedir" desta passagem no grego do
Novo Testamento é aiteo (v. 2). Estaria então o paralítico exigindo uma esmola das
pessoas? Ora, esmola não se exige, pede-se, e com muita humildade.
Em seu livro, O Direito de Desfrutar Saúde,
R. R. Soares declara:
Usar a frase "se
for a Tua vontade" em oração pode parecer espiritual, e demonstrar atitude
piedosa de quem é submisso à vontade do Senhor, mas além de não adiantar nada,
destrói a própria oração.
Qualquer pessoa que examinar com cuidado os
Evangelhos, perceberá que a tônica da vida e do ministério do Senhor Jesus era
fazer a vontade do Pai. Examine, por exemplo, João 4:34; 5:30; 6:38; 7:17.
Quando ensinou seus discípulos a orar, Jesus incluiu na oração: "Faça-se a
tua vontade, assim na terra como no céu". Será que Jesus estava errado? A conclusão
óbvia é que não. Não tenho qualquer problema em dizer, ao orar: "se for a
tua vontade", pois isto me coloca em boa companhia. Jesus orou assim no
Getsêmani: "Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice;
contudo, não seja o que eu quero, e, sim, o que tu queres" (Marcos 14:36). E novamente: "Meu Pai, se não é
possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade"
(Mateus 26:42). João escreveu ainda: "se pedirmos alguma cousa segundo a
sua vontade, ele nos ouve" (1 João 5:14).
ROMEIRO, Paulo. Super Crentes. 6 Ed. São Paulo: Mundo Cristão. 1996. p. 36-38.