MARX, O ESTADO E A POLÍTICA
Gilson Soares dos Santos
As lutas de classes sempre permearam a história da sociedade, desde
tempos remotos até os dias de hoje. A sociedade esteve, em épocas passadas,
estruturada em diversas ordens. Porém Marx vê, nessas ordens que suscitam as
lutas de classes, opressores e oprimidos. Para ele, a história em sua
totalidade desenrola-se com opressores e oprimidos.
Com a chegada da burguesia, que surge com a queda do feudalismo, a
situação permaneceu igual, ou seja, o antagonismo entre as classes continuou,
tendo como diferencial apenas o surgimento de novas classes, trazendo consigo
novos modelos de opressão, permanecendo as lutas. O antagonismo entre as
classes vai ser simplificado em dois campos inimigos, isto é, em duas classes que
se contrapõem: a burguesia e o proletariado. Por burguesia entende-se a classe
dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção e que empregam
assalariados. Por proletariado entende-se a classe dos assalariados modernos
que, por não possuírem meios de produção próprios, sujeitam-se a vender a força
de trabalho para viver.
Essa burguesia cada vez mais foi favorecida com as grandes navegações,
que lhes abriram os mercados (na Índia, China e América), pois o feudalismo e
seu modo de exploração já não atendia às necessidades dos novos mercados. A
própria manufatura tornou-se obsoleta, sendo substituída pelo vapor e a
maquinaria, que revolucionaram a produção industrial, desembocando na burguesia
moderna. Com isso, a burguesia tira de cena todas as classes herdadas da Idade
Média, assumindo um papel revolucionário.
A burguesia surge como revolucionária na história, destruindo qualquer
relação feudal, patriarcal ou idílicas. Desfazendo as “relações familiares”
transformando-as em “relações monetárias”. Nessa relação monetária, com a
necessidade de conquistar novos e mais extensos mercados para lançar seus
produtos, a burguesia projeta-se para todo o globo terrestre.
A luta de classes permanece. Nessa luta de classes, como a burguesia é a
negação (o antagonismo) do feudalismo, ela também será negada (antagonismo) por
outra classe, o proletariado. É interessante notar que a burguesia não subsiste
sem o proletariado, pois dele extrai sua força de trabalho, mas, ao mesmo
tempo, cresce alimentando em si mesma o proletariado. A luta do proletariado
com a burguesia começa com sua própria existência. As armas que serviram à
burguesia para derrubar o feudalismo agora são as mesmas que derrubarão a
burguesia. E essas armas serão agora empunhadas pelo proletariado, gerado pela
própria burguesia.
O proletariado, que no princípio lutou isolado, agora se une, sem
concorrência entre si, formando uniões organizadas, conscientes, para lutar
contra a burguesia, sendo uma classe, de fato, revolucionária.
A revolução do proletariado, cuja luta torna-se uma luta nacional, por
causa da sua forma, tem como objetivo acabar, antes de mais nada com sua
própria burguesia. Isso leva, evidentemente, a uma sociedade sem propriedade
privada, sem classes, sem divisão do trabalho, sem alienação e, sobretudo,
segundo Marx, sem Estado. A alienação política na qual o Estado se ergue acima
e contra os homens não existirá, pois o poder político se reduziria
gradualmente, até se extinguir, pois o mesmo somente serve para ser a violência
organizada de uma classe para opressão da outra.
É claro, Marx não deixa definido como uma nova sociedade surgirá com a
queda da burguesia e como ela será exatamente. Ele não é preciso em dizer como isso acontecerá,
mas deixa claro que aconteceria tudo por etapas.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich, Manifesto do
Partido Comunista. Tradução de Marco Aurélio Nogueira e Leandro Konder. Pag.
65-78. Petrópolis: Editora Vozes. 1998.