MITOLOGIA GRECO-ROMANA: CASTOR E PÓLUX
Rev.
Gilson Soares dos Santos
Se
você abrir sua Bíblia em Atos 28.11 encontrará o seguinte versículo: “Passados três meses, partimos em um navio de
Alexandria que invernara na ilha, o qual tinha por insígnia Castor e Pólux.”. Não sei se você
já se perguntou que personagens eram esses que estavam escritos na insígnia
do navio que levou o apóstolo Paulo de Malta em direção a Putéoli. Castor e Pólux eram heróis da mitologia grega.
Eram divindades astrais, irmãos gêmeos, filhos de Zeus e Leda (esposa do rei de
Esparta). Na idolatria Greco-romana eram considerados os deuses patronos dos
marinheiros. Segundo a mitologia, Posêidon lhes deu o poder sobre o vento
e as ondas. Havia um templo em Roma que
ficava próximo à Basílica Júlia, no Fórum, e era dedicado a esses “deuses”.
Não
sei se você já leu sobre o mito de Castor e Pólux. Transcrevi o mito, do Livro “As
100 melhores histórias da mitologia greco-romana”, de A. S. Franchini e Carmen
Seganfredo, da L&PM Editora. Mas lembre-se: Isso é mitologia. Tais
personagens e deuses nunca existiram de verdade, apenas fazem parte do
imaginário greco-romano.
Castor e Pólux eram irmãos gêmeos, filhos de
Leda. Embora tivessem esta peculiaridade, eram filhos de pais diferentes. O
último era filho de Júpiter e o primeiro, filho de Tíndaro, rei de Esparta e pai putativo de ambos. Pólux, sendo
filho de um deus, fora agraciado com o dom divino da imortalidade, enquanto
Castor permaneceu um simples mortal. Castor adorava cavalos, enquanto Pólux era
mais afeito às artes do atletismo. Os dois eram inseparáveis, E desde meninos estavam
sempre metidos em aventuras, exercitando sem cessar a sua força e agilidade.
Um dia, quando iam em visita a Messena,
pátria vizinha de Esparta, viram passear pelos campos duas belas jovens.
Castor, mais afoito, cutucou o ombro do irmão.
— Veja, Pólux, que lindas jovens!
Pólux, que também as estivera observando,
franziu bem os olhos:
— De fato, caro irmão, são as mais belas
moças que meus olhos já viram.
— Vamos conversar com elas.
Como iam montados em seus cavalos, logo
estavam na presença das duas moças.
Aproximaram-se tanto que a respiração dos
cavalos fazia agitar as vestes curtas e vaporosas das duas moças, que com as
mãos tentavam a todo instante evitar que elas subissem em demasia.
Uma delas, parecendo a mais decidida, encarou
os dois e perguntou:
— Quem são vocês e o que querem aqui?
— Somos Castor e Pólux, da vizinha Esparta...
— disse Castor.
— ... e estamos encantados com a beleza de
vocês — completou Pólux.
— Como você se chama? — perguntou Castor à
primeira.
— Febe é meu nome — disse ela, afastando o
cabelo dos olhos.
— E você, linda jovem? — disse Pólux à
segunda.
— Hilária — disse ela, erguendo a alça da
túnica, que se desprendera do ombro.
Com palavras amenas e sorrisos simpáticos os
dois irmãos tentaram espichar a conversa, cada vez mais encantados com as duas.
Hilária, porém, percebendo que as coisas marchavam no
rumo de um possível namoro, atalhou a
conversa.
— Os dois irão nos desculpar, mas devemos ir
embora, pois nossos noivos nos aguardam.
Sem ouvir mais nada, Hilária pegou a mão da
irmã e afastaram-se, deixando os dois ali boquiabertos.
— Ora essa, são noivas... — disse Castor,
contrariado.
— ... de dois idiotas, por certo! — completou
Pólux.
Deviam ser idiotas, raciocinaram ambos, pois
como podiam deixar que suas duas belas noivas andassem sozinhas pelos campos,
naqueles trajes curtos e provocantes? Pólux, esporeando com força seu cavalo,
saiu-lhes no encalço, até emparelhar novamente com as duas. Hilária e Febe,
contudo, desta vez não pararam.
— Que noivos são esses, que as deixam assim
soltas pelos campos?... — perguntou Castor a elas, juntando-se logo com seu
cavalo ao grupo reconstituído.
— ... e por que cometem tal temeridade? —
ajuntou Pólux.
— Eles estão muito atarefados e não podem
estar sempre ao nosso lado -disse Febe.
— Ah, já sei, são daqueles que dão mais
importância ao trabalho e aos afazeres do que às suas mulheres... — disse
Castor, com ironia.
— ... e que depois se queixam por terem sido
traídos! — disse Pólux, com um riso franco.
Hilária, sentindo o sangue subir à face,
parou de andar e virou o rosto para os dois.
— Nós somos virtuosas o bastante para saber
respeitar-lhes a ausência.
— E o resto do mundo, minha graciosa dama,
estará também disposto a respeitar-lhes a ausência?... — disse Castor.
— ... ou julgam eles, em sua inocência, que o
mundo seja tão inocente quanto eles?
— Seus noivos deveriam escolher o que é mais
importante para eles, afinal...
— Eu, no lugar deles, jamais desgrudaria os
olhos de vocês...
— Venha, Febe, vamos embora — disse Hilária,
apertando o passo com sua irmã,
confusa com a conversa picotada dos dois
irmãos ladinos.
— Ei, esperem!... — disse Pólux.
— ... sim, só queremos conversar! — completou
Castor.
Assustadas, as duas resolveram correr pela
campina, o que atiçou ainda mais o desejo dos dois irmãos, pois enquanto as
moças fugiam, o vento lhes erguia as vestes quase até a cintura.
— Vamos lá, Pólux!... — disse Castor,
disparando numa cavalgada.
— ... é pra já! — gritou Pólux, eufórico.
Montados em seus ágeis cavalos, os dois
irmãos sentiam o vento agitar os cabelos enquanto perseguiam as duas lindas
mulheres.
"Deus poderoso, o que pode haver de
melhor neste mundo?", pensavam ambos, enquanto cavalgavam velozmente. O
amor não prima muito pela razão por isso mesmo, em momento algum os dois se
perguntaram se a ação que praticavam era justa ou injusta.
— Estas garotas estão precisando de um pouco
de emoção! — gritava Castor.
— Sim, veja como fogem, embora com passo
lento! — respondia Pólux. Talvez, apenas, os cavalos fossem mais velozes. De
qualquer modo, Castor logo emparelhou com Hilária, que ofegava no esforço da
corrida. O braço forte do cavaleiro desceu até a cintura da jovem e ergueu-a
sem esforço até aconchegá-la ao seu peito. No esforço de desvencilhar-se dos
braços de seu delicado raptor, Hilária perdeu o manto. Mas Castor foi gentil o
suficiente para voltar até onde a túnica de Hilária caíra e juntá-la, sem
descer do cavalo ou abandonar a preciosa presa.
Seu irmão também já tinha na garupa de seu
cavalo a assustada Febe, que, temerosa de cair ao solo, agarrara-se à cintura
de seu seqüestrador.
— Calma, não vamos lhes fazer mal!... — disse
Castor, procurando acalmar Hilária e sua irmã.
— Que querem? Cupido nos alvejou, nada
podemos fazer! — exclamou o irmão, cujos
olhos brilhavam de prazer ao sentir o corpo
de Febe assim colado ao seu.
De repente, porém, atraídos pelos gritos,
surgiram os dois noivos das moças raptadas.
Eram Idas e Linceu, dois heróis messênios,
que, percebendo a situação, acorreram imediatamente.
— Larguem as duas, desgraçados! — gritou
Idas, possesso.
Os dois também estavam montados e logo
encostaram seus cavalos aos dos raptores, que por levarem peso dobrado cada um
não conseguiram escapar por muito tempo à perseguição.
— Nós estamos apaixonados por elas! — disse
Castor a Idas. — Como vocês não dão à beleza delas a mesma importância que nós,
resolvemos tomá-las para nós!
— Cale a boca, desgraçado! - disse Linceu.- Devolvam
já as nossas noivas ou serão mortos!
Os dois gêmeos, assim afrontados, decidiram
apear e enfrentar os seus rivais.
Logo estavam os quatro contendores descidos
dos cavalos, enquanto as duas moças fugiam numa corrida desenfreada pelos
campos.
Os dois irmãos atracaram-se numa luta corpo a
corpo com Idas e Linceu, e durante um bom tempo a luta transcorreu sem vantagem
visível de parte a parte. Idas, no entanto, vendo que não poderia vencer a
disputa, sacou de um punhal que trazia escondido à cintura e atravessou o peito
de Castor, que caiu ao solo mortalmente ferido.
— Meu irmão! — exclamou Pólux, ao ver seu
irmão tombar ensangüentado.
— Este é o preço por sua ousadia! — disse
Idas, limpando o ferro em sua túnica.
Pólux, cego de ódio, foi até o seu cavalo e,
pegando um dardo afiado, avançou para o agressor. Antes, porém, que alcançasse
o assassino de seu irmão, enterrou o dardo no peito de Linceu, que pulara à sua
frente.
— Maldito, pagará caro por isto! — disse
Idas, brandindo o seu punhal, Júpiter, porém, que a tudo assistia do alto,
enfureceu-se com a audácia daquele mortal que pretendia ferir seu filho Pólux e
disparou no mesmo instante um raio vingador, que reduziu a cinzas o furioso
Idas, bem como o cadáver prostrado de Linceu. Pólux, vendo seu irmão Castor
caído ao solo, correu em direção ao seu corpo.
— Castor morto! — exclamou, com o rosto
banhado em lágrimas. — Meu irmão, como poderei viver a partir de agora? Que
prazer terei em minhas caçadas sem a sua companhia, irmão querido?
Durante muito tempo ainda esteve curvado
sobre o corpo do irmão, até que, tomando-o em seus braços, Pólux carregou-o até
o Olimpo. Todos os deuses pararam para assistir àquela cena trágica. Pólux,
entrando no salão onde estava o trono celestial de seu pai, postou-se à sua frente,
tendo sempre nos braços o corpo do irmão morto.
— Meu pai, não poderei continuar a viver sem
a companhia de meu querido irmão! — disse Pólux a Júpiter. — Venho aqui para
pedir que lhe restitua a vida ou então que cancele a minha imortalidade,
permitindo que eu desça com ele até a morada das sombras. Lá, ao menos, continuaremos
juntos.
— Pólux, seu irmão era mortal, e seu destino
não pode ser alterado — disse Júpiter.
— Mas como poderei ser feliz aqui no Olimpo,
estando ele apartado de mim, para sempre nas profundezas do reino de Plutão?
Uma imortalidade dessas seria como a morte para mim.
Júpiter parecia inflexível, mas ao ver a dor
do filho, que em momento algum largara o corpo do irmão, resolveu reconsiderar.
— Está bem, já que deseja compartilhar do
destino dele, tenho uma solução — disse finalmente o pai dos deuses. — Já que
você insiste em não se apartar de seu irmão, farei com que ambos passem metade
do ano em meu reino, gozando da imortalidade, e na outra metade irão habitar o
reino das sombras, junto aos mortos, já que meu irmão Plutão não admitiria
perder um súdito que já é seu de direito.
Pólux, que não queria outra coisa senão estar
sempre junto de seu irmão, vibrou de alegria. No mesmo instante, Castor abriu
os olhos e os dois se abraçaram, felizes.
— Mas lembrem-se, daqui a seis meses os dois
deverão ir habitar o Hades sombrio — advertiu-os Júpiter.
— Ótimo! — exclamou Pólux. — Dividiremos
assim a morte como dividimos a vida. Castor, agradecido, abraçou-se novamente
ao irmão.