O SIGNIFICADO E FINALIDADE DA FILOSOFIA POSITIVA DE
AUGUSTO COMTE
Gilson
Soares dos Santos
Augusto Comte (1798-1857) é o autor do Curso
de Filosofia Positiva (1830-1842), publicado em seis volumes. Diferentemente de
Feuerbach e Marx, teólogos convertidos em ateus, Comte é um cientista ou
matemático. Em seu Curso de filosofia positiva apresenta a lei dos três
estados, a lei fundamental, que consiste em que cada ramo do conhecimento
passa, necessária e sucessivamente, por três estados teóricos, a saber, o
estado teológico ou fictício, o estado metafísico ou abstrato e o estado
científico ou positivo. Podemos dizer que o espírito humano emprega três tipos
de filosofias ou três métodos de filosofar. Esta lei é, em síntese, a pedra de
sustentação da filosofia de Comte. Em o Curso de filosofia positiva, Augusto
Comte visa instituir uma filosofia positiva, através de fatos observáveis na
experiência, como única da verdade.
Comte, já em sua primeira lição do Curso,
declara como chegou à lei fundamental ou lei dos três estados. Para ele, foi
estudando o desenvolvimento da inteligência humana, desde sua primeira
manifestação até seus dias que chegou à lei fundamental, que lhe pareceu bem
estabelecida, seja na base de provas racionais, seja na base de verificações
históricas, por meio dum exame do passado. Ele destaca, então, o valor da lei
dos três estados para o desenvolvimento de toda a história da humanidade. No
estágio teológico os fenômenos são vistos como “produto da ação direta e
contínua de agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos”. No estado
metafísico, os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas. No
Estado positivo o espírito humano reconhecendo a impossibilidade de obter
conhecimentos absolutos renuncia as inquietações sobre a origem e o destino do
universo.
Para Comte, o primeiro é um ponto de partida,
o segundo serve unicamente como transição, o terceiro, por sua vez, é o estado
físico e definitivo.
No estado teológico, os fenômenos são
interpretados como sendo a ação direta de agentes pessoais e sobrenaturais. O
mundo torna-se compreensível, para conhecimentos absolutos, somente por meio
da ação desses seres sobrenaturais (deuses e espíritos) cuja ação, arbitrária
segundo Comte, explica todas as anomalias do universo. Para além desses seres,
o homem não coloca nenhum problema, pois sente-se satisfeito com a crença da
intervenção do sobrenatural para a compreensão dos fenômenos em sua volta.
No estado metafísico, que para Comte é apenas
uma modificação do primeiro, os agentes sobrenaturais são substituídos por
forças abstratas, porém o propósito é o mesmo, buscar soluções absolutas para
os problemas do homem. Para Comte, no estado metafísico tais forças abstratas
seriam capazes de, por elas próprias, produzir todos os fenômenos observados,
determinando para cada um uma entidade que lhe correspondesse. O estado
metafísico está ligado ao teológico, mas se caracteriza, no entender de Comte,
pela dissolução do mesmo.
No estado positivo, o espírito humano,
reconhecendo sua impossibilidade de alcançar noções absolutas renuncia as
indagações sobre sua origem e o destino do universo e preocupa-se, unicamente,
em descobrir suas leis efetivas, suas relações de sucessão e semelhança. A
explicação dos fatos se resume na ligação que há entre os diversos fenômenos particulares
e alguns fatos gerais.
Para Comte, os estados teológico, metafísico
e positivo, aplicam-se ao desenvolvimento de toda a história da humanidade, mas
aplica-se também à vida dos indivíduos particularmente, pois na infância temos
o estado teológico, na juventude o estado metafísico e na maturidade o estado
positivo. No desenrolar da história, para passar da filosofia provisória
(teológica) para a filosofia definitiva (positiva), o espírito humano necessita
adotar a filosofia transitória (metafísica), porque o caminhar da humanidade
não podia passar bruscamente da filosofia teológica para a filosofia positiva.
A ação sobrenatural no estudo dos fenômenos foi substituída pela consideração
tão somente dos fatos.
Para Comte, entendido isto, é preciso, agora,
determinar com precisão a própria natureza da filosofia positiva. Agora que os
métodos teológicos e metafísicos não são mais empregados, nem como meios de
investigação nem como meios de argumentação, ele prossegue mostrando que o
caráter fundamental da filosofia positiva é tomar todos os fenômenos como
sujeitos a leis naturais invariáveis. Ele cita, preliminarmente, quatro
categorias principais de fenômenos naturais, a saber, astronômicos, físicos,
químicos e fisiológicos.
Para Comte, há uma lacuna essencial
concernente aos fenômenos sociais deixada pelas categorias de fenômenos
naturais (astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos), esta lacuna diz
respeito aos fenômenos sociais. Para que não sejam utilizados os fenômenos
teológicos e metafísicos, nesta ou naquela direção, a maior e mais urgente
necessidade é, então, preencher esta lacuna. É preciso fundar a física social,
é este o primeiro objetivo do curso de filosofia positiva, sua meta especial.
Para a filosofia positiva se consolidar é preciso fundar a física social.
Existirão agora cinco categorias. Todos os fenômenos observáveis entrariam numa
das cinco grandes categorias: astronômicos, físicos, químicos, fisiológicos e
sociais.
Definida a meta especial do curso, a fundação
da física social, Comte vai expor que sua pretensão não é aplicar um curso de
física social. A partir disto, ele parte para o segundo objetivo, o fim geral.
Comte parte para o segundo objetivo do curso,
um resumo do conhecimento das leis principais dos fenômenos anteriores que
influenciam de maneira direta os fatos sociais. A fundação da física social
completa o sistema das ciências naturais. Agora é preciso reunificar os saberes
científicos, apresentando-os como diversos ramos ligados a um único tronco,
evitando considerá-los isoladamente. Todos estariam ligados à filosofia
positiva.
Augusto Comte apresenta as vantagens da
filosofia positiva, dentre elas, a de fornecer o único verdadeiro meio racional
de pôr em evidência as leis do espírito humano.
Comte pretendeu em seu Curso de filosofia
seguir uma linha de raciocínio que pudesse levar ao entendimento de que somente
a filosofia positiva poderia imperar entre os homens desembocando numa
sociologia que modificasse os processos de modificação da sociedade,
facilitando a reforma das instituições.
BIBLIOGRAFIA
COMTE. Augusto, Curso de Filosofia Positiva. Pag. 4-20. Tradução: José Arthur
Giannotti São Paulo: Abril Cultural. 1978.