UM PEQUENO ESTUDO SOBRE “O QUIETISMO”
Pr.
Gilson Soares dos Santos
O Quietismo é uma doutrina que se originou na
Espanha, em 1675, com a publicação do Guia
Espiritual, de Miguel Molinos. Consiste em uma passividade absoluta diante
de Deus. A fim de conhecer melhor esta doutrina faz-se necessário buscar suas
origens, o que ela ensina, sua disseminação e como é vista por teólogos e
estudiosos.
Origem
do Quietismo
Como foi dito, o Quietismo teve início com a
publicação do Guia Espiritual de
Miguel Molinos, nascido em Zaragoza (Saragoça), na Espanha, que obteve o título
de Doutor em Teologia na Universidade de Coimbra. Seus seguidores o chamavam de
“santo”, pois aparentava uma autoridade em sua própria pessoa. Já seus
opositores o chamavam de “charlatão”.
O Guia
Espiritual e o Tratado da comunhão
cotidiana, este escrito posteriormente, eram considerados escritos
heréticos por alguns, porém, por outros, eram considerados a mais elevada doutrina
espiritual cristã.
O que
ensina o Quietismo
O Quietismo consistia em uma passividade
absoluta diante de Deus. O crente deve desaparecer, deixar morrer seu próprio
“eu” e se perder em Deus. Nenhum ativismo, seja do corpo ou do espírito, é
admitido. Toda contemplação deve ser espiritual e todos os meios físicos e
visíveis são rejeitados. O crente deve ficar quieto, nada fazer pela sua
santidade cristã porque Deus fará tudo. É um estado de perfeita quietude no
qual a alma se perde em Deus.
Sua
disseminação
As principais pessoas engajadas em disseminar
esse movimento religioso foram: Miguel Molinos, Madame Guyon e o arcebispo
Fénélon. O Quietismo foi disseminado e aceito por muitos. Molinos teve muitos
seguidores que o defendiam, mesmo contrariando o próprio ensino de “quietude”.
Até a inquisição espanhola chegou a ver com bons olhos o molinismo. Quando os
perseguidores de Molinos o acusaram perante a inquisição espanhola, eles, os
acusadores, é que foram condenados. Essa tendência mística e espiritual passou
por sobre a maior parte da Europa, sendo mais forte na Itália e Espanha.
Molinos, por apresentar piedade e mansidão, desfrutou da amizade das mais altas
autoridades da igreja e do papa Inocêncio XI. Porem, este mesmo papa o condenou
à prisão.
Assim Justo L. González descreve a prisão e
condenação de Molinos:
“Molinos
foi preso por ordem papal em 1685. Vários de seus discípulos o seguiram às
prisões da Inquisição. Quando o processo se iniciou, ele se negou a defender-se
e aceitou até as mais ridículas acusações. Seus seguidores diziam que isso se
devia ao fato de realmente praticar o quietismo que ensinava. Seus inimigos o
tinham como culpado. Quando ordenaram que se retratasse, o fez com tanta
humildade que essa mesma retratação podia se interpretar como uma afirmação de
suas doutrinas”.
Molino morreu na prisão. Gonzáles diz que “Molinos passou os onze anos restantes de sua
vida encarcerado, sempre dando mostras de continuar na contemplação que antes
propusera”.
Como
ela foi vista por teólogos e estudiosos
São fortes as controvérsias apontadas para
essa doutrina. Uns diziam que tal doutrina parecia-se mais com o misticismo
muçulmano, outros viam nela um privatismo, fazendo que a igreja perdesse
importância e autoridade. Porque, a partir do momento que o crente entra numa
inércia, esperando que Deus faça tudo, ele abre mão de sua participação em
qualquer atividade, seja religiosa, política ou social. Os que combatiam os
ensinos de Molinos afirmavam que o Quietismo levava a uma frouxidão moral.
Charles Hodge escreve o seguinte sobre o
Quietismo:
“Tal
estado deve ser alcançado pela forma prescrita pelos místicos mais antigos;
primeiro pela negação ou abstração; isto é, a abstração da alma de tudo o que
está fora de Deus, da criatura, de todo interesse, preocupação ou impressão dos
objetos sensíveis. Daí a conexão entre o misticismo, nessa forma, e o
ascetismo. Não só deve a alma tornar-se assim abstraída da criatura, mas deve
estar morta para si mesma. Deve perder todo e qualquer respeito pelo ego. Não
pode haver nenhuma oração, pois a oração é a busca de algo para o ego; nenhuma
ação de graça, pois a ação de graça implica gratidão pelo bem feito ao ego.”.
Hodge apresenta em sua Teologia Sistemática
que o Quietismo abrigava graves erros.
John Macarthur define o Quietismo como uma
oposição ao Pietismo. Assim afirma Macarthur:
“O
quietismo afirma que o cristão deve ser passivo no crescimento espiritual.
Devemos deixar que Deus faça tudo, pois nosso frágil esforço só faz atrapalhar
a ação de Deus. Devemos apenas “render-nos” ao Espírito Santo, e Ele nos dará a
vitória... O oposto do quietismo é o “pietismo”, que ensina que os crentes
devem trabalhar muito e praticar uma autodisciplina extrema para conseguirem
piedade pessoal. Devemos fazer estudos bíblicos enérgicos, ser
auto-disciplinados, obedientes, diligentes para conseguirmos vidas santas. Mas
não pára aí; adota padrões legalistas no seu modo de vestir, de comer, no seu
estilo de vida, etc.”.
Para Macarthur, tanto o Quietismo quanto o
Pietismo são posições extremadas. É preciso o equilíbrio adequado. Ele conclui:
“Muitos
quietistas e pietistas concordam em que a salvação é pela graça, por meio da
fé, mas a discordância deles é na área da santificação. Os quietistas desprezam
o esforço do crente e arriscam-se a promover a irresponsabilidade, a apatia
espiritual. Os pietistas exageram o esforço humano e tendem a provocar o
orgulho e a cair no legalismo.”.
Uma busca mais aprofundada faz-se necessária,
pois o Quietismo, naquela época, foi confundido com reavivamento religioso, à
semelhança do Misticismo, do Pietismo, do Quacrerismo, do Jansenismo, e outros.
BIBLIOGRAFIA
GONZÁLES, Justo L. História Ilustrada do Cristianismo. Vol 2. São Paulo: Vida Nova.
2011. p. 304-307.
HODGE, Charles. Teologia sistemática.
São Paulo: Hagnos, 2001, p. 63-66.