KANT E A RELIGIÃO
Gilson Soares dos Santos
Muita gente, até estudantes de filosofia, desconhece que Immanuel Kant (1724-1804) tratou sobre religião. Certamente, por desconhecerem sua obra A religião nos limites da simples razão, publicada em 1794. Porém ninguém deve imaginar que o tratado de Kant sobre religião é algo superficial, pois ele a coloca dentro da filosofia crítica. Por isso, o filósofo aborda em sua obra a metafísica, os limites da razão, Deus, imortalidade, liberdade, principalmente as figuras predominantes na religião, ou seja, o dualismo "bem e mal", entre outros.
De cara, é preciso perceber que Kant transmigra o lugar da discussão para o domínio prático da razão, de modo que tudo o que envolve a religião deve ser visto a partir da exigência prático-moral. A religião torna-se dependente da moral. A intenção de Kant é submeter a religião ao exame racional. Deus, a alma, a liberdade, o bem, o mal, o culto, a igreja, a fé, tudo deve ser tomado a partir dos recursos da simples razão. O projeto do filósofo é colocar a razão como faculdade capaz de orientar a busca, orientando a ação moral e a fé.
Kant, em sua obra, reconhece que a religião tem um efeito poderoso na formação da moral do indivíduo, bem como na coletividade. Chegou até a defender que o ensino do catecismo tivesse função moral. Porém a religião que ele apresenta e que serve para nortear-nos em todas questões é a "religião subjetivamente considerada" que é o conhecimento de todos os nossos deveres como mandamentos divinos.
Para Kant, razão e fé são cúmplices, e esta cumplicidade é necessária. A razão quer reconhecer o núcleo racional da religião. A religião deve manter-se no domínio dos limites da razão, pois, somente assim, haverá um estreitamento entre o âmbito religioso e o ético.
A Religião nos limites da simples razão é o escrito principal de Kant sobre a religião, porém, não é o único, pois, Deus sempre ocupou um lugar privilegiado na filosofia kantiana.