ANÁLISE MILITAR DO ESTADO: MEIOS OFENSIVOS E DEFENSIVOS, EM MAQUIAVEL
Gilson Soares dos Santos
Maquiavel
trata, em O Príncipe, da questão
militar do Estado. Ele
vai expor, agora, os meios ofensivos e defensivos.
1 - Os diferentes tipos de milícias e de tropas mercenárias
Para Maquiavel, os principais fundamentos do Estado são “boas leis e boas armas”. Uma não podendo existir sem a outra. Ele
mostra que para manter o Estado, o príncipe pode usar milícias próprias, milícias mercenárias, milícias auxiliares ou mistas.
As Milícias Auxiliares e Mercenárias
As Milícias Auxiliares e Mercenárias, para ele, são inúteis e
perigosas. Manter o Estado apoiado nessas forças é apenas adiar a ruína. Eis as
razões:
- São ambiciosas, indisciplinadas,
desleais, insolentes para com os amigos e covardes diante dos inimigos.
- Não têm temor a Deus nem
confiam nos homens.
- O Estado é espoliado por
elas na paz, e na guerra, pelos inimigos.
- Não nutrem amor nem
força que as conservem em campo, apenas um pequeno soldo. E isso não é
suficiente para que deem a vida pelo Estado.
- Querem muito ser
soldados quando não há guerra.
Maquiavel chega a descrever exemplos para provar que não
se deve confiar nas milícias auxiliares e mercenárias.
Tropas Auxiliares
Maquiavel, em seguida, mostra a inutilidade das tropas auxiliares enviadas por algum
poderoso.
O
Príncipe que depender dessas tropas dependerá inteiramente da sorte, porque não
terá meios confiáveis de defesa.
Eis
as razões porque não se deve confiar nas tropas auxiliares:
- Dão prejuízos quando
reclamada suas presenças.
- Se elas perdem, o
Monarca é aniquilado, se elas vencem, o Monarca fica sujeito à elas.
- São mais perigosas do
que os mercenários.
- São devotadas à quem lhes
enviou, nunca ao Monarca que nelas confiou.
Segundo
Maquiavel, os príncipes prudentes sempre repelem esse tipo de tropa.
Ele
cita vários exemplos mal-sucedidos de monarcas que fizeram usos de tropas
auxiliares.
2 - Tropas nativas
Para Maquiavel, o príncipe deve formar suas tropas
dentre os próprios nativos.
O
bom exército é aquele formado pelos próprios cidadãos, pois estes vão ser
sempre fiéis às ordens do príncipe. Diferente dos exércitos mistos e
mercenários.
Maquiavel
mostra que regulamentar o exército próprio não é uma tarefa difícil.
Para
Maquiavel, é preferível perder com o exército formado pelos próprios cidadãos a
vencer com tropas auxiliares ou mistas.
3 - Os deveres do príncipe para com suas tropas
O
príncipe, no pensar de Maquiavel, deve ter como objetivo manter a guerra, seu regulamento e sua
disciplina. Para
ele, a única arte que se espera de quem comanda é manter a guerra. Sendo assim, o príncipe que se preocupa mais com o luxo do que com a guerra, certamente
perderá o Estado.
O
príncipe prudente deve sempre estar treinando o seu exército para a guerra. Um
príncipe que treina o seu exército para a guerra, acontecendo qualquer
imprevisto, resistira sempre aos golpes dos seus inimigos. O
príncipe, portanto, deve sempre se preocupar com a arte da guerra, mesmo em tempos de paz.
Principalmente em tempos de paz.
O
príncipe deve agir da seguinte maneira com suas tropas:
- Conservar os soldados
sob disciplina;
- Conservar os soldados
sob exercício constante;
- Deve fazer grandes
caçadas, acostumando seus corpos aos desconfortos da vida em campanha;
- No exercício os soldados
tanto reconhecem o próprio país quanto saberá agirá em qualquer outro novo
lugar;
- Ao conhecer a geografia
de uma província chega-se facilmente ao conhecimento de outra;
Para Maquiavel, um
príncipe sábio deve observar essas coisas e jamais permanecer ociosos nos
tempos de paz.